terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Bolsonaro vai pregar união e austeridade em discurso

O presidente eleito, Jair Bolsonaro 28/10/2018 Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
O presidente eleito, Jair Bolsonaro 28/10/2018 Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Após encerrar uma sequência de quatro vitórias do PT nas urnas, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, fará na tarde de hoje, no primeiro discurso como chefe de Estado, um chamamento à união dos brasileiros e dirá que há esperança de dias melhores. Ele também fará defesa da austeridade na administração pública.

Quando realizar o juramento perante o Congresso Nacional, por volta de 15h, Bolsonaro se tornará o 38º presidente do Brasil. Terá sob seu comando um país com mais de 200 milhões de habitantes, brasileiros de diferentes crenças, posições políticas e visões de comportamento. Para falar a todos pela primeira vez, o presidente preparou dois textos.

O primeiro será lido na presença de deputados, senadores e presidentes dos Poderes constituídos, que farão parte da mesa na sessão solene de posse no plenário da Câmara de Deputados. O segundo discurso será dirigido ao público, na Praça dos Três Poderes, logo após receber a faixa presidencial de seu antecessor, Michel Temer (MDB).
Os pronunciamentos foram preparados nos últimos dias pelo próprio Bolsonaro, com a ajuda do futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e dos três filhos políticos, Flávio, eleito senador pelo Rio, Eduardo, reeleito deputado por São Paulo, e Carlos, vereador no Rio de Janeiro.
Considerado o auxiliar mais próximo do novo presidente, Heleno também foi o responsável por dar forma final aos pronunciamentos de Bolsonaro logo após a vitória no segundo turno da disputa presidencial. O general ainda ajudou a escrever o discurso da cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 10 de dezembro.
Enquanto recebia familiares e apoiadores na Granja do Torto, ontem à tarde, o presidente aproveitou para fazer ajustes finais nos textos. Até o chanceler Ernesto Araújo, que comandará a política internacional, foi consultado. Uma das principais preocupações de Bolsonaro é passar uma mensagem clara à comunidade internacional, de normalidade institucional.

Promessas de campanha

De acordo com interlocutores, não há previsão de que Bolsonaro faça um pronunciamento de improviso, mesmo quando se dirigir à nação no parlatório do Palácio do Planalto. No Congresso, os presidentes eleitos costumam fazer uma exposição mais formal e política. Já ao público em geral, o tom tende a ser mais emotivo. Por outro lado, alertam auxiliares de Bolsonaro, a se julgar pelo estilo do novo presidente, não será surpresa se fugir ao roteiro que ele mesmo determinou.
SEGURANÇA
Bolsonaro vai usar colete à prova de bala.
Haverá agentes de segurança infiltrados na multidão.
12 mil militares e policiais
vão participar do esquema
A Esplanada e ruas próximas já estarão fechadas ao trânsito no dia 30 de dezembro.
Haverá atiradores de elites em pontos estratégicos
A partir da Rodoviária do Plano Piloto, haverá 4 linhas de revista e detectores de metal.
Não haverá bloqueio de celulares
O espaço aéreo será fechado
O discurso, segundo integrantes da equipe de Bolsonaro, vai reforçar promessas de campanha, como a de implementar uma administração pública mais enxuta e de tolerância zero com a corrupção. O novo presidente reforçará que o Brasil está prestes a entrar em um novo tempo, deixando para trás os anos de governo de esquerda. Apesar das referências negativas ao PT, a fala terá apelos por união.
Ontem, ao visitar a Granja do Torto, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o presidente eleito fará um discurso ao estilo “papo reto”, com linguagem popular que marcou sua campanha, sempre falando diretamente aos brasileiros de maneira geral.
— Vai ser um discurso de muita fé num Brasil que vai mudar, com muita humildade, como é o jeito dele. E aquela coisa: curto, papo reto, direto — afirmou Onyx.
De acordo com o futuro ministro, Bolsonaro “está bem, está animado, está se preparando”. Na saída, ele desceu do carro e falou com os apoiadores que estavam no local. Onyx disse que Bolsonaro desejava a eles um “2019 abençoado”.
— Quero agradecer vocês. Muito obrigado por tudo — disse o futuro ministro.

