O Ibovespa terminou junho com alta acumulada de 4,06%, o melhor resultado mensal desde janeiro, quando avançou 10,82%. Entre altos e baixos, as perspectivas otimistas em relação à aprovação da reforma da Previdência no Congresso e a possibilidade de corte da taxa básica de juros (Selic), no âmbito local, e um eventual entendimento comercial entre EUA e China, no campo externo, conduziram os negócios, no mês em que a Bolsa atingiu recordes de pontuação.
No semestre, o índice da B3 registrou ganho de 14,88%. Nesta sexta-feira, 28, o Ibovespa fechou com leve alta de 0,24%, aos 100.967,20 pontos, terminando a semana com queda acumulada de 1,02%. Também as bolsas em Nova York encerraram no positivo, tanto no dia, quanto no mês e no semestre. Dow Jones avançou 14,03% nos primeiros seis meses do ano, o S&P 500, +17,35% e o Nasdaq, +20,66% no mesmo período. O tom positivo nos mercados acionários nesta sexta, tanto aqui quanto lá fora, foi dado pela expectativa do encontro deste fim de semana entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, durante a cúpula do G20, que acontece em Osaka, no Japão.
No câmbio, porém, os movimentos foram pontuais, e o dólar ficou estável ante outras moedas fortes e misto entre divisas emergentes. Ante o real, o dólar à vista terminou o pregão com avanço de 0,18%, a R$ 3,8404, com alta de 0,40% na semana, em meio ao aumento das remessas de lucros ao exterior por empresas em fim de semestre e à pressão antes da formação da Ptax do último dia do mês. Em junho, a moeda americana acumulou perda de 2,17% e, no ano, recuou 0,80%. Nos juros futuros, os DIs mais líquidos terminaram o semestre nas mínimas históricas, com a Previdência e as apostas de corte da Selic no radar, além da questão comercial sino-americana. Nesta sexta, os juros ampliaram a baixa e renovaram mínimas perto do encerramento da etapa regular. O movimento foi mais agressivo na ponta longa, cujas taxas registraram queda entre 12 e 13 pontos-base, o que, segundo operadores, foi motivado por fatores técnicos, relacionados ao fim de mês e de semestre. O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, fechado nesta sexta após 20 anos de conversações, compôs o clima favorável, mas não mexeu com os negócios.
Bolsa
Um otimismo cauteloso conduziu os negócios no mercado brasileiro de ações nesta sexta-feira e o Índice Bovespa teve alta leve, de 0,24%, após um pregão de baixa volatilidade e volume de negócios não muito expressivo (R$ 14,7 bilhões). Apesar do clima de prudência, os resultados de junho e do semestre foram comemorados. O índice fechou aos 100.967,20 pontos, com avanço de 4,06% no mês - o segundo maior do ano - e de 14,88% no semestre. Em dólares, o ganho mensal foi de 6,37% e o do acumulado do ano, de 15,94%.
Para Vítor Miziara, gestor da Criteria Investimentos, três fatores foram determinantes para o bom desempenho do Ibovespa em junho: melhora da expectativa de entendimento comercial entre Estados Unidos e China, avanço na tramitação da reforma da Previdência e aposta em corte de juros no Brasil e no exterior.
"Mas a próxima quinzena será decisiva para as questões domésticas, uma vez que se espera aprovação da reforma antes do recesso parlamentar e ainda não há definição sobre Estados e municípios. Além disso, teremos em julho nova reunião do Copom, a primeira em que se espera corte de juros, que depende do avanço concreto da reforma", diz.
Na avaliação de Victor Beyruti, da equipe de análises da Guide Investimentos, um dos pontos altos do mês foi a apresentação do relatório da reforma da Previdência com economia fiscal próxima do R$ 1 trilhão desejado pelo ministro da Economia, o que surpreendeu positivamente o mercado, que esperava desidratação maior. Quanto ao cenário internacional, ele lembra que, apesar da expectativa pelo encontro dos presidentes dos Estados Unidos e China na reunião do G-20, não se espera um entendimento concreto agora, mas apenas uma indicação de trégua na guerra comercial.
"O otimismo cauteloso do mercado nesta sexta é reflexo desse cenário de expectativas positivas, mas ainda sem sinais concretos", afirma.
