domingo, 13 de janeiro de 2019

Augusto Heleno diz que Battisti, terrorista comparsa de Lula, vai passar pelo Brasil antes de ser entregue ao governo italiano

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirmou que um avião da Polícia Federal deve buscar o italiano Cesare Battisti , que foi preso em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, no fim da tarde deste sábado . Ele não deu previsão de horário do voo. Questionado sobre o motivo de trazer o ex-ativista ao país, em vez de a Bolívia entregá-lo diretamente à Itália, já que ele tem pedido de prisão internacional, Heleno afirmou que ficou a cargo da PF fazer o transporte:

— Porque é o avião da Polícia Federal nosso que está indo buscar. E o avião tem problema de autonomia. Tem que pousar no Brasil.

Heleno negou que a movimentação planejada para garantir a passagem de Battisti pelo Brasil seja uma forma de o governo Bolsonaro usar como propaganda a prisão do italiano,  ex-ativista da esquerda que foi abrigado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à revelia de decisões judiciais e administrativas.  Um avião da Itália já estava posicionado em Santa Cruz de la Sierra para transportar Battisti para o país.
— Quer capitalizar nada, (o governo) quer botar para fora um bandido — disse o ministro.
Questionado se ele já não está fora do país, respondeu:
— Está fora nada. Já gastamos muito dinheiro com esse bandido.
A prisão gerou  grande repercussão na imprensa internacional.   Battisti usava uma barba falsa no momento em que foi detido e um documento expedido no Brasil com seu nome verdadeiro. Ele não ofereceu resistência, segundo informações da Bolívia.
  O presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro,  comemoraram a prisão nas redes sociais. O presidente acusou o PT de ser "um dos governos mais corruptos que já existiram no mundo".
As informações sobre a prisão de Battisti foram dadas pelo jornal italiano Corriere de la Sera. Já o perfil oficial da polícia italiana no Twitter postou, no início da manhã deste domingo, fotos de Battisti em seu poder.
"Equipe de policiais italianos com a polícia boliviana identificou e capturou Cesare Battisti. A atividade dos policiais antiterroristas italianos e do Serviço Internacional de Cooperação Policial é fundamental", diz a postagem.

O italiano é considerado foragido desde 14 de dezembro quando sua extradição foi autorizada pelo então presidente Michel Temer .  A ação que culminou na prisão de Battisti não teve participação direta da Polícia Federal do Brasil. No entanto, a PF teve papel na investigação de seu paradeiro. Tanto investigadores brasileiros quanto  italianos apuraram informações consistentes de que a Bolívia foi o destino escolhido  e municiaram os policiais do país de dados para encontrá-lo.
A operação de captura do italiano se deu devido a um processo de cooperação internacional, segundo a PF do Brasil. Ano passado, policiais chegaram a fazer mais de 30 diligências em busca de Battisti.
O Ministério da Justiça e  o Ministério das Relações Exteriores  são responsáveis pela negociação com o governo da Bolívia e o da Itália para a deportação. Os titulares das duas pastas, Sérgio Moro e Ernesto Araújo, estiveram com o  ministro Augusto Heleno em reunião emergencial neste domingo no Palácio da Alvorada com o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Heleno, Bolsonaro está "feliz" com a prisão de Battisti. O vice-presidente Hamilton Mourão, que mais cedo passou pelo Alvorada de bicicleta na companhia de sua mulher e seguranças, não participou da reunião.

Condenado à prisão perpétua

Battisti foi condenado à prisão perpétua em 1987 por ter participado, no fim dos anos 1970, de quatro homicídios atribuídos ao grupo italiano de esquerda "Proletários Armados pelo Comunismo", considerado praticante de atos terroristas pelo governo da Itália. Integrante do grupo, Battisti chegou a ficar dois anos preso na Itália, mas fugiu da cadeia em 1981 e se refugiou na França.
Os advogados do ativista italiano alegam que o julgamento teve motivações políticas, reclamam que não puderam fazer a defesa, já que ele foi julgado à revelia, e contestam o rigor da pena.

Renata Mariz, O Globo