terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Blocão da Câmara decide apoiar investigação de propinoduto da Petrobras

Decisão de partidos da base do governo vai contra governo Dilma Rousseff 

Maria Lima e Cristiane Jungblut - O Globo
 
Apesar dos apelos do Palácio do Planalto, o chamado blocão na Câmara — com oito partidos — decidiu nesta terça-feira apoiar requerimento do PSDB para investigar irregularidades envolvendo a Petrobras no exterior. O apoio dos partidos ao requerimento de criação de comissão externa para apurar as denúncias foi proposta pelo PP, segundo um dos participantes de almoço realizado na residência do líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ).

O blocão definiu que se reunirá todas as semanas para definir a pauta de votação na Câmara. O Planalto identifica na ação mais uma forma de pressão dos parlamentares.

Segundo um dos participantes do encontro, houve muita reclamação sobre o encontro, na noite de segunda-feira, entre os líderes da base aliada e ministros. Os parlamentares tiveram dura conversa com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O ministro, segundo relatos, avisou que não haveria mais espaço para novos ministérios aos partidos e que todos deveriam se empenhar para reeleger a presidente Dilma Rousseff. O petista teria irritado os parlamentares ao dizer que Dilma já estaria reeleita.

“Vocês que estão descontentes e querem formar bloco contra o governo, se quiserem se reeleger vão ter é que tirar muita foto com Dilma e colar nela nas inaugurações até a eleição”, disse Mercadante, segundo um interlocutor.

Outra matéria que deve deixar o governo em dificuldade é o apoio ao Decreto Legislativo, de autoria do PP, que determina que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) obrigue as concessionárias de energia elétrica a devolverem aos consumidores uma diferença cobrada a mais na conta de luz, que totaliza cerca de R$ 10 milhões.

Fazem parte do blocão o PSC, PP, PMDB, PDT, PR, PROS, PTB e SOLIDARIEDADE. O PSD poderá participar informalmente dependendo da votação.

A reunião que seria para acalmar os ânimos deixou os parlamentares mais irritados. Segundo líderes que participaram do encontro, ao invés de resolver os problemas, Mercadante falou em tom de ameaça. Disse que, com 43% de intenções de votos, a presidente estaria com a reeleição quase garantida, o que irritou ainda mais os aliados.

Líder apela para base suspender votação

Diante da decisão do chamado blocão da Câmara de aprovar o requerimento da oposição para criação de uma comissão externa para investigar, na Holanda, as suspeitas de pagamento de propina a funcionários da Petrobras, os líderes governistas entraram em ação. Na reunião de líderes na tarde de hoje, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), apelou para que a base não aprovasse o requerimento, mas os líderes aliados não concordaram e devem votar ainda hoje a criação da comissão externa.

O bloco de sete partidos aliados, com o PMDB à frente, reúne cerca de 250 deputados. Ou seja, tem o poder de aprovar, junto com a oposição, qualquer medida na Casa. A criação desse bloco, ainda que informal por enquanto, tem o objetivo de mostrar o descontentamento da base governista com o Palácio do Planalto. É amplo o cardápio das insatisfações: reforma ministerial que só atendeu o PT até agora; corte nas emendas coletivas e redução do total das emendas individuais; trancamento da pauta de votação do plenário da Câmara por projetos de interesse do governo, como o Marco Civil da Internet; e a forma como a presidente Dilma Rousseff se relaciona com a classe política.