As indicações de afrouxamento monetário nos Estados Unidos e na Europa também aumentaram o apetite por risco naqueles mercados e nas bolsas de países emergentes em junho. Depois de terem amargado pesadas perdas em maio, os índices das bolsas de Nova York terminam junho com ganhos superiores a 6%. O MSCI Emerging Markets, que mede a variação das bolsas de 24 países emergentes, chegou ao final de junho com ganho de 5,33%, contabilizando ganho de 9,83% no semestre.
Junho também foi marcado pela melhora da participação de investidores estrangeiros na B3. Até a última quarta-feira, 26, o saldo líquido dos investimentos externos na Bolsa brasileira era positivo em 763,563 milhões. O número é um avanço significativo em relação a maio, quando os estrangeiros retiraram mais de R$ 4 bilhões da bolsa brasileira, receosos quanto ao andamento da reforma da Previdência no País.
No pregão desta sexta-feira, as altas foram puxadas principalmente pelas ações de commodities e de energia elétrica. Entre essas, destaque para Eletrobras PNB (+2,59%), Petrobras PN (+0,66%) e Cesp PNB (+2,92%). Entre os bancos, o dia foi mais fraco, com os papéis seguindo direções opostas. Banco do Brasil ON subiu 0,26%, Itaú Unibanco PN ficou estável (+0,03%) e Bradesco PN perdeu 0,42%.
Mercados internacionais
Os conflitos comerciais travados entre Estados Unidos e China, que dominaram as atenções dos investidores durante o primeiro semestre do ano, continuaram a dar as caras nos mercados internacionais nesta sexta-feira, à medida que os agentes aguardam o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, que terá início às 23h30 (de Brasília) desta sexta. Enquanto a reunião não ocorre, os investidores foram às compras de ações de bancos, cuja alta deu apoio aos três principais indicadores acionários americanos, que acumulam ganhos de 14% a 21% no ano. No mercado de câmbio, porém, os movimentos foram bastante pontuais e o dólar chegou ao fim do dia perto da estabilidade em relação a outras moedas consideras fortes, assim como os rendimentos dos Treasuries.
O otimismo no início do ano com um possível acordo comercial sino-americano foi abandonado momentaneamente durante o semestre, mas voltou ao radar nos dias recentes. A reunião do G20, em Osaka, será palco do encontro entre Trump e Xi Jinping e reunirá as atenções dos agentes dos mercados mundiais. Na avaliação dos economistas Brett House e Juan Manuel Herrera, do canadense Scotiabank, "é improvável que qualquer reunião entre Trump e Xi e uma possível pausa nas tensões coloquem em curso uma reversão das tarifas existentes". Eles, contudo, acreditam que a Casa Branca continuará relutante em impor tarifas sobre os US$ 300 bilhões restantes em produtos chineses.
É com essa expectativa em mente que os investidores voltaram às compras nos mercados acionários. Nesta sexta, papéis de bancos apresentaram ganhos bastante expressivos. Além da perspectiva otimista quanto a uma trégua nas tensões tarifárias entre as duas maiores economias do globo, os investidores observaram, principalmente, a segunda rodada de testes de estresse do Federal Reserve (Fed), que avaliou os bancos dos EUA como "saudáveis" e os liberou para aumentar os pagamentos a investidores. Em Wall Street, a ação do Goldman Sachs subiu 2,65% e a do Bank of America avançou 2,80%.
Assim, nos mercados acionários como um todo, predominou o tom positivo que predominou em todo o ano. O índice Dow Jones subiu 0,28% nesta sexta e 14,03% no acumulado do ano e o S&P 500 avançou 0,58% nesta sexta e 17,35% desde o primeiro pregão de 2019. O Nasdaq eletrônico, por sua vez, retomou o nível dos 8 mil pontos, ao ter alta de 0,48% nesta sexta-feira, para 8.006,24 pontos. No acumulado do ano, o índice apresentou ganho de 20,66%.
O avanço significativo das bolsas americanas, contudo, não é visto com bons olhos por todos os agentes. Embora casas como LPL Financial e Credit Suisse acreditem que o S&P 500 tende a dar continuidade aos fortes ganhos no decorrer do ano, as diversas incertezas no cenário econômico e os sinais de desaquecimento da economia mundial podem reverter a tendência de novos recordes das bolsas americanas, como apontado pela repórter Monique Heemann em especial publicada no Broadcast às 13h06. Para alguns analistas, nem mesmo um acordo entre os EUA e China deve reverter essa tendência no médio prazo.
