Cidade de São Paulo.| Foto: Divulgação/ALSP
Nos últimos 40 anos, o crescimento econômico brasileiro foi insuficiente para o país eliminar a miséria, reduzir a pobreza e ingressar no clube dos países desenvolvidos. Dos quase 200 países que há no mundo, 35 deles são reconhecidos como desenvolvidos, com padrão médio de bem-estar social considerado bom o suficiente para dar conforto e dignidade a quase toda a população. Nesses últimos 40 anos, o Brasil desperdiçou janelas de oportunidade, essencialmente por culpa de erros internos, alguns de natureza estrutural e outros derivados de ineficiência política e administrativa, ainda que crises internacionais tenham contribuído para dificultar o crescimento interno.
Este ano de 2022 teve início com duas características propícias para a discussão de um plano de ação destinado o colocar o país na rota do crescimento. Na esperança de que o conflito que assusta o mundo, entre Rússia e Ucrânia, não tome proporções globais, convém termos esses aspectos em mente para não desperdiçarmos condições oportunas e preciosas.
Um deles é o fato deste ser o primeiro ano desta década em condições de relativa normalidade econômica, ao menos se o compararmos com os dois anos de pandemia que o precederam e a desordem provocada na economia mundial.
Outra característica é a realização de eleições federais e estaduais em outubro, com a consequente chegada de novos governantes, incluindo o presidente da República. Quase não há dúvidas quanto ao diagnóstico dos problemas e necessidades brasileiras. A dúvida reside na capacidade do país, governo e sociedade, tomar as medidas certas e executá-las bem para conseguir o crescimento e a superação dos problemas que emperram a prosperidade nacional.
Para grande parte dos analistas, há consenso de que o crescimento econômico necessário para permitir substancial progresso social deve conter no mínimo três ingredientes essenciais: expansão da infraestrutura física, expansão significativa do conhecimento tecnológico incorporado no sistema produtivo (aí incluída a modernização tecnológica dos serviços públicos e seus processos burocráticos) e um ambiente institucional favorável ao empreendedorismo e à atração de investimentos nacionais e estrangeiros. Em relação ao conhecimento tecnológico, sua ampliação está diretamente ligada à necessidade de melhorar o sistema educacional de base e a qualificação profissional. O país tem a vantagem de poder, por bons marcos regulatórios e leis de abertura ao exterior, atrair rapidamente tecnologias geradas no resto do mundo, mesmo que as melhorias tão desejadas na educação ocorram mais vagarosamente, como é normal nessa área.
Quanto à infraestrutura física, é importante lembrar a necessidade de fazer reformas na estrutura das cidades. Dos 5.570 municípios brasileiros, 95 têm população acima de 300 mil habitantes e, destes, 17 têm mais de 1 milhão de habitantes. No ano de 2012, a Organização das Nações Unidos (ONU) publicou um relatório, após longo e profundo levantamento, com o título A Era das Cidades, no qual alertava que as grandes cidades passaram a comandar o processo de criação de riqueza no mundo e que, na maioria dos casos, essas grandes cidades estavam parando, travadas e com graves problemas de circulação e funcionamento, de forma a jogarem para baixo a produtividade do trabalho. No relatório, a ONU afirma que, se os gargalos e problemas das cidades não forem resolvidos, eles poderão se tornar o principal obstáculo ao crescimento econômico já que elas, as cidades grandes, respondem por expressiva parcela do Produto Interno Bruto (PIB).
O Brasil está diante de uma janela de oportunidade, ainda que o mundo siga tendo suas turbulência políticas, econômicas e militares, pois os principais desafios diante da necessidade de crescimento são de natureza interna. Ressalve-se que o país precisa de urgência na tomada das decisões, elaboração dos planos, feitura dos projetos e início da execução, pois o atraso na infraestrutura física e no nível de conhecimento tecnológico, o caos educacional e as deficiências do ambiente institucional favorável ao investimento e à livre iniciativa requerem tempo longo para terem melhorias significativas. Já o destravamento das grandes cidades e a superação dos gargalos e ineficiências urbanas, sobretudo nas grandes metrópoles, é tarefa imensa e bastante demorada, além de exigirem elevados valores financeiros para seu financiamento.
De certa forma, o fato de o Brasil ter tudo por fazer constitui uma oportunidade para o país obter altas taxas de crescimento e, como efeito colateral positivo, criar os empregos necessários à ocupação da mão de obra já disponível e compensar os empregos perdidos com a aceleração da revolução tecnológica. O desafio é, conhecendo o diagnóstico e sabendo quais as soluções, conseguir que no plano nacional, assim como nos estados, sejam eleitos legisladores e dirigentes executivos com capacidade de liderança, confiáveis e eficientes em termos administrativos. Não é segredo para nenhum brasileiro o fato de que, entre os males que enfrentamos, grande parte vem justamente do mundo político, não do setor produtivo.
Gazeta do Povo