Michelle Bolsonaro (Evaristo Sa/AFP)
A participação carismática e surpreendente de Michelle Bolsonaro na posse do 38° presidente da República do País, em Brasília, produziu signos políticos e de poder explícitos e inesperados. Sinais do tipo da aliança tácita com o enteado Carlos, que ultrapassam, em muito, o ineditismo do discurso de uma primeira dama, antes da fala do novo mandatário. Feito na linguagem de sinais dos surdos (Libra). Seguramente, o fato e a imagem mais empolgantes da festa, com direito a cinematográfico beijo do primeiro casal do país, sob aplauso da multidão presente.
Um grande marqueteiro – o melhor do mercado, atualmente – a quem se pagasse uma fortuna em reais ou em dólares , provavelmente, não teria feito melhor, mais espontâneo nem mais bonito e de tamanho significado e alcance positivos, para dar respiro a um governante que acabara de chegar ao seu ambiente de mando, com a imagem arranhada pelas acusações mais agressivas e virulentas de que se tem notícia, por estas bandas dos trópicos (sobretudo nas encarniçadas batalhas verbais nas redes sociais): de “ultra direitista”, “misógino”, “fascista”, “violento” e o escambau, como dizem os soteropolitanos no linguajar da beira da Baia de Todos os Santos .
Mas a força e simbolismo da presença de Michelle alcançaram amplitude e relevância bem maiores. Chegaram longe e ainda repercutem aqui, e em outros países, além da estética (que já não seria pouco), a figura feminina vestida com esmero e elegância e o porte e desembaraço da nova primeira dama, em todos os momentos das celebrações da posse. Incluindo o ato religioso na esplêndida Catedral de Brasília.
Aos 38 anos, a primeira dama, novo xodó de milhões de brasileiros, a começar pelos surdos (para evitar o “deficiente auditivo”, expressão preferida dos politicamente corretos, que começa a entrar em desuso), deu claras demonstrações de que não será mera figura decorativa no governo do marido, Jair Messias Bolsonaro, que se instala causando polêmica e fazendo barulho.
Que o digam os discursos de posse dos ministros Paulo Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça e Segurança) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que virou de pernas para o ar o Itamaraty, ninho de tucanos e petistas irmanados, para citar apenas três exemplos mais referenciais.
A primeira dama do Brasil, ex-assessora parlamentar da Câmara, que desenvolve há anos trabalho voluntário em favor dos surdos, protagonizou, talvez, no registro atento do jornal espanhol El Pais, “a única surpresa da posse que em geral seguiu o roteiro; e a performance desenvolta diante da multidão abriu a bolsa de apostas sobre o papel de Michelle no futuro governo”
Na linguagem dos surdos, ela produziu, no parlatório do Palácio do Planalto, outro fato relevante, de significado político e demonstrativo de afeto pessoal e gratidão. Fez agradecimento público e especial ao enteado, filho do presidente, Carlos Bolsonaro, apontado como cérebro da comunicação digital no WhatsApp e redes sociais na campanha vitoriosa.
Destacou Carlos principalmente pela solidária parceria, durante todo período em que estiveram juntos, na fase mais dolorosa e dramática, no hospital, depois que Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora. Nascia aí, provavelmente, a primeira e poderosa aliança do futuro governo. Revelada de público e sob intensos aplausos da multidão presente à festa da posse. A conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta
Com Blog do Noblat, Veja