Após dois anos de covid e de repressão contra a atividade econômica, o país ficou mais pobre
Descobriu-se de repente, neste final de ano, um acontecimento realmente prodigioso: a pobreza aumentou no Brasil, após dois anos de covid e de repressão, inclusive policial, contra a atividade econômica.
Quem poderia imaginar uma coisa dessas, não é mesmo?
Fazem lockdown.
Fecham o comércio e a indústria.
Suspendem os serviços.
Proíbem as pessoas de trabalhar — até camelô foi perseguido pela polícia.
Transformam o Brasil num país de fiscais.
Agridem, como nunca antes, a liberdade de produzir — a de produzir e mais um caminhão de outras.
Daí, quando se vê que há 13 milhões de desempregados e milhares de negócios reduzidos à ruína, se escandalizam: o Brasil ficou mais pobre.
Como a vida política neste país se reduz cada vez mais à fraude, à mentira e à eliminação da lógica, nada mais natural que o partido dos iluminados-progressistas-etc., que se dá o direito de pensar por todos, tenha chegado à uma conclusão falsa sobre o desastre.
A culpa, dizem os viajantes desse bonde, é do “governo”.
A calamidade na economia atingiu todos os países do mundo, sem nenhuma exceção — ricos ou pobres, bem ou mal governados, democracias ou ditaduras.
Há inflação mundial.
Há desemprego mundial.
Há aumento na pobreza mundial.
Mas só o governo do Brasil é culpado.
No resto do mundo a culpa é da covid.
Essa falsificação é especialmente grosseira, malandra e mal-intencionada quando se considera que no Brasil, por decisão do Supremo Tribunal Federal e com o pleno acordo da elite pensante, as “autoridades locais” ganharam a exclusividade no trato da epidemia.
Dizem que não foi assim, mas foi exatamente assim, na prática — já que nenhuma das suas decisões, segundo ordenou o STF, podia ser contrariada pelo governo federal ou por quem quer que fosse.
Governadores e prefeitos, na verdade, foram colocados acima da lei.
Todo mundo está cansado de saber o que fizeram: reagindo como uma manada em pânico, as “autoridades locais” se jogaram de corpo e alma no “fecha tudo”, no “fique em casa” e no “cale a boca” — e adoraram isso, porque nunca mandaram tanto.
A prioridade, repetida até enjoar, era “salvar vidas”.
O “ser humano” vale mais que “os negócios”, diziam, e a economia deveria ficar “para depois”.
É melhor cancelar um CNPJ do que um CPF — quem não se lembra deste lema, considerado então a quinta-essência da sabedoria humana?
Para os ricos, tudo bem: puseram máscara, fizeram home office e continuaram circulando nos seus SUVs.
Para os pobres, foi uma tragédia.
Não passou pela cabeça das “autoridades locais”, do STF e da elite que a imensa maioria da população brasileira precisa trabalhar todos os dias para sobreviver.
Não pode ficar “em casa”.
Não é opcional.
A economia fica para “depois”?
Pois então: o “depois” chegou.
Agora, como o batedor de carteira que tenta se safar gritando “pega ladrão”, os responsáveis pelo desastre lamentam a miséria que causaram e põem a culpa no governo.
Nada mais normal, nesse Brasil doente que está aí.
Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo
Revista Oeste