A revisão do Plano Estratégico da Petrobrás para o quinquênio 2020/2024 mostra que foram mantidas as linhas mestras da política da empresa voltadas para a redução de dívidas e a concentração de investimentos nas áreas do pré-sal.
São decisões de longo prazo que já permitiram notável recuperação da Petrobrás desde o fim das administrações do PT. O objetivo é transformar a estatal numa companhia semelhante às companhias privadas, numa fase de mudanças globais no setor. A Saudi Aramco, uma das gigantes de petróleo, controlada pelo governo da Arábia Saudita, maior produtor global, anunciou há pouco a abertura do seu capital.
Em nota à imprensa, a Petrobrás destacou o corte de dívidas. A dívida bruta da companhia foi reduzida em US$ 21 bilhões no terceiro trimestre, para US$ 90 bilhões, e o objetivo é limitá-la a US$ 60 bilhões em 2020. A expectativa é de que a alavancagem (relação entre a dívida líquida e o Ebtida – lucros antes de juros, tributos, depreciação e amortização) caia de 2,58 vezes para 1,5 vez até 2020.
Isso depende do programa de venda de ativos, com previsão de receitas de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões. A preocupação é propiciar ganhos aos acionistas, notou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires.
O corte do endividamento parece ser tratado pela administração atual como mais prioritário do que o nível dos investimentos. Estes deverão cair dos US$ 84,1 bilhões previstos no Plano Estratégico 2019/2023 para US$ 75,7 bilhões no plano recém-aprovado. Haverá maior concentração de investimentos em exploração e produção, cuja participação passará de 81,8% para 85%.
A produção deverá passar de 2,7 milhões de barris/dia (b/d) equivalentes de óleo e gás, em 2019, para 3,3 milhões de b/d em 2023. Esses indicadores são inferiores aos previstos por consultorias privadas e foram mal recebidos.
Dois pontos merecem relevo no novo plano estratégico. Um deles é o de que as projeções partem de premissas conservadoras, com o petróleo cotado a US$ 50 o barril nos próximos cinco anos (hoje, a cotação é pouco superior a US$ 60) e a US$ 45 o barril no longo prazo. Outro é o aumento da transparência: a estatal passará a anunciar não apenas a produção total, mas a produção que será comercializada.
Editorial de O Estado de S.Paulo