A menos de quatro meses das eleições, o país continua entregue à perplexidade e ao desalento, diante da indefinição da disputa presidencial e do risco de desfechos infaustos. Em nenhuma outra unidade da Federação, contudo, o clima de apreensão se aproxima do que hoje se vive no Estado do Rio de Janeiro.
As proporções do desastre que vem sendo enfrentado pela população fluminense, já há vários anos, são mais do que conhecidas. Finanças públicas arruinadas, níveis alarmantes de corrupção, colapso de serviços públicos e gravíssima crise de segurança que, não obstante a ruidosa intervenção federal anunciada em fevereiro, continua a empurrar o estado para um quadro de escancarada anomia.
O mais desalentador, no entanto, vinha sendo a falta de perspectiva de superação dessas dificuldades, tendo em vista o grau de esfacelamento que hoje se observa no quadro partidário do Rio de Janeiro. A começar pelo outrora todo-poderoso MDB, cujas principais lideranças no estado estão hoje atrás das grades. Não era de se espantar que, em meio a tamanha devastação política, não tivesse ainda surgido candidato a governador à altura do gigantesco desafio de reconstrução que o estado tem pela frente.
No fim de semana passada, contudo, surgiu a notícia alvissareira do lançamento, pelo Partido Novo, da candidatura de Marcelo Trindade a governador do Rio de Janeiro. Trata-se de advogado de 53 anos, de renome nacional, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários durante o primeiro governo Lula, com longa carreira docente no Departamento de Direito da PUC-Rio e intenso envolvimento no debate sobre a crise que hoje enfrenta o estado. Um candidato excelente, sob todos os aspectos.
Por ter sido lançado só agora, e pelo Novo, um partido que, por enquanto, só elegeu quatro vereadores em todo o país, é natural que possa haver ceticismo sobre o desempenho que o candidato poderá vir a ter numa eleição majoritária, num estado da importância do Rio de Janeiro.
Quando se leva em conta, no entanto, a decomposição do quadro partidário no estado, o grau de apreensão da população com os desdobramentos da avassaladora crise que vem enfrentando e o sentimento disseminado de repugnância do eleitorado por boa parte dos políticos incumbentes, as perspectivas da candidatura de Marcelo Trindade se afiguram bem mais promissoras do que aparentam ser à primeira vista.
Será um erro se a candidatura de Marcelo Trindade for usada só para marcar posição e tornar o Novo um partido mais conhecido. O foco da sua campanha não pode ser o típico eleitor potencial do Novo. O objetivo deve ser bem mais ambicioso: assegurar a chegada de Marcelo Trindade ao segundo turno e sua vitória na eleição.
O Novo terá de controlar seus tiques. É fundamental que a campanha seja capaz de assegurar a formação de uma ampla coalizão “suprapartidária”, não de partidos, mas de eleitores provenientes da esquerda à direita do espectro político, irmanados na percepção de que, em meio à crise que enfrenta o Estado, é o momento de botar de lado diferenças ideológicas e eleger um governador à altura dos enormes desafios que terão de ser enfrentados.
Não é hora de cair na tentação de reforçar muralhas que realcem as peculiaridades do Novo e o apartem dos demais partidos, mas de baixar as barreiras ideológicas e deixar que eleitores das mais diversas convicções generosamente abracem a candidatura de Marcelo Trindade.
Importa menos o que o candidato pensa sobre os papéis que devem ser reservados ao mercado e ao governo do que sua seriedade, sua estatura, seu preparo e sua capacidade para conduzir o estado na difícil travessia dos próximos anos.
Em meio ao atoleiro em que foi metido, o Rio de Janeiro pode se revelar um ambiente especialmente propício para que as redes sociais desempenhem um papel decisivo nas próximas eleições. É hora de mobilizar as pessoas de bem no estado.
Muito tarde para isso? Talvez. Mas não custa tentar. O Rio merece.
Não deixe de ver o vídeo: www.facebook.com/NOVO30/videos/1762542450451903
Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio
O Globo