quinta-feira, 13 de março de 2025

J.R. Guzzo - Para Lula, nada é tão importante quanto o 'gasto do Estado'

 'Nas condições atuais de temperatura e pressão, porém, a delinquência-raiz se transforma em deboche'


Lula teve queda recorde na popularidade segundo Datafolha | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil 

O governo Lula acaba de anunciar, até que enfim, o seu primeiro grande investimento público do ano. É um alívio. Já estava demorando, e como o presidente nos instrui a cada quinze minutos nas suas epístolas para plateias do PT, nada é tão importante nesta vida quanto o “gasto do Estado”. Há 40 anos ele garante que vamos ficar todos ricos com a distribuição de dinheiro do Tesouro Nacional, e que não há outra maneira de resolver qualquer problema da humanidade, num arco universal que vai do preço do ovo à cura da cirrose de fígado. É pena que ainda não vai ser desta vez que você vai receber a sua parte. 

É preciso se conformar com a escala de prioridades do governo Lula, e neste preciso momento, mais uma vez, ele tem certeza de que a prioridade não é você, nem o preço do ovo e nem a cirrose de fígado. “Pobres”, então, nem pensar. Já são louvados o tempo todo nos discursos de Lula. Já têm a esmola do Bolsa Família. Já têm a esmola para os estudantes do “Pé-de-Meia”. Será que não chega? Está na hora de todos eles pensarem um pouco mais “na nação” e um pouco menos nos seus interesses pessoais. Neste momento, o governo tem de “alocar recursos” a “políticas públicas” mais urgentes

O resultado é esse primeiro grande “investimento público” que Lula vai fazer em 2025: o presidente, Janja e a sua esquadrilha de estrategistas decidiram que a melhor coisa que o governo pode fazer no momento é gastar, até dezembro, R$ 3 bilhões em propaganda do governo. O sistema oficial de saúde não tem dinheiro para comprar uma dose de insulina, e sabe lá Deus o que mais. Mas eles acharam uma grande ideia gastar os 3 bi não em insulina, ou em qualquer coisa útil, mas naquilo que o governo faz de mais inútil: elogiar a si mesmo gastando dinheiro do pagador de impostos. 

Lembre-se, na próxima vez que for encher o tanque do seu carro, ou acender a luz de casa, que uma parte da despesa vai ser transferida direto do seu bolso para o bolso de Lula e daí, no fim das contas, para o bolso dos que vão realmente ficar com essa montanha de dinheiro. 

É uma safadeza, em qualquer circunstância. Você já ouviu falar, alguma vez na sua vida, que que os governos da França, ou da Alemanha, ou dos Estados Unidos, gastaram R$ 3 bilhões com publicidade oficial? Tenha dó, diria o ministro Alexandre Correia.

 “Aqui as pontes caem. O governo Lula, por exemplo, tem hoje uma ponte a menos, no mínimo, do que tinha quando começou — a que desabou no Rio Tocantins” (J. R. Guzzo) 

Nas condições atuais de temperatura e pressão, porém, a delinquência-raiz se transforma em deboche. Qualquer dos países acima, se a insânia da propaganda oficial fosse aceita por ali, com certeza teria, pelo menos, alguma coisa para mostrar — uma nova ponte, digamos. 

Aqui as pontes caem. O governo Lula, por exemplo, tem hoje uma ponte a menos, no mínimo, do que tinha quando começou — a que desabou no Rio Tocantins. Pois então: o governo vai torrar R$ 3 bilhões do erário em anúncios das suas obras, mas não tem obras, e o que vão lhe mostrar é relógio suíço fabricado em Pedro Juan Caballero. 

A lista de quem vai anunciar e de quanto cada um vai gastar é uma peça de comédia. Acredite se quiser, mas até o antigo Instituto de Pesos e Medidas, hoje sob a marca Inmetro, entrou na festa: vai detonar R$ 40 milhões em propaganda. Propaganda do quê? Vão dizer que o metro passou a ter 110 centímetros? Lula teria feito alguma melhoria no litro? É muito desespero para atacar a rapadura. Mas o desastre neste investimento público é do tipo PT-Perda Total. Não sobra pedra sobre pedra




Os Correios, por exemplo, vão gastar até o fim do ano R$ 380 milhões em publicidade. De novo: vão anunciar o quê? Em 2024, os Correios fecharam o ano com um prejuízo superior a R$ 3 bi, depois de dar lucro até Lula ser declarado presidente. Esse ano, só em janeiro, já perderam mais 400 mi. Qual seria a sua nova “estratégia de comunicação”? Vão anunciar que superaram as suas metas e estão rompendo novos patamares de prejuízo? O Banco do Brasil, sozinho, vai gastar outros R$ 750 bilhões. Para quê? Estão precisando de mais clientes? É daí para baixo.

Publicado originalmente no O Estado de S. Paulo e

Revista Oeste