CARACAS — Um juiz do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) da Venezuela, Christian Zerpa, desertou e partiu para o exterior, informou neste domingo o tribunal, acusando-o de fugir de uma investigação por crimes sexuais. Um dia depois de boatos sobre o rompimento de Zerpa com o governo de Nicolás Maduro e sobre sua decisão de fugir para os Estados Unidos com sua família, o TSJ — de linha oficialista — anunciou em comunicado que o juiz está sob investigação por “assédio sexual, atos lascivos e violência psicológica” contra funcionárias de seu escritório.
Em entrevista à jornalista Carla Angola, Zerpa afirmou que abandonou o país para não participar da posse de Maduro, marcada para a próxima quinta-feira, e questionada nacional e internacionalmente. De acordo com o juiz, a primeira-dama venezuelana, Cilia Flores, controla o Poder Judiciário do país e integra um grupo formado por Maduro; o ministro da Indústria e da Produção Nacional, Tareck El Aissami; o presidente da Assembelei Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, e os irmão Jorge e Delcy Rodríguez, respectivamente prefeito do município de Libertador e vice-presidente do país. O sexteto seria responsável por todas as decisões tomadas na política nacional da Venezuela.
O juiz destacou o ex-parlamentar e agora controlador-geral da República, Elvis Amoroso, como um dos responsáveis para que as ordens do governo sejam cumpridas dentro do TSJ.
— Para sentenças que têm relevância política, eleitoral ou constitucional é ativado um esquema de coordenação, e Elvis Amoroso se encarrega disso — afirmou Zerpa. — O mais sensato seria que Maduro renunciasse.
Segundo ele, ao ser nomeado juiz, recebeu uma chamada da primeira-dama na qual ela teria lhe dito: “Você sabe o que esperamos de você”.
— Faço um chamado à reflexão dos companheiros que pensam como eu. Não podemos seguir apoiando o que acontece na Venezuela. Não podemos continuar dando respaldo ao governo de Nicolás Maduro — afirmou Zerpa, advertindo que “há desespero e desencanto nas bases chavistas”. — Para eles (o governo) interessa ter ao lado pessoas que sejam disciplinadas e que acatem suas instruções, e eu, fazendo uma análise da situação com minha família, cheguei à conclusão que não fazia qualquer sentido continuar a apoiar um governo que só trouxe fome, miséria e destruição ao país.
Segundo Zerpa, boa parte dos juízes vive no complexo militar de Fuerte Tiuna em apartamentos designados pelo governo e “isso, de um jeito ou de outro, condiciona as posturas nos julgamentos e no tribunal.
De acordo com a jornalista, Zerpa está disposto a colaborar com o sistema de justiça americano nas investigações sobre corrupção e violações de direitos humanos contra funcionários públicos e colaboradores do governo Maduro.