O primeiro será lido na presença de deputados, senadores e presidentes dos Poderes constituídos, que farão parte da mesa na sessão solene de posse no plenário da Câmara de Deputados. O segundo discurso será dirigido ao público, na Praça dos Três Poderes, logo após receber a faixa presidencial de seu antecessor, Michel Temer (MDB).
Os pronunciamentos foram preparados nos últimos dias pelo próprio Bolsonaro, com a ajuda do futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e dos três filhos políticos, Flávio, eleito senador pelo Rio, Eduardo, reeleito deputado por São Paulo, e Carlos, vereador no Rio de Janeiro.
Considerado o auxiliar mais próximo do novo presidente, Heleno também foi o responsável por dar forma final aos pronunciamentos de Bolsonaro logo após a vitória no segundo turno da disputa presidencial. O general ainda ajudou a escrever o discurso da cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 10 de dezembro.
Enquanto recebia familiares e apoiadores na Granja do Torto, ontem à tarde, o presidente aproveitou para fazer ajustes finais nos textos. Até o chanceler Ernesto Araújo, que comandará a política internacional, foi consultado. Uma das principais preocupações de Bolsonaro é passar uma mensagem clara à comunidade internacional, de normalidade institucional.
Promessas de campanha
De acordo com interlocutores, não há previsão de que Bolsonaro faça um pronunciamento de improviso, mesmo quando se dirigir à nação no parlatório do Palácio do Planalto. No Congresso, os presidentes eleitos costumam fazer uma exposição mais formal e política. Já ao público em geral, o tom tende a ser mais emotivo. Por outro lado, alertam auxiliares de Bolsonaro, a se julgar pelo estilo do novo presidente, não será surpresa se fugir ao roteiro que ele mesmo determinou.
O discurso, segundo integrantes da equipe de Bolsonaro, vai reforçar promessas de campanha, como a de implementar uma administração pública mais enxuta e de tolerância zero com a corrupção. O novo presidente reforçará que o Brasil está prestes a entrar em um novo tempo, deixando para trás os anos de governo de esquerda. Apesar das referências negativas ao PT, a fala terá apelos por união.
Ontem, ao visitar a Granja do Torto, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o presidente eleito fará um discurso ao estilo “papo reto”, com linguagem popular que marcou sua campanha, sempre falando diretamente aos brasileiros de maneira geral.
— Vai ser um discurso de muita fé num Brasil que vai mudar, com muita humildade, como é o jeito dele. E aquela coisa: curto, papo reto, direto — afirmou Onyx.
De acordo com o futuro ministro, Bolsonaro “está bem, está animado, está se preparando”. Na saída, ele desceu do carro e falou com os apoiadores que estavam no local. Onyx disse que Bolsonaro desejava a eles um “2019 abençoado”.
— Quero agradecer vocês. Muito obrigado por tudo — disse o futuro ministro.
Ação contra ameaça
Além de Onyx, um dos irmãos do presidente eleito, Renato Bolsonaro, falou, ontem, com simpatizantes na entrada da granja. Ele disse que toda a família — incluindo a mãe de 91 anos e os cinco irmãos de Bolsonaro — estava no local, onde passaria a virada de ano.
— (Ele) tá com a família. Tá preparando o discurso dele agora. Então tá normal. É uma coisa simples. Igual à casa de vocês. Não tem mistério. É ambiente familiar, não tá falando de ministro — disse Renato.
A posse de Bolsonaro foi preparada ao longo dos últimos dias em meio a um ambiente de tensão por causa de ameaças de atentado contra o presidente eleito e até contra ministros do futuro governo. Ontem, enquanto a família presidencial estava na granja, a Polícia Federal deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em sete endereços de integrantes de um grupo batizado de “Maldição Ancestral”, que seria composto por suspeitos de difundir, pela internet, ameaças de ataque terrorista contra Bolsonaro. A ação dos supostos terroristas ocorreria durante a posse, nesta tarde.
A PF fez buscas em São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. A operação contou com a participação da Polícia Civil do DF. As investigações tiveram início depois que a Polícia Militar do DF foi chamada para desativar uma bomba deixada próxima a igreja Santuário Menino Jesus, em Brazlândia, a 48 quilômetros de Brasília.
Jussara Soares, André de Souza e Jailton de Carvalho, O Globo