segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Defesa Civil afasta risco de desabamento mas interdita museu

A Defesa Civil municipal informou que o prédio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Zona Norte do Rio, seguirá interditado. Segundo o órgão, durante uma nova vistoria no local, na manhã desta segunda-feira, técnicos verificaram que, internamente, existe um "grande risco" de desabamento. Podem ruir trechos remanescentes de laje, parte do telhado e paredes divisórias do prédio. O risco de desabamento da fachada foi descartado devido à sua espessura. Uma nova avaliação do prédio deve ser feita à tarde.


— A fachada por inteiro nós não verificamos indícios de risco estrutural de colapsar. Existe, sim, em função de trincas que ocorreram na fachada e do revestimento, é possível a queda de partes dos revestimentos, de fragmentos dos adornos, dos beirais e da própria esquadria das janelas que estão danificadas devido ao incêndio — disse o coordenador da Defesa Civil do Rio, Luiz André Moreira, em entrevista ao RJTV.

De acordo com a Defesa Civil, por causa do risco de queda de revestimento, adornos e materiais decorativos, como as estátuas, a estrutura também está isolada.

Moreira afirmou que o próximo passo para a Defesa Civil será aguardar que a administração do Museu Nacional contrate uma empresa especializada para fazer a retirada dos riscos internos da construção.

- Esperamos que essa empresa faça a eliminação dos riscos internos que possa viabilizar com segurança a entrada de pessoas que possam retirar os escombros. Estes escombros não serão simplesmente descartados. Ele deve ser retirado para um local externo, para que seja feita uma varredura nele, uma peneiração, para ver se tem algum documento, alguma obra, algum elemento que possa ser conservado.

De acordo com o coordenador, será feita a desinterdição do prédio para que a empresa a ser contratada pelo museu possa fazer as obras necessárias.

- Vamos manter interditado. Tem segurança particular para manter isso. O risco aqui está controlado, só internamente, ou na queda de algum elemento na fachada.

Moreira afirma que nunca viu nenhum incêndio parecido em toda a sua carreira.

- Tivemos situações aqui no Centro da cidade com imóveis similares, como sobrados antigos que tem essa peculiaridade de construção de pisos de madeira. Mas nada parecido com isso, até por conta da perda histórica, cultural e científica que isso representou. Nada deste porte.

O incêndio no prédio do museu começou na noite deste domingo e foi controlado durante a madrugada. Depois, os bombeiros iniciaram um trabalho de rescaldo. As causas do fogo serão apontadas pela perícia.

PROBLEMAS ATRAPALHARAM O COMBATE ÀS CHAMAS

O início do trabalho dos bombeiros foi dificultado no início. O comandante-geral da corporação, Roberto Robadey, afirmou que os dois hidrantes localizados na área do museu não tinham pressão suficiente. A corporação chegou a pedir a ajuda da Cedae para desviar água até a região, o que não foi alcançado, segundo Robadey. Caminhões-pipa foram então enviados pela companhia para combater o fogo.

— As primeiras equipes chegaram aqui com carros suficientes para o primeiro combate. Mas, infelizmente, perdemos de 30 a 40 minutos de trabalho por causa desse problema com os dois hidrantes — disse Robadey.

Ainda de acordo com o comandante, o prédio não tinha um sistema adequado de prevenção a incêndios, já que ele foi concebido há 200 anos, muito antes da lei que trata sobre a segurança contra incêndios no Estado do Rio, de 1976. O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, também comentou sobre o assunto. 

Segundo ele, melhorias de infraestrutura precisariam ser feitas e viriam após ajuda financeira do BNDES. Leher conta que a primeira parcela seria de R$ 21 milhões.

— Grande parte desse investimento estava destinado justamente a um sistema de prevenção de incêndios, que seria uma mudança muito robusta - conta Leher.
Essa intenção da UFRJ foi confirmada pelos bombeiros após o incêndio.

— Tenho informes de que, há cerca de um mês, a organização do museu esteve em contato com a nossa equipe que cuida dessa área dizendo ter os recursos e também o interesse em se regularizar junto aos Bombeiros — assinala Robadey.

