Especialista em petróleo e gás, Adriano Pires foi indicado pelo governo para presidir a Petrobras a partir de 13 de abril.| Foto: Pedro França/Agência Senado
A julgar pelo desempenho das ações da Petrobras na bolsa brasileira nesta terça-feira, a nova transição na estatal, com a iminente ascensão de Adriano Pires à presidência da companhia (a próxima Assembleia Geral Ordinária ocorre apenas em 13 de abril), deverá ser muito mais tranquila que a ocorrida em 2021, quando Roberto Castello Branco deixou a empresa após um processo de fritura e foi substituído pelo general Joaquim Silva e Luna, agora de saída.
Se naquela ocasião havia um temor real de interferência governamental para conter o aumento do preço dos combustíveis, desta vez, também em um cenário de preços em alta, Pires é visto pelo mercado como um nome técnico – até mais que Silva e Luna – cujas opiniões são bem conhecidas e que tende a não cometer desatinos semelhantes aos que Graça Foster colocou em prática em 2014 para ajudar o esforço de reeleição de Dilma Rousseff.
Mesmo assim, por mais que o currículo e as convicções de Pires façam dele um nome capaz de comandar a Petrobras, fica no ar uma pergunta: se a mudança não representa alterações significativas nas políticas de preços da estatal, havia a necessidade de trocar o comando da empresa?
Por esse ponto de vista, até mesmo Castello Branco poderia ter sido mantido no cargo, evitando todo o ruído causado por sua fritura e demissão. Falando à Gazeta do Povo, Jason Vieira, economista-chefe da gestora de fundos Infinity Asset, levantou a possibilidade de a mudança servir como uma sinalização ao brasileiro eleitorado de que Jair Bolsonaro está insatisfeito com as altas nos preços dos combustíveis, ainda que na prática as substituições não mexam nas políticas da Petrobras.
Não há mágica que permita uma queda abrupta dos preços dos combustíveis; a intervenção aos moldes petistas é medida daninha e artificial, que não pode ser mantida indefinidamente
E é bom que não haja essa guinada, pois ainda está fresca na memória do brasileiro o estrago que o petismo fez na Petrobras. Além da corrupção desenfreada e das decisões de negócio absurdas e desastrosas, como as que envolveram as refinarias de Pasadena e de Abreu e Lima, a gestão Graça Foster foi responsável por um represamento artificial de preços, com o objetivo de não deixar a inflação subir ainda mais e atrapalhar as pretensões eleitorais de Dilma em 2014.
A empresa amargou prejuízos estratosféricos e se tornou a petroleira mais endividada do mundo – e os preços dos combustíveis acabariam estourando em 2015: o IPCA daquele ano foi de 10,67%, mas a gasolina subiu 20,10% em média, segundo o IBGE.
Pires já fez críticas contundentes a esse tipo de interferência política nos preços da Petrobras e defende a manutenção dos critérios atuais, que se baseiam nos valores internacionais do petróleo. No entanto, ele também reconhece o enorme problema causado por combustíveis caros e preços que oscilam sem parar, propondo a instituição de um fundo de estabilização, bancado pelos royalties da exploração da commodity – e aqui está a sua principal divergência com a equipe econômica comandada por Paulo Guedes.
No médio e longo prazo, Pires defende a privatização da Petrobras (como Castello Branco também defendia) e mudanças na tributação sobre os combustíveis, também como forma de reduzir a volatilidade de preços.
A verdade é que não há mágica que permita uma queda abrupta dos preços dos combustíveis; a intervenção aos moldes petistas é medida daninha e artificial, que não pode ser mantida indefinidamente. No curto prazo, só a redução dos preços internacionais do petróleo e a valorização do real serão capazes de puxar para baixo o valor pago na bomba.
No médio e longo prazo, aumento da capacidade de produção e refino, incentivo à concorrência em todas as etapas da cadeia do petróleo – da extração ao consumidor final – e uma reforma tributária que deixe de onerar pesadamente a produção e o consumo serão as chaves para que os combustíveis deixem de ser fonte de dor de cabeça para o brasileiro.
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Gazeta do Povo