Ação contra ameaça

Além de Onyx, um dos irmãos do presidente eleito, Renato Bolsonaro, falou, ontem, com simpatizantes na entrada da granja. Ele disse que toda a família — incluindo a mãe de 91 anos e os cinco irmãos de Bolsonaro — estava no local, onde passaria a virada de ano.
COMO SERÁ A CERIMÔNIA DA POSSE DE BOLSONARO
Esquema de segurança será inédito para esse tipo de evento
O povo poderá observar o desfile à distância, atrás de um cordão de isolamento
CHEGADA DO
PRESIDENTE
ELEITO
CATEDRAL
DE BRASÍLIA
CONGRESSO
NACIONAL
Senado
PALÁCIO DO
PLANALTO
Câmara
PALÁCIO
ITAMARATY
Começo
Parlatório
Telão
Supremo
Tribunal
Federal
14h30m
Praça dos Três
Poderes
O presidente eleito segue em carro aberto pela Esplanada até o Congresso Nacional, aonde deve chegar por volta das 14h50m*
Palácio do Planalto
16h30m
No Congresso
Após subir a rampa do Planalto, recebe a faixa presidencial do antecessor e faz pronunciamento.
15h
No Congresso, é recebido pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, e ocorre a cerimônia de posse.
17h
Recebe delegações de outros países e dá posse aos ministros.
Saída do Congresso
Palácio do Itamaraty
16h
18h30m
Na saída do Congresso, recebe honras militares e segue para o Palácio do Planalto.
Participa de cerimônia no Itamaraty, com autoridades estrangeiras.
DRAGÕES DA INDEPENDÊNCIA
Unidade militar criada em 1808 por Dom João VI. Os Dragões se revezam com o Batalhão da Guarda Presidencial na tarefa de guardar os palácios onde moram e trabalham o presidente da República e o vice-presidente
O ROLLS-ROYCE PRESIDENCIAL
Fabricado e comprado em 1952, foi restaurado com peças e acessórios originais trazidos da Inglaterra, especialmente para as partes de madeira e couro
Público estimado
2003
(1º mandato de Lula)
150 mil
2007
(2º mandato de Lula)
10 mil
2011
(1º mandato de Dilma)
30 mil
2015
(2º mandato de Dilma)
40 mil
*em razão de questões de segurança, não está descartada a possibilidade de Bolsonaro ir em carro fechado
2019
(Estimativa para
posse de Bolsonaro)
300 mil
— (Ele) tá com a família. Tá preparando o discurso dele agora. Então tá normal. É uma coisa simples. Igual à casa de vocês. Não tem mistério. É ambiente familiar, não tá falando de ministro — disse Renato.
A posse de Bolsonaro foi preparada ao longo dos últimos dias em meio a um ambiente de tensão por causa de ameaças de atentado contra o presidente eleito e até contra ministros do futuro governo. Ontem, enquanto a família presidencial estava na granja, a Polícia Federal deflagrou uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em sete endereços de integrantes de um grupo batizado de “Maldição Ancestral”, que seria composto por suspeitos de difundir, pela internet, ameaças de ataque terrorista contra Bolsonaro. A ação dos supostos terroristas ocorreria durante a posse, nesta tarde.
A PF fez buscas em São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. A operação contou com a participação da Polícia Civil do DF. As investigações tiveram início depois que a Polícia Militar do DF foi chamada para desativar uma bomba deixada próxima a igreja Santuário Menino Jesus, em Brazlândia, a 48 quilômetros de Brasília.
Eleitores de Bolsonaro comemoram posse do novo presidente eleito, em Brasília Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
Eleitores de Bolsonaro comemoram posse do novo presidente eleito, em Brasília 
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

Jussara Soares, André de Souza e Jailton de Carvalho, O Globo