O melhor desempenho em junho do S&P 500 desde 1958 se deveu, além da questão comercial, à guinada "dovish" de grandes bancos centrais, em especial do Fed. "Apesar de esperarmos um corte de 50 pontos-base nos juros pelo Fed, o mercado está precificando, atualmente, uma redução de 75 pontos-base. O valor de negociação do dólar permanece próximo do maior nível em 17 anos. O dólar tem se mantido forte, principalmente em relação a moedas de economias em desenvolvimento", afirmaram analistas do Wells Fargo em nota a clientes. Eles esperam que o dólar se deprecie em relação a divisas de moedas avançadas, à medida que o crescimento da economia dos EUA e de outros países se estreite.
Como apontado pelo Wells Fargo, o índice DXY, que mede o dólar contra uma cesta de outras seis moedas principais, se manteve acima dos 96 pontos, apesar do viés "dovish" do Fed. Ainda nesta sexta-feira, no mercado de renda fixa, o retorno da T-note de dez anos caía para 1,998%, bastante perto dos níveis observados na última quinta-feira, 27. Já nos contratos futuros dos Fed funds, compilados pelo CME Group, 100% das apostas indicam um corte de ao menos 25 pontos-base nos juros em julho. Até o fim do ano, 58,7% das apostas esperam uma redução de ao menos 75 pontos-base.
A espera pelo G20 e pela reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) influenciou os preços do petróleo nesta sexta-feira. O WTI para agosto fechou em queda de 1,61%, a US$ 58,47 por barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex). Já na Intercontinental Exchange (ICE), o contrato do Brent para entrega em setembro, atualmente o contrato mais líquido, recuou 1,41%, para US$ 64,74 por barril.
Câmbio
O dólar fechou junho com queda de 2,17%, a segunda maior de 2019, atrás apenas de janeiro, quando a moeda americana recuou 5,4%. A semana agitada para o mercado de câmbio terminou com um dia mais calmo nesta sexta-feira, sessão em que o dólar pouco oscilou, mesmo com a disputa entre investidores pela definição da Ptax de junho, referencial usado em contratos cambiais de empresas e em balanços. Na semana, o dólar acabou subindo apenas 0,40% e no primeiro semestre, caiu 0,80%.
O dólar fechou a sexta-feira em leve alta de 0,18%, a R$ 3,8404. O dia foi de noticiário esvaziado, mas mesas de câmbio operaram no final da tarde com certa prudência, no aguardo de eventos importantes do final de semana. O mais esperado é a reunião neste sábado, 29, entre o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping, para tentar resolver a questão comercial entre as duas maiores economias do mundo.
No aguardo da reunião, o dólar era negociado praticamente estável nesta sexta ante divisas fortes, com o índice DXY recuando 0,02%. Perante emergentes, a moeda americana operava mista, mas também com oscilações mais contidas. "Com a deterioração das relações comerciais entre os EUA e a China causando estragos nos mercados globais, todos os olhos estão voltados para a cúpula Trump-Xi deste fim de semana na reunião do G-20", destaca a economista da corretora norte-americana Stifel, Lindsey Piegza.
O que for definido na reunião no sábado, 29, deve ser decisivo para os movimentos do dólar no mercado internacional na segunda-feira, com impacto direto aqui. Entre os analistas, persistem dúvidas sobre os resultados. "Não fiquem tão entusiasmados", alertam os estrategistas do grupo financeiro canadense Scotiabank. Para os economistas da consultoria inglesa Capital Economics, qualquer trégua entre Trump e XI Jinping acertada no Japão "não deve durar" por muito tempo. Mas caso um acordo seja fechado neste sábado, no curto prazo os mercados podem reagir positivamente, observam.
No mercado doméstico, as atenções também estão voltadas para a reforma da Previdência na comissão especial, com a leitura do relatório prevista para a próxima terça-feira, 02. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tem mostrado confiança que o texto vai ser votado no plenário da casa antes do recesso parlamentar, o que tem ajudado a acalmar os mercados.
Em junho, foi a perspectiva de avanço da Previdência aliada à redução da tensão comercial entre China e Estados Unidos que ajudaram o dólar a cair, após ter ultrapassado os R$ 4,10 em maio. "Esperamos que uma boa versão da reforma seja aprovada no Congresso no terceiro trimestre", ressalta o estrategista do banco francês Société Générale, Dev Ashish.
