Sarah Maslin NirNova York (EUA)
Com preços de café amigáveis em tempos de recessão, mesas cheias e banheiros disponíveis, as lanchonetes do McDonald's por todo o país, e até mesmo por todo o mundo, foram adotadas por um grupo de consumidores mais econômicos como uma cafeteria popular, uma espécie de Starbucks dos Comuns.
Atrás dos arcos dourados, idosos em busca de companhia e conversa, crianças postergando a lição de casa e desabrigados fugindo do frio transformaram as mesas num lugar de excelência para o tipo socialização casual que antes acontecia nos bancos dos parques ou nos degraus na frente das casas.
Mas os clientes também trouxeram a ética das cafeterias, onde normalmente comprar um único item equivale a uma permissão para acampar com um laptop. Cada vez mais, eles parecem demorar ao beber seus McCafe Lattes, às vezes gastando muito tempo mas pouco dinheiro nas lanchonetes da rede, que ganharam notoriedade num modelo de negócio bem diferente: a comida que é sempre rápida.
E assim os gerentes das lanchonetes e donos de franquias costumam se frustrar com seus clientes mais fieis. Esses clientes regulares prejudicam os negócios, dizem alguns, e deixam pouco espaço para outros clientes.
Às vezes, as tensões podem eclodir.
Trabalhadores de redes de fast food dos Estados Unidos reivindicam aumento do salário para $15 por hora. O piso atual definido pelo governo norte-americano é de $7,25 por hora Leia mais Spencer Platt/AFP
No mês passado, essas tensões entraram em ebulição em Nova York. Quando a gerência do McDonald's em Flushing, Queens, chamou a polícia por causa de um grupo de idosos coreanos, provocando indignação contra o que foi visto como uma atitude rude da companhia, pedidos de boicote mundial e uma trégua mediada por um político local, a situação se tornou um exemplo famoso da disputa que acontece diariamente nas lanchonetes do McDonald's na cidade e em outros lugares.
Será que o cliente está sempre certo, mesmo os avarentos que se abrigam na lanchonete?
A resposta parece ser sim entre aqueles que se sentam eternamente nas mesas.
Quando os amigos de Mike Black estão procurando por ele, sabem que devem checar no McDonald's da avenida Utica no Brooklyn, diz ele. É onde Black, de seus 50 e poucos anos, passa horas apagando e-mails inúteis.
"Eu não como fast food", diz ele, argumentando que o único café que consome dá a ele o direito a todo o tempo de lazer de que precisa. "Eu venho aqui apenas para me distrair e resolver meus e-mails."
Poucos quilômetros dali, em outro McDonald's, um grupo usando chapéus conversa animadamente todos os dias. "Velhos clientes, nós frequentamos aqui há anos; crescemos no bairro", diz Jerry Walters, 70, sentado com mais dois amigos. Nas mesas não havia café algum, mas uma Budweiser escondida num saco de papel. "Estamos acostumados a ficar aqui."
O McDonald's não é o único que atravessa esse território complicado. No ano passado, um grupo de clientes surdos processou o Starbucks depois que uma franquia de Manhattan proibiu que os integrantes se reunissem ali, reclamando que eles não compravam café suficiente.
Passar o dia cuidando de um café com leite é um comportamento reforçado por franquias como o Starbucks e outras que parecem cultivá-lo ativamente, oferecendo Wi-Fi gratuito que encoraja os clientes a estacionar com seus laptops durante horas.
Em algumas das 235 lojas do McDonald's da cidade, os clientes dizem que adotaram a franquia de fast-food como um café para um público menos abastado.
"Estamos satisfeitos que muitos de nossos clientes nos veem como um lugar confortável para passar o tempo", disse num e-mail Lisa McComb, uma assessora de imprensa da companhia, citando as áreas de Wi-Fi e playground como parte desse apelo.
Mas a cultura do café sem pressa e o plano de negócios por trás do fast food estão em oposição. Embora muitas lojas do McDonald's tenham cartazes instruindo os clientes a passarem meia hora ou menos nas mesas, McComb disse que não havia uma política nacional para desencorajar pessoas que passam muito tempo sentadas às mesas.
"As franquias fazem o que acham que é melhor para o negócio em suas comunidades", disse ela. "No caso de Flushing, aquela franquia recebeu aqueles clientes por anos, e foi só quando outros clientes sentiram que não eram mais bem-vindos que ele tentou ajustar o tempo de visita com os clientes."
Sango Pak, que voltou ao McDonald's de Flushing uma semana depois do alvoroço, disse que se reunir no McDonald's prevenia a tristeza. "Em casa você se sente sozinho", disse ele. "Aqui, você fala com os amigos."
Num McDonald's na Broadway, um cartaz explicava que os clientes tinham direito a se sentar por apenas 20 minutos. Mas o artista Raymos Martinez sentou-se enfiado num livro de bolso de ficção histórica. Ele disse que o anonimato do lugar tinha um certo apelo. "O McDonald's é como um ponto de ônibus. Ninguém o nota."
Ou talvez notem. Do outro lado do restaurante, com sua touca de uniforme com os arcos dourados, Samantha Reyes, 39, varria papeis de embrulhar hambúrguer do chão. Ela se recusa a expulsar aqueles que parecem encontrar refúgio em seu McDonald's.
"Para mim, eu poderia estar na mesma situação", disse ela. "Amanhã, pode ser comigo."
Tradutor: Eloise De Vylder

