
Rodrigo Maia [à esq.] e Davi Alcolumbre | Foto: Reprodução/Setcesp
Não deu certo — o STF não topou.
Pode haver desastre mais humilhante?
O sujeito vai ao STF pedir uma vigarice — e nem o STF, esse STF que topa tudo para atender aos desejos e necessidades de seus clientes, aceita fazer o serviço.
É como se dizia antigamente: vergonha é roubar e não poder carregar.
O senador Davi Alcolumbre e o deputado Rodrigo Maia acabam de fazer precisamente isso.
O senador Alcolumbre ainda teve um arranco heroico de cachorro atropelado, como dizia Nelson Rodrigues, e foi um pouco mais adiante do que o deputado Maia.
Conseguiu que o novo ministro Kássio, o querido do presidente Bolsonaro e do “Centrão”, já desse o primeiro dos muitos votos sem pé e sem cabeça que promete dar em sua carreira — declarou que o errado para um era certo para o outro e deu a Alcolumbre o direito que negou a Maia.
Não adiantou nada, porque o senador ainda assim perdeu de 6 a 5, enquanto Maia ficou com 7 a 4 contra.
Foi a cereja no bolo desse desastre.
A desculpa tida como “jurídica” em benefício dos chefes do Legislativo — sempre se arruma uma desculpa dessas no Supremo — ficou a cargo de você sabe quem: o ministro Gilmar Mendes.
Num voto longuíssimo, pretensioso e irracional, ele veio com a história de que, se a Constituição permite a reeleição do presidente da República, então tinha de permitir a mesma coisa no Senado e na Câmara.
O que o joelho tem a ver com a gravata?
A reeleição do presidente é legal porque está escrito na Constituição que é legal.
A reeleição de Alcolumbre e Maia é ilegal porque está escrito na Constituição que é ilegal.
Qual é o problema com essa gente?
Mais uma vez tentaram mandar a lógica para o diabo; mas desta vez calcularam mal a munição que tinham e acabaram de cara quebrada.
A certo momento dessa palhaçada, o governo imaginou que poderia levar na mão e na contramão: Alcolumbre, o amigo do Palácio do Planalto, seria autorizado a bater a carteira, mas Rodrigo Maia, o inimigo, seria proibido.
Na avaliação da maior parte da mídia, ao serem apresentados os primeiros votos, era isso que iria dar.
Mas ficou no 6 a 5 — que pode ser aquilo que se chama no futebol de derrota honrosa, mas que para efeitos práticos vale tanto quanto zero.
O Brasil e os brasileiros sempre perdem, em episódios dessa espécie.
É bacana ganhar uma, para variar.
Publicado originalmente na ‘Gazeta do Povo’, em 7 de dezembro de 2020