quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

‘A esposa’, por Susana Schild

Glenn Close e Jonathan Pryce em cena do filme 'A esposa' Foto: Graeme Hunter / Graeme Hunter Pictures
Glenn Close e Jonathan Pryce em cena do filme 'A esposa' Foto: Graeme Hunter / Graeme Hunter Pictures

Alguns filmes levam a chancela de “vale pela atriz”. Este é o caso de “A esposa”, com presença eletrizante de Glenn Close. E que o adjetivo não seja confundido com uma atuação histriônica ou exuberante. É na contenção, na busca da invisibilidade, na modéstia, que Glenn Close brilha como a mulher que abriu mão de sua identidade, de seu talento, de seus sonhos para alimentar o ego, a ambição e o reconhecimento do marido na profissão e na vida. Ela é Joan, ele é Joe (Jonathan Pryce, excelente). Quando Joe recebe o Prêmio Nobel, o casal viaja a Estocolmo.
Baseado em livro da americana Meg Wolitzer, o projeto levou 14 anos para chegar às telas, sob direção elegante e acadêmica de Björn Runge, cineasta sueco: o passado é revelado por meio de flashbacks (a jovem Joan é interpretada por Annie Starke, filha da atriz), a fotografia de Ulf Brantas é requintada, os diálogos são irônicos, a tensão crescente envolve família e oportunistas (como Christian Slater, ótimo). A gota d’água, como previsível, transborda após incontáveis brindes de champanhe.
Na trama que pode ser vista como antítese de “Nasce uma estrela”, em que um homem não se poupa pela carreira de uma mulher, a estrela de “A esposa” é mesmo Glenn Close, que acaba de levar o Globo de Ouro (derrubando a favorita Lady Gaga), e com altas chances de levar o Oscar em sua provável sétima indicação. Por que a Academia, como Joan, esperou tanto, não se sabe. Resta o consolo: nunca é tarde. 

O Globo