sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Ana Paula Henkel - 'Os americanos de olho na Inquisição Brasileira'

“Pior do que a Inquisição Espanhola”. Esta foi a frase usada por Jason Miller, assessor de Donald Trump, sobre a perseguição política em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro 


Julgamentos da Ação Penal 2668 - Núcleo 1 (Manhã), em Brasília, DF (2/9/2025) | Foto: Gustavo Moreno/STF


E m uma entrevista para o programa Ask Dr. Drew, Jason Miller disse de maneira contundente: “Mesmo na Inquisição Espanhola, por exemplo, havia padrões melhores”, destacando como o julgamento e a caçada política a Bolsonaro vão além da mera injustiça e se transformam numa paródia grotesca da justiça. 

Ele pintou um quadro arrepiante para os americanos e para o mundo: o Supremo Tribunal Federal “opera como uma polícia secreta, capaz de acusar, julgar, condenar, prender e jogar a chave fora”. E completou: “Para quem você vai apelar? Não há ninguém acima deles”, enfatizou Miller, captando a essência de um sistema que segue um curso político sem qualquer freio ou contrapeso.


Ana Paula Henkel - “A Suprema Corte do Brasil tem uma polícia secreta e pode acusá-lo de qualquer crime; então julgá-lo, condená-lo, prendê-lo e jogar a chave fora. Para quem você vai apelar? Não há ninguém acima deles.” - @JasonMiller, assessor de D. Trump. - Este é o atual Brasil no exterior. 


E essa comparação não é hipérbole; é uma invocação deliberada dos capítulos mais sombrios da história para iluminar a crise atual no Brasil. A Inquisição Espanhola, estabelecida em 1478 pelos Monarcas Católicos Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, era uma maquinaria implacável de aplicação da ortodoxia religiosa. Sob os auspícios da Coroa e da Igreja, ela visava hereges, judeus, muçulmanos e qualquer um considerado uma “ameaça à pureza católica”. Tribunais operavam em segredo, com acusações frequentemente anônimas e evidências envoltas em mistério. Suspeitos enfrentavam tortura e queima na fogueira para extrair confissões. O sadismo estava presente nas infames cerimônias que humilhavam vítimas publicamente, servindo como espetáculos para instaurar o medo e a conformidade. 

Mas a Inquisição não era apenas sobre fé; era uma ferramenta de controle político. Ela consolidava o poder para a monarquia, suprimia a dissidência e enriquecia o Estado por meio de confiscos de propriedades e bens dos condenados. A instituição deixou um legado sombrio: “inquisição” evoca autoridade descontrolada, confissões coagidas e o sufocamento dos direitos individuais, deixando uma cicatriz na história europeia como símbolo de como corpos judiciais podem se transformar em instrumentos de tirania quando fundidos com poder absoluto


Uma sala de interrogatório da Inquisição Espanhola com dois padres e um acusado de heresia. Gravura de B. Picart, 1722 | Foto: Wikimedia Commons


Em 1982, durante uma visita à Espanha, João Paulo II tornou-se o primeiro papa a renunciar explicitamente à Inquisição Espanhola. Falando para acadêmicos e líderes culturais na Universidade de Madri, ele descreveu-a como um tempo em que a Igreja foi culpada de “tensões, erros e excessos”, que agora vê “à luz objetiva da história”. O Papa João Paulo II abordou ainda mais a Inquisição no contexto de desculpas mais amplas da Igreja. A posição do Vaticano sob João Paulo II, e desde então, tem sido de arrependimento e contextualização, admitindo falhas morais enquanto enfatiza que a Inquisição pertencia a uma “fase atormentada” da história e não refletia os ensinamentos centrais da Igreja. 

Ligadas inextricavelmente a essa era estão as caçadas às bruxas que devastaram a Europa do século 15 ao 18 e reivindicaram até 50 mil vidas, predominantemente de mulheres. Essas perseguições derivavam do Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas), um tratado de 1486 de Heinrich Kramer que continha acusações de bruxaria, frequentemente infundadas, alimentadas por superstição, inveja ou agitação social, que levavam a julgamentos nos quais a culpa era presumida. Evidências plantadas, confissões sob coação e histeria coletiva dominavam os procedimentos. Em lugares como Salem, no estado americano de Massachusetts, em 1692, pessoas foram executadas em meio a um delírio que expôs como o apavoramento social e político instado por narrativas pode armar a justiça contra os vulneráveis.


