sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Resiliente, Renan mira apoio de Bolsonaro, muda discurso e se diz mais liberal

Desgastado por uma trajetória política de 40 anos e marcada por polêmicas dentro e fora do plenário, Renan Calheiros (MDB-AL), 63, precisava encontrar uma maneira de se adequar ao discurso de renovação que trouxe 46 novos senadores às 54 cadeiras disponíveis.
Resiliente, criou dois personagens para ele mesmo no intuito de se reinventar depois de 24 anos de Senado e almejando presidir a Casa pela quinta vez.
O senador Renan Calheiros (AL) durante reunião da liderança do MDB
O senador Renan Calheiros (AL) durante reunião da liderança do MDB que definiu sua candidatura pelo partido à presidência do Senado - Walterson Rosa - 31.jan.2019/Folhapress
Alagoano de Murici, ele define o "velho Renan", cujo mandato se encerra agora, como um "sobrevivente" e mais "estatizante", perfil que agradava os governos petistas de quem era aliado.
Agora, de olho nos novos ares e, principalmente, no apoio do governo Jair Bolsonaro, diz que o "novo Renan" é "mais liberal" e quer fazer as reformas. O discurso agrada o Palácio do Planalto, mas não passa 100% de confiança aos auxiliares de Bolsonaro.
Durante o governo de Michel Temer, com quem rompeu e depois reatou, trabalhou contra as reformas trabalhista e da Previdência —esta última prioridade também do novo governo e uma das primeiras pautas que serão discutidas pelo Legislativo neste ano.
No Senado desde 1995, Renan foi um dos oito que conseguiram renovar o mandato nas eleições que não aceitaram a volta de nomes como Eunício Oliveira (MDB-CE) e Romero Jucá (MDB-RR).
Político profissional, é conhecido por saber medir palavras e gestos. Até sair da reunião do partido que o ungiu candidato do MDB, Renan não admitia estar na disputa pela presidência do Senado.
Mas agia. Conversava por telefone e pessoalmente para conquistar votos internos contra Simone Tebet (MDB-MS), a quem derrotou, e para vencer resistências em outros partidos.
Se o movimento #foraRenan, os inquéritos que coleciona no STF (Supremo Tribunal Federal) e as constantes citações em delações da Lava Jato dificultam apoios públicos dentro e fora de seu partido, seu histórico de enfrentamento ao Judiciário em defesa dos pares funciona como ímã numa eleição em que pesa o corporativismo, por se tratar de senadores votando em senadores.

Galeria
Protesto contra Renan Calheiros em São Paulo
Protesto contra Renan Calheiros em São Paulo
Ato na avenida Paulista foi puxado pelo movimento Vem pra Rua
Além disso, quem o apoia diz que Renan tem força o suficiente para peitar o governo quando quiser e impedir que o Executivo enfie projetos goela do Legislativo abaixo.
A vitória que Renan tenta na eleição pela presidência do Senado tem um significado importante para o MDB.
Afastado do governo pela primeira vez em décadas, o comando do Senado e, consequentemente, do Congresso Nacional, permite que o partido continue como um ator importante na política do país.
Nos últimos 30 anos, Renan deu demonstrações claras de seu poder de resiliência e metamorfose.
Articulou a candidatura vitoriosa de Fernando Collor ao Planalto em 1989 e, no ano seguinte, rompeu com ele e chegou a depor contra o presidente na CPI (comissão parlamentar de inquérito) que investigou o caso PC Farias.
Em 1998, foi nomeado ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e em 2002 apoiou José Serra (PSDB), candidato derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem se aliou depois.
 
Eleito presidente do Senado em 2005 por dois biênios consecutivos,escapou da cassação em 2007, mas renunciou ao comando da Casa acusado de receber ajuda financeira de lobistas.
Voltou à presidência em 2013 e reelegeu-se em 2015. No ano seguinte, foi alvo de uma decisão do ministro Marco Aurélio, do STF (Supremo Tribunal Federal), que mandou afastar Renan do comando do Senado.
O senador ignorou a ordem judicial e nem sequer recebeu o oficial de Justiça. Foi salvo pelo plenário do Supremo, que reverteu a decisão.
Derrotar Tebet na disputa interna da bancada nesta quinta-feira (31) foi apenas um primeiro passo.
Nesta sexta-feira (1º), em plenário, tem um pulverizado movimento anti-Renan que ainda terá que debelar se quiser ser presidente do Senado pela quinta vez.

CANDIDATOS AO COMANDO DO SENADO

  • Renan Calheiros (MDB-AL)
  • Davi Alcolumbre (DEM-AP)
  • Major Olímpio (PSL-SP)
  • Alvaro Dias (PODE-PR)
  • Angelo Coronel (PSD-BA)
  • Esperidião Amin (PP-SC)
  • Tasso Jereissati (PSDB-CE)
  • Regguffe (sem partido-DF)
Indefinição
Fernando Collor (Pros-AL) - não admite candidatura, mas é dado como candidato por outros senadores

Daniel Carvalho, Folha de São Paulo