quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

"Trapalhadas com Orçamento precipitaram rebaixamento da nota de crédito do país", por Guilherme Patu

Folha de São Paulo


novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil não apenas era esperado como, na prática, já estava em curso no mercado.
Afinal, não pode ser considerado investimento seguro emprestar a um governo cuja dívida cresce enquanto a arrecadação de impostos cai -e cuja presidente não consegue, quando tenta, interromper o processo.
A dívida pública brasileira, a caminho de se tornar equivalente a 70% da renda nacional, é a maior e a mais cara entre os países emergentes.
Com uma taxa de juros quase 7% acima da inflação anual esperada, e a economia encolhendo, não é preciso muito conhecimento matemático para notar que a conta não fecha.
Seria necessário que o governo poupasse parte de suas receitas para o abatimento de sua dívida. Mas Dilma Rousseff não tem apoio nem de seu partido para aprovar no Congresso medidas para elevar a arrecadação e conter as despesas mais importantes.
Para precipitar a queda da nota de crédito do Brasil, faltava apenas uma formalidade: o reconhecimento oficial, no Orçamento de 2016, de que essa poupança não será feita.
Foi assim em setembro, quando a Standard & Poor’s rebaixou a dívida brasileira depois que o Executivo elaborou uma proposta orçamentária com deficit.
Foi assim agora, com a Fitch, depois que o Palácio do Planalto desistiu publicamente de se comprometer com um superavit equivalente a 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção e da renda do país) -que já seria insuficiente.
“As repetidas mudanças nas metas fiscais minaram a credibilidade da política fiscal”, como diz, até diplomaticamente, a nota da agência.
Ninguém acreditava mesmo que tal meta poderia ser cumprida. Esperam-se deficits de 1,3% do PIB neste ano e de 0,9% no próximo.
Mas, quando o governo faz a entrega oficial dos pontos, com direito a apostas na queda do ministro da Fazenda, não há mais como sustentar o benefício da dúvida.