Bruxaria na Vila de Salem. Gravura. A figura central nesta ilustração de 1876 do tribunal é geralmente identificada como Mary Walcott | Foto: Wikimedia Commons 


O termo “caça às bruxas” hoje descreve investigações motivadas politicamente, projetadas para destruir reputações e silenciar a oposição. Não foi por acidente que o presidente Trump invocou essa frase em sua carta de 9 de julho às autoridades brasileiras, na qual ligou explicitamente as tarifas dos EUA ao Brasil ao assalto em curso contra Bolsonaro. Trump declarou a perseguição uma “Caça às Bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!” e impôs tarifas de 50% sobre as importações brasileiras como alavanca, sinalizando que o poder econômico da América não toleraria tais abusos. Essa medida não foi sobre déficits comerciais — os EUA até desfrutam de um superávit com o Brasil —, mas sobre defender princípios democráticos contra o excesso judicial.


O julgamento de Bolsonaro, que começou na última terça-feira, 2 de setembro, sob o punho de ferro do ministro Alexandre de Moraes, exemplifica esse fervor semelhante à Inquisição. Moraes, longe de um árbitro imparcial, expandiu dramaticamente os poderes do tribunal nos últimos anos por meio da abertura de investigações em que o judiciário atua como acusador, juiz e executor. Isso não é justiça; é uma ditadura disfarçada de toga. O Brasil, tendo se livrado dos abusos da época do regime militar, agora lida com as atrocidades do que deveria ser a Corte mais séria e justa no país. O Brasil de hoje se alinha com países antidemocráticos, com uma Suprema Corte que investiga a si mesma como vítima, silencia críticos por meio de censura e prende opositores sem o devido processo.


Alexandre de Moraes nos julgamentos da Ação Penal 2668 – Núcleo 1 (Manhã), em Brasília, DF (2/9/2025) | Foto: Gustavo Moreno/STF 


Os americanos, particularmente aqueles do círculo de Trump, não são observadores passivos. São sentinelas vocais, destacando como essa farsa ameaça não apenas o Brasil, mas a luta global contra o autoritarismo. 

María Elvira Salazar, filha de cubanos e uma das mais importantes congressistas americanas, é reconhecida como uma defensora feroz da liberdade e tem sido enfática quando o assunto é o Brasil de Alexandre de Moraes. Ela aplaudiu as sanções dos EUA contra Moraes sob o Ato Global Magnitsky, declarando: “Uma toga preta não é um escudo para a tirania”. Ela já foi até a rede X várias vezes para expor os abusos de Moraes: “Censura, prisões e perseguição política não têm lugar em uma democracia”. Suas palavras ressoam com a base de Trump, traçando paralelos com as próprias batalhas da América contra o deep state.


Ana Paula Henkel - AGORA: Deputada María Salazar, uma das mais importantes congressistas nos EUA: “𝐸𝑖, 𝐴𝑙𝑒𝑥𝑎𝑛𝑑𝑟𝑒 𝑑𝑒 𝑀𝑜𝑟𝑎𝑒𝑠: 𝑜𝑙ℎ𝑒 𝑎𝑜 𝑠𝑒𝑢 𝑟𝑒𝑑𝑜𝑟. 𝑂 ℎ𝑒𝑚𝑖𝑠𝑓𝑒́𝑟𝑖𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑎́𝑟𝑒𝑗𝑒𝑖𝑡𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑜 𝑠𝑜𝑐𝑖𝑎𝑙𝑖𝑠𝑚𝑜 𝑒 𝑎 𝑡𝑖𝑟𝑎𝑛𝑖𝑎, Mostrar mais 

