quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Ruim com ela, pior sem ela: Theresa May ganha no desespero, por Vilma Gryzinski

São tempos estranhos no coração da civilização europeia. Theresa May viaja para Bruxelas , de pires na mão, como derrotada, apesar de vitoriosa na manobra interna de sue próprio partido para derrubá-la.
“Instabilidade”, “políticos traidores“, “incompetência terminal”, caos” e “catástrofe” são algumas das palavras mais usadas para definir a situação do Reino Unido, como se fosse um Brasil qualquer.
Um francês de origem marroquina, “promovido” na cadeia de ladrão a terrorista, vaga por territórios desconhecidos, apesar de ter as polícias da França e da Alemanha em seu encalço. Ele passou mais de vinte minutos esfaqueando e atirando em pessoas no centro de Estrasburgo, uma joia arquitetônica.
Em lugar da revolta contra um desgraçado que mata inocentes justamente numa feira de Natal, muitos “coletes amarelos” mergulham no conspiracionismo alucinado.
Garantem que foi um atentado “encomendado” por Emmanuel Macron para desmobilizar os protestos que chacoalharam a França.
Isso depois de Macron ter dado meia-volta em todos os seus princípios e, tal um patrício romano acalmando a plebe, distribuído benesses como um aumento de cem euros do salário mínimo que sairá dos cofres do governo.
Melhor estourar o déficit do que perder o poder, raciocinou como o mais puro-sangue populista, exatamente a categoria política à qual pretende ser o contraponto.
May e Macron representam os rebuliços que estão acontecendo em vários pontos do mundo, com a participação pujante, imediatista e até caótica daquela gente que costumava ser criticada por não se envolver com política, movida pelas redes sociais.
Pessoalmente de retidão e dignidade impecáveis, Theresa May está se submetendo – ou sendo submetida – a indignidades que chegam a causar agonia.
A tentativa de derrubá-la feita por “rebeldes” de seu próprio Partido Conservador culminou uma semana massacrante. A primeira-ministra foi obrigada a retirar de votação, no último minuto, o acordo para o Brexit que fez com a União Europeia.
O acordo é odiado por aqueles que querem sair logo e para sempre, sabotado pelos que sonham com um segundo plebiscito que anularia o resultado do primeiro e boicotado pela oposição.
Não vai passar na Câmara dos Comuns e não vai ter a menor alteração concedida pela União Europeia, apesar de mais um giro mendicante de Theresa May.
A primeira-ministra vai comer castanha no Natal em Downing Street – e assar um ganso em sua própria casa, como faz todos os anos: é uma “foodie”, fanática por comidas gourmet, que tem mais de 150 livros sobre culinária.
Mas não existe receita à vista que resolva o impasse da votação do acordo sobre o Brexit. Allister Heath, diretor de redação do Sunday Telegraph, usou os seguintes termos para descrever a “vitória de Pirro” da primeira-ministra:
“O fracasso do desafio à liderança não apenas não resolve nada de realmente importante, como torna ainda mais difícil divisar um caminho através do tumulto atual que não conduza a um calamitoso abalo de confiança na política britânica e, eventualmente, a um governo de Jeremy Corbyn.”
Jeremy Corbyn é o equivalente ao PT, hoje, no Reino Unido.
Apesar de ganhar o voto de confiança (200 a favor, 117 contra), continua Heath, Theresa May “não vai conseguir governar de nenhuma forma significativa. Sua administração vai se desintegrar e ela não conseguirá aprovar qualquer projeto de lei”.
“Ela não é amada ou admirada ou temida por seu partido, que tem profunda antipatia por seu acordo, sua única obra política; mas eles não conseguiram chegar a um acordo sobre qualquer coisa que fosse melhor e estavam apavorados demais para mudar tudo de novo.”
Tá feia a coisa, não?

Veja