quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

J.R.Guzzo: Impeachment de Bolsonaro é palpite para crise em 2020

A democracia no Brasil, aparentemente, 

tem essa particularidade: assim que sai 

o resultado das urnas a turma que

perdeu começa a procurar um jeito de

derrubar quem ganhou




O ano começa hoje e o brasileiro já tem na vitrine, à sua escolha e em muitos casos a preço de saldo, todo tipo de desgraças que o noticiário político vai lhe oferecer como companhia para os próximos 365 dias. Não vale a pena, levando em conta o ano que acaba de se encerrar, ficar muito impressionado com a quantidade e variedades das ofertas. Em 2018 houve mais ou menos umas 25 crises diferentes, todas “importantes”, e no fim das contas tudo acabou em três vezes zero. Tivemos a fatal demissão do ministro Zé, ou do ministro Mané, e as brigas definitivas entre um monte de gente de quem você nem lembra mais o nome. Tivemos os acessos de nervos do presidente da Câmara e a intervenção internacional na Amazônia “em chamas”. Houve o STF. Houve os Filhos do Presidente. Houve as gravações que iriam exterminar o ministro Moro. No fim, continua todo mundo vivo.
Um bom palpite sobre a crise a ser mais alavancada pelo noticiário em 2020? Tentem o impeachment do presidente da República. Não chega a ser uma novidade, pois dos cinco presidentes eleitos no Brasil desde a volta das eleições diretas, dois foram postos para fora do cargo por procedimentos de impeachment, Collor e Dilma. Tentaram emplacar o impeachment de mais um, Fernando Henrique (“fora FHC”) e já querem, agora, soltar o mesmo rojão para cima do presidente atual. (Só um, o ex-presidente Lula, escapou dessa sina; em compensação foi parar na cadeia). A democracia no Brasil, aparentemente, tem essa particularidade: todo mundo se diz disposto a dar a própria vida pelas eleições diretas, mas assim que sai o resultado das urnas a turma que perdeu começa a procurar um jeito de derrubar o candidato que ganhou – e como não é mais possível fazer isso com golpe militar, a grande solução é o impeachment. Está na Constituição. Faz parte das “instituições”. Virou vício. 
No caso de Bolsonaro, já estava se falando em impeachment logo que ele começou a governar – mas houve tanta crise nesse seu primeiro ano de governo, como dito acima, que parece não ter sobrado tempo para depor o homem. Agora, como as crises não têm dado em nada, voltou a aparecer a conversa do impeachment - junto com as inevitáveis “pesquisas” que mostram a sua popularidade caindo para abaixo do número zero. (É outra regra da democracia à brasileira: o único político que está autorizado pelos “institutos de pesquisa” a ter popularidade é Lula, embora não possa dar três passos no Viaduto do Chá.). Naturalmente, como diz a lei, é preciso que um presidente tenha praticado um crime, no ofício da presidência, para responder a um processo de impeachment. Mas isso é só um detalhezinho bobo que não vai estragar a discussão, não é mesmo? De mais a mais, sempre se acha um crime qualquer por aí e assim a discussão pode continuar rolando. Segue o jogo.
Esperem um pouco, portanto, porque o impeachment pode estar vindo aí. É pura pescaria em água mais do que turva, mas a política no Brasil não consegue pescar em água limpa – e nem quer.   
O Estado de S.Paulo