O passado não condena: por quarenta segundos a mais de
propaganda eleitoral, Dilma estendeu a mão ao PTB do senador Fernando Collor
(Foto: Joel Rodrigues/Folhapress)
Uma pesquisa mostra que o potencial eleitoral do ex-presidente é, tecnicamente, quase igual ao de Dilma. Isso explica por que o movimento “Volta, Lula” morreu e por que Dilma aceita apoio até de tipos como Collor
Reportagem de Daniel
Pereira publicada em edição impressa de VEJA
Recentemente, elas mostraram queda nas intenções de voto na candidata à reeleição, crescimento dos dois principais rivais oposicionistas e aumento da chance de a disputa ser decidida em segundo turno.
Dilma vivia acuada pelos números. Eram eles que alimentavam os conspiradores do “Volta, Lula”.
Eram eles também que levavam os partidos a adiar o anúncio de apoio à reeleição. O mais recente levantamento do Ibope estancou essa sangria e serviu de alento à presidente.
O instituto confirmou a ascensão do senador Aécio Neves (PSDB) e do ex-governador Eduardo Campos (PSB) – que subiram para 20% e 11%, respectivamente – e a possibilidade crescente de segundo turno. Mas, ao sair a campo logo depois da propaganda partidária do PT, detectou que Dilma não só parou de cair como passou de 37% para 40% nas intenções de voto.
Os assessores presidenciais festejaram ainda o fato de o ex-presidente Lula não ter tido um desempenho muito melhor que o de Dilma. Contra os mesmos adversários, ele amealhou 7 pontos porcentuais a mais do que a sucessora. Essa situação tenderia a calar de vez os defensores de uma nova candidatura do petista.
O SEGREDO: para Lula (na foto, com o deputado Jader
Barbalho, objeto de vários processos na Justiça e que já foi até preso e
algemado pela Polícia Federal), constrangimento é sentimento menor: “Esquece,
sai na urina” (Foto: Carlos Silva/Imapress)
Tanto o Ibope como o mais recente Datafolha, o primeiro instituto a registrar que Dilma parara de cair, deram à presidente um pouco de fôlego na corrida eleitoral. Mas nem de longe desenharam um cenário róseo para ela.
Dilma ainda mantém o maior índice de rejeição e o menor potencial de crescimento, na comparação com Aécio Neves e Eduardo Campos.
É por isso que ela aposta todas as fichas para montar a maior coligação eleitoral desde a redemocratização e, assim, conquistar o maior tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV. A meta é assegurar à presidente o dobro do tempo reservado aos oponentes, custe o que custar. E o custo, como se sabe, não tem sido baixo.
Dilma abandonou o figurino da faxineira ética, deixou de lado a aversão a convescotes com políticos e passou a se dedicar gostosamente ao flerte com figuras notórias da República. Ela já recebeu o apoio do PTB, do deputado cassado e mensaleiro preso Roberto Jefferson, num almoço realizado na sede do partido. Estavam à mesa, entre outros, os senadores Fernando Collor de Mello e Gim Argello.
Collor teve o mandato presidencial cassado depois de uma CPI capitaneada pelo PT, à época na oposição e adversário aguerrido da corrupção.
Já Argello foi indicado recentemente por Dilma para o Tribunal de Contas da União, mas não assumiu o cargo porque os próprios ministros do TCU, cientes de sua fama no trato com a coisa pública, avisaram que não dariam posse a ele.
Dilma indicou Argello a pedido do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Foi uma espécie de pagamento à vista. Em troca, ela esperava que Renan dificultasse a instalação da CPI da Petrobras e, quando isso ocorresse, a mantivesse sob rigoroso controle do governo. Dito e feito. Para garantir o apoio do PMDB à reeleição, Dilma e Lula têm feito concessões a caciques do partido.
Se depender dos dois, o PT trabalhará pelas candidaturas do deputado Renan Filho e de Helder Barbalho aos governos de Alagoas e do Pará. Helder é filho do deputado Jáder Barbalho, que já foi preso sob a acusação de desviar recursos públicos. Os petistas apoiarão Helder porque foram enquadrados pessoalmente por Lula.
Dilma também negocia com o senador Alfredo Nascimento, que foi demitido por ela do cargo de ministro dos Transportes, em 2011. A presidente quer o apoio do PR, presidido por Nascimento e comandado, na prática, pelo mensaleiro preso Valdemar Costa Neto.
Quando estouravam denúncias contra seu governo, Lula dizia:
– Esquece, sai na urina.
Com a reeleição ameaçada, Dilma parece ter aprendido essa lição.