María Elvira Salazar @MaElviraSalazar Hey Alexandre de Moraes: look around you. The hemisphere is rejecting socialism and tyranny, we are more united than ever. It’s time to come to your senses. Stop the political persecution of your opponent. The Brazilian people, not you, not corrupt elites, must decide who leads 12:08 PM · 3 de set de 2025 14,5 mil Responder Copiar link para o post


Darren Beattie, hoje responsável pelo setor do Hemisfério Ocidental no poderoso Departamento de Estado e crítico afiado da corrupção institucional, amplificou de forma semelhante essas preocupações por meio de uma série de postagens no X contra a perseguição a Jair Bolsonaro. Sua voz se junta a um coro que denuncia a erosão dos direitos no Brasil, onde as ações de Moraes espelham os comportamentos “antidemocráticos” que seu departamento combate. 

Christopher Landau, ex-embaixador de Trump no México e atual vicesecretário de Estado, não poupa palavras em suas postagens: “Os impulsos orwellianos descontrolados do Ministro (Moraes) estão arrastando seu Tribunal e seu país para o território inexplorado de uma ditadura judicial”. A crítica de Landau destaca as ramificações internacionais, pois o confinamento de Bolsonaro, privado até de um telefone celular por criticar Moraes, expõe a atual fragilidade das instituições brasileiras.


Ana Paula Henkel - Declaração de AGORA do Vice-Secretário de Estado, Mr. Christopher Landau, braço direito de Marco Rubio: "𝐸𝑛𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑜 𝑎 𝐴𝑑𝑚𝑖𝑛𝑖𝑠𝑡𝑟𝑎𝑐̧𝑎̃𝑜 𝑑𝑒 @𝑃𝑂𝑇𝑈𝑆 @𝑟𝑒𝑎𝑙𝐷𝑜𝑛𝑎𝑙𝑑𝑇𝑟𝑢𝑚𝑝 𝑒𝑠𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑎𝑛𝑑𝑜, 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖́𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑒 Mostrar mais 

Christopher Landau @DeputySecState As long as the Administration of @POTUS @realDonaldTrump is in charge, US individuals and companies can rest assured that no foreign government will be allowed to censor the speech of US individuals and companies on US soil. No Brazilian judge or other foreign court can override 7:58 PM · 20 de ago de 2025


Esses sentimentos não são isolados; fazem parte de um escrutínio americano mais amplo. Protestos no Brasil contra a perseguição a Bolsonaro atraíram a atenção dos EUA, com figuras como o senador Marco Rubio endossando sanções como um “aviso para aqueles que pisoteiam direitos fundamentais”. As tarifas, anunciadas na carta de Trump, provocaram algumas críticas no Brasil, mas galvanizaram apoio entre conservadores aqui nos EUA, que veem isso como uma posição contra o excesso judicial. 

Peter Navarro, o “Czar das Tarifas” de Trump e o arquiteto-chave das políticas comerciais da América, tem sido inequívoco sobre a futilidade dos esforços de lobby brasileiros. Em uma postagem, que passou longe do radar do Planalto e dos lobistas, Navarro zombou exatamente de um folheto de um lobista em Washington que prometia influenciar a Casa Branca sobre as tarifas: “Você NUNCA pisará na porta da minha Casa Branca. Não quero tropeçar na sua lama”. 

Ele ligou isso diretamente à ditadura judicial, terminando com “Libertem Jair Bolsonaro!”. 


O assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, fala com membros da mídia perto da Ala Oeste da Casa Branca em Washington, D.C., EUA (21/8/2025) | Foto: Reuters/Nathan Howard 

A mensagem de Navarro é clara: nenhuma quantidade de negociações nos bastidores vai sobrepor o princípio que está em jogo. Os EUA reconhecem a podridão no judiciário brasileiro — o império autosservidor de Moraes — e veem qualquer negociação como irrelevante até que a perseguição cesse.


Ana Paula Henkel - Uma das minhas fontes em Washington me alertou hoje: os brasileiros ainda não entenderam o peso dessa manifestação (tuíte abaixo) do Peter Navarro, Conselheiro Sênior de Comércio da Casa Branca e principal arquiteto da política tarifária do Governo Trump. 