Operadores destacam que a pressão por compra de dólar no mercado à vista se reduziu nesta sexta. Muito da procura pela moeda americana já foi atendida nos últimos dias. A pressão pela compra de dólar, para empresas e investidores remeterem lucros e dividendos ao exterior, é um movimento comum em final de semestre e trimestre, e fez o Banco Central fazer dois leilões de linha esta semana, injetando US$ 2 bilhões no mercado.
Investidores estrangeiros reduziram consideravelmente suas posições contra o real no mercado futuro. Só nos últimos cinco dias, eles diminuíram em US$ 4,7 bilhões as apostas compradas (que ganham com a alta do dólar). Já os fundos de investimento aumentaram as posições vendidas (que ganham com a queda do dólar) em US$ 733 milhões no período. Operadores destacam que o maior otimismo com a previdência explica parte desse movimento.
Por conta do fechamento da Ptax e da rolagem de contratos de dólar futuro de julho para agosto, o dia foi de bom volume de negócios. No mercado à vista, o giro somou US$ 1,8 bilhões. No mercado futuro, o volume estava até às 17h20 em US$ 16 bilhões no dólar futuro de agosto, que nesta sexta passou a ser o contrato mais líquido.
Juros
Os juros futuros terminaram junho e o primeiro semestre nos pisos históricos, com destaque para o comportamento das taxas longas nesta sexta-feira, que ampliaram a queda e renovaram mínimas na reta final da sessão regular. Profissionais nas mesas de operação atribuíram o forte aumento do apetite pelo risco prefixado a fatores técnicos, relacionados a operações típicas de fim de mês e de semestre. No pano de fundo, o mercado manteve o otimismo sobre a aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar e a expectativa de um desfecho positivo para as questões comerciais entre Estados Unidos e China no encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, marcado para este fim de semana, no G20.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 5,85% (mínima), de 5,929% na última quinta-feira, 27, no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 6,730% para 6,64%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 7,12%, de 7,241% na última quinta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 7,571% para 7,44%.
"O movimento de queda nesta reta final é até surpreendente com o dólar de lado, mas não tem notícia nova. Vejo mais um ajuste nas carteiras dos fundos neste fim de semestre", disse Getúlio Ost, trader da Sicredi Asset, lembrando também que ainda influencia positivamente os negócios as declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na última quinta, garantindo que a Previdência será aprovada no plenário até 18 de julho. Para isso, a comissão especial deve votar o texto da reforma na próxima semana.
Para alguns gestores, o mercado pode ter sido influenciado em alguma medida pelo vencimento em torno de R$ 46 bilhões de LTN na segunda-feira, quando também haverá pagamento de cupom da NTN-F julho de 2019, de cerca de R$ 20 bilhões. "O mercado normalmente fica mesmo mais doador às vésperas de vencimento de papel", disse um deles.
No desenho dos últimos seis meses, a curva embicou para baixo e as taxas derreteram, em meio ao crescente otimismo com a aprovação da reforma da Previdência, apesar dos sucessivos atrasos na tramitação do texto no Congresso. Ao mesmo tempo, na política monetária, as apostas de queda da Selic ainda em 2019 ganharam força, na medida em que os dados fracos da economia colocaram o mercado em alerta para o risco de nova recessão no País. Para se ter ideia, no último pregão de 2018, a taxa do DI para janeiro de 2023 era de 8,53% (6,64% nesta sexta); a do DI para janeiro de 2025 era de 9,09% (7,12% nesta sexta); e a do DI para janeiro de 2021 era de 7,37% (5,85% nesta sexta).
O fechamento de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que vinha sendo negociado há 20 anos, contribui para compor o clima favorável da sexta-feira, na esteira de outras boas notícias, como a redução da meta de inflação para 3,5% em 2022, definida no fim da tarde desta quinta-feira pelo Conselho Monetário Nacional.
Aparentemente, não chegou a influenciar os negócios a decisão da Aneel de alterar de verde para amarela a bandeira das tarifas de energia que vai vigorar em julho, que prevê taxa extra de R$ 1,50 a cada 100 kWh consumidos. Nos cálculos do economista-chefe do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano, a mudança deve encarecer em 2,9% as contas de luz em julho, o que deve produzir um impacto de 0,11 ponto porcentual no IPCA do mês que vem.
Altamiro Silva Junior, Denise Abarca, Paula Dias e Victor Rezende, O Estado de S.Paulo