![Edifício da Caixa Econômica Federal, em Brasília
Foto: Jorge William / Globo](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23349543-c11-6bb/GEOMIDIA/375/x74321555_BRASILBrasiliaBSBPA18-01-2017PAEdificio-da-Caix.jpg.pagespeed.ic.T57aef6FWk.jpg)
Com a missão de serem mais enxutos e focados em seus “objetivos sociais” sob o novo governo, os bancos públicos terão o desafio de manter a relevância mesmo com participação menor no crédito e de adaptar a estrutura para atuação mais restrita, avaliam analistas do setor bancário.
— Antes, o desafio da Caixa era sua estrutura de capital e a qualidade dos seus ativos. Hoje, é o custo em relação ao balanço que está encolhendo. Mesmo com a contribuição importante dos PDVs (Plano de Demissão Voluntária), a Caixa, por ser estatal, tem flexibilidade de pessoal restrita — disse Ceres Lisboa, da Moody’s.
Em novembro, a Caixa anunciou seu terceiro PDV, com o objetivo de abranger até 1.600 funcionários e reduzir os custos em R$ 324 milhões por ano. Esse é o terceiro PDV da Caixa em dois anos. Os dois primeiros reduziram os quadros do banco em 9%, segundo a Moody’s. A agência calcula que isso ajudou a diminuir o peso dos custos em relação às receitas da Caixa de 68,5% para 57,7% desde o fim de 2016.
Isso será ainda mais importante, segundo a analista, devido às margens menores dos segmentos de habitação e crédito consignado, que vão concentrar os esforços do banco daqui para frente. Ou seja: são áreas menos lucrativas. Desde 2014, a participação da habitação na carteira de crédito da Caixa subiu de 56% para 62%, enquanto a de grandes corporações caiu de 6,1% para 3,6%.
— O resultado é que a Caixa não pode fazer apenas habitação e consignado. Ela terá que compensar a rentabilidade menor gerando outras receitas junto ao público de mais baixa renda, como serviços, seguros etc. — acrescentou Ceres.
No caso do BNDES, espera-se que o governo pressione para que o banco acelere a devolução dos R$ 280 bilhões ainda devidos ao Tesouro. Segundo Teresangela Araes, da Moody’s, há espaço para que se entregue mais que os R$ 26,6 bilhões previstos este ano, dada a redução dos desembolsos — que foram de R$ 190,4 bilhões em 2013 e devem ter fechado 2018 perto de R$ 70 bilhões. O desafio é evitar que isso comprometa a capacidade de crédito do banco. A redução da carteira de desembolso também traz desafios. Para Ceres, isso deve ser acompanhado de redução de estrutura.
No BB, privatizações
No BB, uma das intenções do novo governo é privatizar a BB DTVM, maior gestora do país. Nesse caso, o plano também pode esbarrar na rentabilidade do banco.
— Vender esse braço seria uma renúncia de receita muito grande. Eles vão analisar outras opções para reduzir o tamanho, mas não vejo o banco deixando esse bolo na mesa — afirmou Alexandre Albuquerque, que acompanha o BB na Moody’s.
Embora a tendência seja de redução da participação dos bancos públicos, como o crédito deve crescer 11% este ano, segundo a Fitch, mesmo eles vão emprestar mais, disse o diretor Claudio Gallina:
— O capital desses bancos melhorou. Logo, eles têm capacidade de expansão. A questão é saber se eles vão crescer mais que a inflação ou não.
Rennan Setti, O Globo