Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva, em jantar em São Paulo | Foto: Reprodução
O único que não se pode trilhar é o do retrocesso ao modelo que viabilizou o Mensalão e os crimes comuns bem evidenciados durante o desenrolar da Operação Lava Jato
Algumas pessoas começaram a seguir a política agora e ainda o fazem por meio das redes sociais. Esse conhecimento superficial e momentâneo prejudica a noção de médio e longo prazos.
Talvez por ser professora de Direito e por enfrentar, junto com os alunos, as mudanças no Direito Penal aplicado na prática, mais do que qualquer brasileiro, acompanhei no detalhe o desenrolar do julgamento do Mensalão e pude traduzir o divisor de águas que significou a Suprema Corte alcançar os mais altos quadros da política e alguns representantes do empresariado, punindo de forma exemplar, embora ainda diferenciada, estes e aqueles.
Com efeito, críticos e entusiastas do julgamento do Mensalão reconhecem a desproporcionalidade das punições aplicadas aos empresários, quando comparadas às que incidiram sobre os políticos. Apesar de injusta, essa desproporção teve um efeito “pedagógico” sobre os empresários, que, quando do início da Lava Jato, decidiram colaborar, entregando os políticos, para não correrem o risco de ser sacrificados.
Em outras palavras, o medo de serem punidos, como no caso do Mensalão, fez os alvos da Lava Jato colaborarem. Ocorre que, ao longo de toda a operação, por meio de textos e teses acadêmicas, artigos e entrevistas para os jornais, formadores de opinião criaram o “caldo de cultura” apropriado para, no momento oportuno, fomentar as anulações.
Tanto é verdade que, muito antes de aparecerem os tais diálogos do capítulo conhecido como “Vaza Jato”, eu já alertava para o risco de serem anuladas todas as investigações, ações e condenações que, ao lado do julgamento do Mensalão e do processo de impeachment, formaram o maior movimento de depuração dos últimos tempos.
Para quem testemunhou o que ocorreu com outras grandes operações policiais, fica fácil perceber que os diálogos não foram a causa das anulações, foram apenas a “desculpa” utilizada para tentar justificar o injustificável.
Por óbvio, o julgamento do Mensalão, o processo de impeachment e a Operação Lava Jato renderiam cada qual uma verdadeira tese. Este breve histórico não tem o fim de aprofundar todas as nuances desses importantes eventos da História recente.
Nada obstante, lembrar o encadeamento de fatos é essencial para que os brasileiros percebam que o único caminho que o Brasil não pode trilhar é o do retrocesso ao modelo que, sem nenhuma dúvida, viabilizou o Mensalão, os crimes de responsabilidade que levaram ao impeachment e os crimes comuns bem evidenciados durante o desenrolar da Operação Lava Jato.
Os atores desse modelo são poderosos, tanto no que concerne aos recursos econômicos, quanto no que tange à capilaridade. Eles estão nas universidades, nos meios de comunicação, à frente das grandes plataformas, que “permitem” ou inviabilizam o debate.
O jantar que selou a união entre Lula e Alckmin não aproximou apenas Lula e Alckmin, muitos desses atores estavam presentes, sendo imperioso destacar que a “confraternização” foi festejada pelos formadores de opinião, que sempre lucraram com o modelo que agora buscam resgatar.
Não aceito a derrota sem trabalhar em prol de um resultado diverso daquele que seria um destino trágico
Não sei se nas demais Casas Legislativas o espírito é o mesmo, mas, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a volta do PT ao poder, com todas as consequências inerentes a esse retorno, é dada como certa. E não se trata de ilação feita por parlamentares da esquerda. Colegas das mais diversas siglas têm a vitória de Lula como dada, havendo alguns que ousam apostar em “liquidar a fatura” no primeiro turno.
Não nego que vivamos um momento delicado. Os riscos são reais, e o fato de Alckmin afrontar seus eleitores de décadas para garantir um cargo de poder bem evidencia que as chances de Lula são grandes. Porém, sendo otimista por decisão, não aceito a anunciada derrota sem trabalhar em prol de um resultado diverso daquele que seria um destino trágico.
Já há algum tempo, venho insistindo na necessidade de unir forças à direita, dado que as forças à esquerda sempre estiveram juntas e, com inegável inteligência, vêm logrando êxito em fingir moderação. A própria sinalização de Lula a Alckmin faz parte desse teatro. E do lado da “direita”, ocorre o quê? Bolsonaristas e não bolsonaristas se atacam mutuamente, por conseguinte, fortalecem a esquerda.
Quando brado por união, não peço que um potencial candidato, à direita, abdique de sua candidatura em benefício de outro. Não é disso que se trata! A eleição em dois turnos confere o conforto de decidir duas vezes. Aliás, a existência de mais opções afasta o fantasma de Lula ganhar no primeiro turno. O pleito, na verdade, visa a evitar que os direitistas façam o serviço para os esquerdistas.
Como brasileira preocupada com o país e não com a própria eleição, penso diuturnamente em como será difícil reunir todas essas pessoas em eventual segundo turno. Os que hoje desconstroem Bolsonaro votarão em Lula no segundo turno? E se quem passar for Sergio Moro, os que hoje o desmoralizam como traidor votarão em Lula? Ficarão neutros? Anularão seus votos?
É preciso pensar nos cenários possíveis para o primeiro e para o segundo turnos. É preciso trabalhar para que tenhamos opções ao modelo que fez florescer Mensalão, Petrolão e a instrumentalização dos bancos públicos. Isso sem contar todo apoio moral e material às ditaduras de esquerda, que seguem assombrando a América Latina.
Essa abordagem vem sendo mal compreendida, tomada como estratégia para angariar votos de eleitores de Bolsonaro e Moro. Não é. Para me eleger senadora, seria mais interessante escolher um lado. E, se fosse por segurança pessoal, bastaria concorrer à reeleição na Alesp.
Precisamos garantir que haja segundo turno e que o candidato com maiores chances passe pelo primeiro. Também resta necessário criar condições para que o candidato vencido e seus eleitores apoiem o vencedor contra a volta do modelo rejeitado em 2018. Se não ocorrer essa almejada junção, o Brasil perde.
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Revista Oeste