O alagamento deste sábado é o mais recente capítulo da série de episódios assustadores que fazem parte da história do hospital desde a sua concepção

Inundação no Hospital de Campanha do Anhembi, em 27 de junho de 2020
Construído a toque de caixa para comportar a enxurrada de infectados pelo coronavírus que lotariam a rede pública e privada de saúde paulista – o que até agora não aconteceu -, o Hospital de Campanha do Anhembi ficou inundado durante as chuvas que caíram sobre São Paulo neste sábado, 27. Nos vídeos que circulam pelas redes sociais, é possível ver a água desabando do teto e alagando o chão entre dezenas de estrados de cama vazios (assista ao vídeo abaixo).
O alagamento é o mais recente capítulo da série de assombros que pontuam a trajetória do hospital desde a sua concepção.
Capítulo 1
Para começar, o local é administrado pela prefeitura, pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e pelo Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas).
O Iabas assinou um contrato de R$ 835,7 milhões com o governo do Rio de Janeiro para gerir 1.400 leitos distribuídos pelos hospitais de campanha prometidos por Wilson Witzel. O acordo, entretanto, foi rescindido no começo de junho por causa de atraso nas obras – e denúncias de bandalheiras. Seis dos hospitais prometidos não conseguiram sequer marcar a data da inauguração.
Capítulo 2
Em março, mês que antecedeu a abertura do Hospital de Campanha do Anhembi, a prefeitura havia dado início a uma obra emergencial, orçada em R$ 1,2 milhão, para reparos no telhado do complexo, segundo informações do portal G1. A conclusão está prevista para setembro.
Capítulo 3
Em 13 de maio, a SPTuris, responsável pelo complexo do Anhembi, pediu autorização à prefeitura para fazer as “contratações necessárias” para adotar “procedimentos ágeis para a recuperação da cobertura do pavilhão de exposições”. E destacou que essas contratações “são urgentes para os reparos emergenciais” no pavilhão onde está o hospital. De acordo com o G1, a secretaria municipal da Fazenda autorizou o remanejamento de R$ 1,2 milhões para a obra e a abertura do crédito para a SPTuris já foi publicada no Diário Oficial.
Capítulo 4
Em 6 de junho, deputados estaduais paulistas fizeram uma fiscalização no local e mostraram que boa parte do hospital estava completamente vazia. Camas sem colchão e a falta de um teto próprio (além do que cobre o pavilhão) chamaram a atenção dos parlamentares.
Capítulo 5
Neste sábado, o Sindicato dos Médicos de São Paulo afirmou que alguns pacientes precisaram ser remanejados para outros leitos por causa do alagamento. Segundo a entidade, não foi a primeira vez que isso aconteceu
A SPDM, contudo, garantiu que os equipamentos não sofreram danos e alegou que cabe à prefeitura cuidar da infraestrutura do Anhembi. O Iabas se eximiu de qualquer responsabilidade ao afirmar que só a prefeitura poderia tratar do assunto. A prefeitura limitou-se a informar que o vazamento ocorreu numa área que não está em funcionamento, que nenhum paciente foi prejudicado e que o local já está seco. Pelas respostas desencontradas, parece que faltou aos três administradores conversarem entre si.
Com capacidade para atender até 1.800 doentes infectados pelo vírus chinês, o Hospital de Campanha do Anhembi tem menos de 500 leitos ocupados desde 25 de maio. Neste sábado, 27, quando as chuvas invadiram o espaço, havia 220 pacientes internados.
Diante de tantos problemas e de uma taxa de ocupação tão baixa, é hora de desvendar o enigma: por que a prefeitura insiste em manter aberta uma estrutura tão grande, tão cara, tão pouco aproveitada e tão desprotegida?
Branca Nunes, Revista Oeste