segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Petrobras investe R$ 99 bi em 2013, mas não condiz com o rendimento da empresa

Recorde: Petrobras investe R$ 99 bi em 2013


 Marina Dutra - Contas Abertas
Petrobras

Os investimentos do Grupo Petrobras, formado por 21 empresas da área petrolífera, bateram recorde em 2013 e chegaram a casa dos R$ 99 bilhões. O crescimento de 9% em relação ao aplicado pelo grupo no ano passado – R$ 91 bilhões (valores constantes), entretanto, não condiz com o rendimento da empresa no ano passado. A produção de petróleo da Petrobrás em território brasileiro alcançou 1,931 milhão de barris por dia em 2013, volume 2,5% inferior aos números alcançados em 2012.

Veja tabela

A Petrobras atribui a retração dos números em 2013 a uma combinação de fatores: o atraso na entrada em operação do campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos; o atraso na chegada ao Brasil e dificuldades de instalação de equipamentos denominados BSRs – Boias de Sustentação de Risers, que permitiriam a interligação de novos poços nos campos de Sapinhoá e Lula NE, na Bacia de Santos; e o atraso no início da produção das plataformas P-55 e P-58, no campo de Roncador e no Parque das Baleias, entre outros fatores.

Por outro lado, o aumento dos investimentos é explicado com “consequência do desenvolvimento dos projetos no segmento de exploração e produção, principalmente no desenvolvimento da produção, envolvendo a construção de diversas plataformas”. De acordo com a Petrobras, seis plataformas foram concluídas em 2013.

A estatal também considera que a continuidade dos investimentos para modernização e ampliação do parque de refino contribuiu para o aumento. “Neste segmento, além da construção de duas novas refinarias (Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) foram realizadas obras de ampliação e modernização nas unidades de refino existentes”, conclui.

De fato, dos R$ 9 bilhões orçados em 2013 para a implantação da Refinaria Abreu e Lima, em Recife (PE), R$ 8,9 bilhões foram aplicados. Os R$ 7,7 bilhões liberados para a a implantação de refinaria no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) também foram bem executados – R$ 7,6 bilhões chegaram a ser investidos.

Outras ações relativas ao Comperj, no entanto, não conseguiram receber o total previsto no orçamento de investimento da estatal. Dos R$ 633,4 mil orçados para a construção de Unidades de Produção de Petroquímicos de 1ª e 2ª geração, apenas R$ 374,4 mil foram investidos. Para a implantação de infraestrutura logística dutoviária para atendimento ao Comperj foram aplicados R$ 30,2 mil, dos R$ 36,2 mil liberados.

As obras de implantação de gasoduto de escoamento de gás natural do Pré-Sal para processamento no complexo também não receberam a totalidade dos recursos previstos. Dos R$ 56,6 mil dotados, apenas R$ 20,2 mil foram aplicados na iniciativa.

Maiores investimentos

A ação responsável pela exploração de petróleo e gás natural em bacias sedimentares marítimas recebeu R$ 16,2 bilhões em investimentos. No Brasil, as bacias sedimentares marginais, localizadas no litoral e na plataforma continental, são as que possuem condições mais favoráveis à ocorrência do petróleo e do gás natural, segundo estudo publicado na Revista Brasileira de Geofísica.

Nas iniciativas de manutenção e desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural nas bacias de Campos e do Espírito Santo foram investidos R$ 14,4 bilhões. A Bacia de Campos é a bacia petrolífera que mais produz na margem continental brasileira, respondendo atualmente por mais de 80% da produção nacional de petróleo, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).

Situação financeira

Em entrevista ao Contas Abertas, o especialista em finanças e professor de administração pública da Universidade de Brasília, José Matias-Pereira, afirmou que os investimentos da Petrobras estão impulsionados pelas descobertas de novos campos. “No planejamento estratégico da empresa o aumento de investimentos é consequência direta do crescimento de atuação da própria empresa e do aumento de produção”, explica.

Para o professor, no entanto, diante do atual contexto da Petrobras, os investimentos ainda estão abaixo do que seria necessário. “Por isso, a necessidade de chamar a atenção para como a empresa tem sido usada como instrumento de política econômica, principalmente no controle da inflação. Isso só poderia levá-la ao estrangulamento financeiro”, ressalta Matias.

De acordo com o professor, hoje, mesmo com volume recorde de investimentos, a Petrobras é uma empresa que se encontra em situação de risco, e é assim que ela tem sido avaliada pelo mercado. “Não há outra saída para a empresa senão deixar de ser usada como arma para conter a inflação. Uma empresa do tamanho da Petrobras não pode ser destruída e, em razão disso, deve ser maior do que o governo que a conduz”, explica.

Segundo o especialista a forma como a Petrobras tem sido gerenciada não só é inconsequente, mas, também, caracteriza postura temerária dos governos dentro de contexto sem isenção. “Um ajuste fiscal nos gastos da administração seria muito mais útil para a política econômica do país do que as manobras perigosas que estão sendo feitas com a maior estatal brasileira”, conclui.

Entre 2011 e 2013, a relação entre o endividamento e o patrimônio da Petrobras mais que dobrou, saltando de 17% para 36%. O montante somava, no terceiro trimestre do último ano, R$ 250,8 bilhões. A situação levou a agência de risco Moody’s a rebaixar o rating da empresa, saindo de “A3″ para “Baa1″, ainda dentro da escala considerada como “grau de investimento”.

Terceirização de refinarias

Com o objetivo de tornar economicamente viáveis os projetos das duas refinarias Premium no Nordeste, orçadas inicialmente em mais de US$ 30 bilhões, a Petrobras deve terceirizar parte da infraestrutura associada às duas unidades, antes a cargo da estatal. A estratégia deve salvar alguns bilhões de investimento no curto prazo, mas também representará menos receita futura, segundo fontes que acompanham o projeto.

A confirmação de construção das refinarias é aguardada com ansiedade pelos governos de Maranhão (Premium 1) e Ceará (Premium 2), por seus investimentos bilionários. As obras foram anunciadas durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e chegaram a ter cerimônia de lançamento.
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