CLIMA DE MOBILIZAÇÃO E TRISTEZA

Durante toda a noite, equipes do Centro de Operações Rio (COR), da Defesa Civil, da Guarda Municipal, da CetRio, Comlurb e Rio Luz, além do Corpo de Bombeiros, atuaram no local. Funcionários do museu, professores e admiradores da instituição se reuniram na frente do museu. Eles tentaram salvar o acervo, retirando parte do material lá de dentro, e lamentaram a perda histórica irreparável.

— É muito triste. Moro aqui perto e quando soube do incêndio resolvi vir para cá, não tava acreditando em tudo isso. Olhando daqui, vendo o fogo devastando o prédio, me sinto dentro de um filme de terror — disse a professora Clara Alves, de 52 anos, que esteve no local na noite deste domingo.

A reitoria da UFRJ e a direção do Museu Nacional vão, após o incêndio deste domingo, reavaliar o que realmente foi perdido e tentar recuperar o que pode ser salvo. De acordo com o diretor do museu, Alexander Kellner, as instituições já estão conversando para definir quais iniciativas de trabalho serão utilizadas. Uma reunião com o ministro da Educação, Rossiele Soares, está marcada para esta segunda.

— Não temos ainda como avaliar com exatidão quanto do material foi perdido. É preciso que entendam que o Brasil hoje está de luto e a gravidade do episódio, o sentimento dentro da gente. O incêndio afeta todo mundo, não só a instituição — pontuou Kellner.

Em nota, o ministro já havia afirmado que não serão medidos esforços para auxiliar a UFRJ a recuperar o patrimônio atingido. “O Ministério da Educação lamenta o trágico incêndio ocorrido neste domingo no Museu Nacional, que completa 200 anos neste ano. O MEC não medirá esforços para auxiliar a UFRJ no que for necessário para a recuperação desse nosso patrimônio histórico", diz o texto.

No momento em que as chamas começaram a se alastrar, havia quatro vigilantes no prédio, que, segundo os militares, não ficaram feridos. O prédio foi residência da família real entre os anos de 1816 e 1821. Os três andares do palácio abrigam um acervo de 20 milhões de itens, incluindo documentos da época do Império; fósseis; coleções de minerais; e a maior coleção egípcia da América Latina. É a instituição científica e o museu mais antigo do Brasil, tendo em maio último completado 200 anos.




818
1863
1889
1892
1927
É criada a Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional
É criada a Biblioteca Central
O museu é transferido do Campo de Sant'Anna para o Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boavista
No dia 6 de junho, dom João VI cria por decreto o Museu Real
O Paço de São Cristóvão abriga a Primeira Assembleia Constituinte da República
1937
1946
2018
A Fundação da Sociedade dos Amigos do Museu Nacional (atual Associação dos Amigos do Museu Nacional) é criada
O museu é incorporado à Universidade do Brasil (atual UFRJ)
Museu Nacional completa 200 anos
20 milhões
6.500.000
11.417 m2
LOCAL DO INCÊNDIO
Peças no acervo
Área construída do palácio
Exemplares nas coleções zoológicas
MUSEU NACIONAL
Rio Zoo
Jardim
Zoológico
21 mil m2
26.160
537 mil
Área do terreno do palácio
Fósseis nas coleções paleontológicas
Títulos na biblioteca
QUINTA DA
BOA VISTA
1481
130 mil
3.500 m2
Ano da obra mais antiga da biblioteca central
Área de exposição atual
Itens nas coleções antropológicas
MARACANÃ
15.672
550 mil
150 mil
N
Amostras nas coleções geológicas
Exemplares de plantas dissecadas do herbário
Visitantes por ano
TESOUROS EM UM
PRÉDIO IMPERIAL
Paleontologia
Arqueologia Pré-colombiana
Arqueologia brasileira
*O 3º pavimento abriga
o setor administrativo
Móveis da monarquia
Etnologia
2º PAVIMENTO
Culturas do Mediterrâneo
Evolução do Homem
Preguiça gigante (Megafauna)
Aves do Museu Nacional
Os Karajás
Egito Antigo
Oratório e Sala da Imperatriz
Luzia, caçadores e coletores
Kumbukumbu - África, memória e patrimônio
Horticultores ceramistas
Culturas do Pacífico
Sala dos Diplomatas
1º PAVIMENTO
A (R)evolução da plantas
Auditório
Roquette
Pinto
Meteorítica
Um Tiranossauro no Museu
O Globo