Ex-deputado federal, Deltan Dallagnol, que coordenou a Lava Jato, levando à cadeia dezenas de corruptos - Foto: EBC
O ex-coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, reagiu nesta terça (29) à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de anular condenações do ex-ministro petista José Dirceu por crimes de corrupção. O ex-integrante do Ministério Público Federal (MPF) rebateu a referência do ministro à falta de isenção ter chegado ao patamar de ‘confraria’ entre procuradores da República e o ex-juiz e atual senador Sérgio Moro (União-PR). E concluiu: “a verdadeira confraria aqui não é a da Lava Jato, mas é do sistema em uma grande festa da impunidade dos corruptos”.
Deltan atribui “hipocrisia suprema” a Gilmar Mendes, afirmando que o ministro “coa um mosquito mas engole um camelo” quando o tema é Lava Jato. Relembra a presença de ministros do STF em convescotes e eventos de luxo mundo afora, com acusados, condenados e criminosos confessos da Lava Jato, em Roma, Londres, Nova York e Paris. O que considera, aí sim “confraria”.
“Estranhamente, são as mesmas pessoas beneficiadas por decisões do STF. Confraria é ver ministros do Supremo se reunindo no exterior com gente como os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da J&F, que confessaram ter subornado mais de 100 políticos e pago bilhões em propina”, exemplificou Deltan.
Flagrado em troca de mensagens conhecidas como “Vaza Jato”, dividindo estratégias para obter condenações na operação com o então juiz Moro, o ex-procurador lembrou que Gilmar chegou a acusar seu colega de toga e atual presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de “soltar” José Dirceu. Mas agora, ressalta Deltan, o ministro estaria blindando Dirceu e abrindo o caminho para que o petista se candidate novamente em 2026.
Deltan ainda aponta incoerência de Gilmar Mendes, por atacar a Lava Jato, mas fechar os olhos para o que denuncia como “abusos judiciais comprovados” de outro seu colega de Supremo no escândalo da “Vaza Toga”. “[Reportagem da Folha] desnudou a confraria do Alexandre de Moraes com ele mesmo: ele é investigador, procurador e juiz, tudo ao mesmo tempo”, afirmou o ex-chefe das investigações do maior escândalo de corrupção do Brasil.
Moro também se manifestou nas redes sociais, afirmando que as condenações de Dirceu foram anuladas sob uma “fantasia de de conluio”, mesmo diante de provas documentais robustas de suborno que motivaram as penas do ex-ministro petista por corrupção.
O ex-procurador reforça que José Dirceu foi condenado no escândalo do ‘mensalão’ e em três instâncias na Lava Jato, e teve conjunto probatório vultoso sobre recebimento de propinas milionárias de empreiteiras envolvidas no escândalo do ‘petrolão’.
“Como o sistema não consegue explicar as provas da corrupção, usa falsos pretextos e narrativas em decisões que blindam políticos e empresários amigos do sistema e assim tudo continua como sempre foi. A verdadeira confraria aqui não é a da Lava Jato, mas é do sistema em uma grande festa da impunidade dos corruptos”, conclui Deltan Dallagnol.
Diário do Poder