Navarro é o “Czar Mostrar mais Peter Navarro @RealPNavarro Here’s how the Washington swamp doesn’t work. It’s the Lobby gang that couldn’t shoot straight. I’m thinking about buying them a clown car. They don’t teach this in civics class. Visit the sub stack and you’ll understand. 5:14 PM · 21 de ago de 2025


E essa consciência de perseguição política agora se estende além dos círculos conservadores. Até mesmo The New York Times, dificilmente um bastião do pensamento de direita, martelou Moraes em seu artigo de 29 de agosto, “O Dilema Democrático do Brasil: Como Processar um Presidente”. A peça detalha como a expansão dos poderes do Supremo Tribunal Federal, que lidera suas próprias investigações mesmo como vítima, levanta questões desconfortáveis sobre ultrapassar limites. Ela enquadra o julgamento sobre o papel musculoso do Judiciário, o que arrisca a erosão democrática. Embora reconheça o progresso pósregime militar no Brasil, o artigo critica implicitamente o domínio de Moraes, apontando a capacidade do tribunal de silenciar dissidência e investigar desinformação como potencial excesso. Isso não é retórica conservadora; é reconhecimento de grandes veículos de comunicação mundiais de que os métodos de Moraes inclinam para o autoritarismo.


 Ana Paula Henkel - Mais uma pancada do (nada “conservador”) New York Times em Alexandre de Moraes: 

- “𝑂 𝑚𝑖𝑛𝑖𝑠𝑡𝑟𝑜 𝑀𝑜𝑟𝑎𝑒𝑠 𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑜𝑢 𝑏𝑎𝑡𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑙𝑖𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠, 𝑐𝑒𝑛𝑠𝑢𝑟𝑜𝑢 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑠 𝑜𝑛𝑙𝑖𝑛𝑒, 𝑏𝑙𝑜𝑞𝑢𝑒𝑜𝑢 𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 𝑠𝑜𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 𝑒, 𝑒𝑚 Mostrar mais 12:52 PM · 30 de ago de 2025 24,9 mil Responder Copiar link para o post


O contexto mais amplo revela um padrão: o Brasil sob a administração de Lula desviou para um território onde o judiciário serve como extensão de vinganças executivas. Bolsonaro, que transformou a economia do Brasil sob a batuta de Paulo Guedes e se manteve firme contra invasões socialistas, agora enfrenta um tribunal golpista por supostas tentativas de golpe. Os tumultos do fatídico 8 de janeiro de 2023, frequentemente citados como evidência, foram caóticos, mas dificilmente representaram uma real derrubada coordenada do Estado de Direito e da República. 

Os americanos observam de perto porque isso espelha suas próprias experiências. Os indiciamentos de Trump foram verdadeiras caçadas às bruxas, e o calvário de Bolsonaro reforça essa similaridade globalmente. Como Jason Miller articulou, os padrões no Brasil caem abaixo até mesmo da Inquisição — em que pelo menos algumas fachadas processuais existiam. No Brasil, Moraes governa descontrolado.


Julgamentos da Ação Penal 2668 – Núcleo 1 (Manhã), em Brasília, DF (2/9/2025) | Foto: Rosinei Coutinho/STF

As implicações se espalham para fora. Se a ditadura judicial do Brasil persistir, ela encoraja regimes semelhantes em outros lugares, e os americanos sabem disso. As tarifas de Trump, embora economicamente dolorosas, forçam um acerto de contas: terminem a inquisição, ou enfrentem o isolamento. A rejeição de Navarro aos lobistas destaca isso — não haverá atalhos em torno de imperativos morais. 

E no topo de toda essa balbúrdia institucional, há o custo de centenas de vidas destroçadas por um tribunal inquisidor. Jair Bolsonaro, um líder que defendeu valores familiares e liberdade econômica, definha sob prisão domiciliar e sua voz está abafada. 

A Inquisição Brasileira não é história — está acontecendo agora. E o mundo, liderado por vozes vigilantes nos EUA, exige que ela termine.


Ana Paula