Trump já deixou mais do que claro que uma das prioridades, senão a principal, é justamente a interrupção da caça às bruxas contra Bolsonaro
S ão conhecidas as cinco fases do luto, segundo Elisabeth Kübler-Ross: negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, aceitação. Quando observamos a postura de boa parte das elites, dos agentes do governo e até dos mercados brasileiros, a sensação que fica é a de que ainda estamos no primeiro estágio. Muita gente vem negando a realidade, simples assim.
Falar do mercado de câmbio é sempre complicado, pois parece que ele existe para transformar os profetas economistas em gente mais humilde. Mas o dólar oscilando em torno de R$ 5,50 parece um mar de tranquilidade para as vésperas das sanções impostas pelos Estados Unidos, com tarifas de até 50% sobre os produtos brasileiros. O que será que passa pela cabeça dos especuladores? Que as tarifas serão evitadas de alguma forma milagrosa aos 45 do segundo tempo? Esse marasmo parece estranho.
O ministro Haddad disse que a Casa Branca concentra o tema do tarifaço e que isso dificulta qualquer acordo. “Estamos fazendo tentativas de contato reiteradas, mas há uma concentração de informações na Casa Branca. Alckmin está tendo contato com secretários. No nosso caso, da Fazenda, temos contato com a equipe técnica do Tesouro americano, mas não com o secretário”, disse o ministro a jornalistas.
Geraldo Alckmin estaria tendo encontros “reservados” com gente do governo americano, talvez tão reservados que ninguém do alto escalão tomou sequer conhecimento. Enquanto isso, Lula segue com sua retórica irresponsável, atacando Trump, e Moraes continua dobrando a aposta. A ficha dessa turma ainda não caiu…
O presidente americano vem colecionando vitórias importantes em suas negociações comerciais, como ficou claro no caso histórico do Japão. Seu estilo duro de negociação vem rendendo bons frutos aos americanos. Mas é importante se dar conta de que ele consegue o grosso daquilo que quer, que demanda, que coloca como prioridade na mesa.
Ora, no caso brasileiro, Trump já deixou mais do que claro que uma das prioridades, senão a principal, é justamente a interrupção da caça às bruxas contra Bolsonaro. Ele disse com todas as letras que o problema é o STF, mas boa parte do governo e das elites finge não ter compreendido o recado. Querem discutir apenas aspectos econômicos. Como achar que vão evitar o pior agindo dessa forma claramente alienada?
Os mesmos que faziam piadas no começo com a possibilidade “remota” de perda de vistos ou sanções individuais a ministros supremos agora se recusam a comentar o assunto. Mas reparem que, mesmo com a perda de vistos, ainda tem muita gente, inclusive na imprensa, que considera o Magnitsky fora de questão. Novamente, trata-se de pura negação da realidade. As punições estão apenas começando e certamente vão escalar, até pela reação de Alexandre de Moraes e seus cúmplices.
Ou o sistema brasileiro realmente recua de sua sanha autoritária, ou tenta se fechar de vez e consolidar um poder totalitário tirânico, arcando com as consequências e lançando o país todo na total miséria. É isso que está em jogo. Trump quer evitar uma nova Venezuela no continente e deixou isso evidente. Mas pelo visto uma parte considerável do andar de cima, dos “donos do poder”, acredita que é possível evitar o pior sem entregar o que Trump exige. É pura ilusão.
Quando a realidade bater à porta, virá a fase da raiva. Só depois é que muitos tentarão a barganha, e restará saber se será tarde demais ou não. Se for tarde, aí restará apenas a aceitação de que o Brasil não é mais uma democracia respeitada no Ocidente, e sim parte do eixo do mal, um pária global alinhado aos piores regimes existentes, e sob fortes sanções e embargos por causa dessa escolha lamentável.
Rodrigo Constantino - Revista Oeste