quarta-feira, 1 de julho de 2020

"Moro, auge e queda, brilho e fim", por Nilza Machado

Difícil falar de um homem que já foi tão grande, amado, e, até mesmo, venerado. Tarefa árdua descrever um homem que trouxe tanta esperança para o Brasil. Moro era aplaudido de pé pelos seus admiradores. A cada notícia que se falava sobre ele o povo vibrava e falava: “Esse é o cara!”
Quantas vezes em alguns comentários nas redes sociais se vislumbrou um futuro em que ele fosse o nosso presidente. Ele parecia ser um homem confiável, alguém que colocou na cadeia um ladrão que roubou milhões do povo brasileiro. No dia que isso aconteceu o povo o elegeu como um virtual futuro presidente.
Quando ele aceitou ser ministro do presidente o povo novamente aplaudiu de pé. Como dizia o Dicró, era um sonho se realizando.
Até que um dia esse homem quis ser maior que o nosso presidente.
O triste é saber que ele realmente poderia vencer, e venceria qualquer um nas urnas. Mas falhou, fracassou, quando apunhalou a quem estendeu as mãos.
Enfim, de um grande juiz, hoje tornou-se ninguém. Certamente alguns ainda tentarão elegê-lo como presidente, mas, quem vai confiar em alguém que trai quem estende as mãos? Que conservador vai votar no traidor maior do Bolsonaro? Que petista votaria o homem mandou Lula para o xilindró?
A lembrança que ficará para sempre é como ele apunhalou o Brasil, e isso nada apaga.
Quem foi o Moro? Uma estrela brilhante que se destacou entre milhares de outras. Em que o Moro se tornou? Uma estrela cadente. Decadente. Moro foi só uma estrela cadente.
Como boa estrela cadente, ele nos iludiu. Na verdade Moro nunca foi uma estrela.
Estrela cadente não é estrela. É meteorito.
As estrelas cadentes são apenas pedras insossas que que caem do espaço vazio. Sem origem. Sem rumo. Sem rota. Sem órbita. Sem brilho próprio, essas habitantes do vácuo sideral brilham apenas quando entram em contato com o que tem substância. Em atrito com a atmosfera, ela se aquece, reluz, resplandece, brilha. E queima.
Mas o brilho não é próprio, é emprestado, é falso.
Os embates com o ex-presidente Luís Inácio, o atrito gerado, o calor latente naquelas audiências transmitidas pela TV Justiça elevaram o “Marreco de Curitiba” a um estrelato jamais imaginado.
Como a gente torcia por ele! E a cada justa condenação, ele crescia, brilhava, resplandecia.
Mas o brilho não era do Moro.
Moro tinha o reflexo, o brilho pertencia a Lula.
Quando assumiu o ministério, o seu contato com Bolsonaro, os afagos do presidente em pleno Maracanã, faziam-no luzir mais e mais intensamente. Era o melhor dos mundos para os bolsominions.
Nossa única dúvida era qual seria o melhor lugar para ele ocupar na república. O que seria melhor para aquele homem brilhante? Oito anos no Planalto? Ou a vida toda no Supremo? Esta era o nosso dilema cruel. Oxalá pudéssemos cloná-lo, e pô-lo nos dois lugares ao mesmo tempo.
Mas a luz não era dele. Moro apenas refletia a luz. A luz era Bolsonaro.
Assim como Lula previu que um dia ele seria um candidato, hoje pode-se prever que ele será um candidato derrotado.
O homem feriu de morte os eleitores de Lula quando o condenou, e demoliu os eleitores de Bolsonaro quando o traiu.
Moro foi uma estrela cadente que se destacou. Brilhou, se consumiu, caiu, se queimou. E se quebrou em incontáveis pedaços.
Moro foi apenas uma ilusão que se quebrou e se apagou.
Nilza Machado

Jornal da Cidade