Mandy Ginsberg, CEO do Match, fala sobre concorrência e futuro dos serviços de namoro online
NOVA YORK
Uma década atrás, quando Mandy Ginsberg perguntava a casais como eles tinham se conhecido, alguns ofereciam respostas fictícias como "amigos nos apresentaram”. Quando ela revelava que trabalhava para uma empresa de encontros online, as respostas mudavam na hora: “Na verdade nos encontramos via Match”, diziam.
Em quase 13 anos de Match Group, Ginsberg, que se tornou presidente-executiva da companhia em janeiro, viu o estigma negativo associado aos serviços de encontros quase desaparecer.
O Match é dono de aplicativos de encontros populares como Tinder, Hinge e OkCupid, além de marcas menos conhecidas como o PetPeopleMeet, dedicada a pessoas solteiras que gostam de animais, e o LDSPlanet.com, para devotos da Igreja Mórmon.
A companhia sediada em Dallas está expandindo para América Latina, Coreia do Sul, Índia e Japão para atender a uma audiência que estima em 600 milhões de solteiros.
[ x ]
O primeiro ano de Ginsberg no comando da empresa foi movimentado. Depois de tentar, sem sucesso, uma tomada de controle do app de encontros Bumble, a Match processou o rival no segundo trimestre por violação de uma patente. A Bumble reagiu acusando o Match de “bullying”, com um processo que pede indenização de US$ 400 milhões.
Em seguida, o Facebook anunciou que entraria no mercado de paquera, causando queda de 22% nas ações do Match em um dia, ainda que elas tenham se recuperado mais tarde.
A despeito das pressões competitivas, o setor “nunca, nunca vai secar”, garante Ginsberg em entrevista ao The Wall Street Journal.
Você está perdendo muito sono com a entrada do Facebook?
Há muitas outras coisas que me fazem perder o sono. Preocupo-me com nosso mapa de rota, se estamos inovando o bastante, se dispomos dos talentos necessários. Não podemos subestimar o Facebook, mas confio que as pessoas que têm 21 anos ou mais não desistirão do Tinder para usar o Facebook.
Quem não está usando os seus apps hoje e você vê como um mercado potencial?
No caso da OkCupid, há todas aquelas perguntas que ajudam a conhecer pessoas. Na Índia, as questões são diferentes. “Paneer [tipo de queijo] na pizza: sim ou não?”. Ou “as mulheres devem continuar trabalhando depois de casar?” Não são perguntas que se faria nos Estados Unidos. Estamos garantindo que o produto se torne muito mais relevante.
Seus produtos mudaram na era do #MeToo?
Sou mulher e mãe de uma jovem de 20 anos que usa apps de encontros. Penso muito na segurança e na proteção, especialmente das usuárias. O fato de que tenhamos diversos apps [de encontros] ajuda, porque se existe mau comportamento em um deles, podemos identificar o usuário e exclui-lo de todos os outros. Digo “exclui-lo” porque, em geral, vemos mais mau comportamento da parte dos homens.
Quando assumi o posto pensei muito sobre o que mais teríamos de fazer. Criei um conselho consultivo de segurança. Tarana Burke, fundadora do movimento #MeToo, faz parte dele. Isso nos ajudou a identificar se há alguma área descoberta e o que devemos fazer de diferente.
A InterActive Corp., de Barry Dillard, controla mais de 80% do Match. Que conselhos Dillard lhe deu?
Ele toma decisões por instinto. Gosta de ir direto ao cerne do problema e estimula as pessoas a fazer o mesmo. Nem sempre é fácil. Ele é conhecido como um cara que acredita em tensão, em desafiar os executivos. Mas acho que isso tudo funciona para o bem.
Que tipo de problema você levaria a ele?
O foco de Barry Dillard é deliciar os consumidores. Quando olhamos o mapa de rota do Tinder e pensamos a sério no que vemos lá, para criar uma experiência mais intensa de estilo de vida, é sempre interessante ver o que desperta o interesse de Dillard. Ele diz coisas como “vocês não estão entendendo a psique do consumidor”. Não é que ele diga algo como “é isso que vocês deveriam ter feito para resolver a questão”. É mais um diálogo, uma discussão.
Qual foi o melhor conselho que você já recebeu sobre sua carreira?
Quando eu era adolescente, minha mãe me disse que “quando você quer alguma coisa, abra a boca e peça. Qual é a pior coisa que pode acontecer? Alguém responder que não”. Você precisa estar disposto a ouvir não. Não acho que as mulheres façam isso da mesma maneira que os homens, e talvez com sorte eu inspire outras mulheres a abrir a boca e pedir.
Que cara terá o Match Group em 2025?
A despeito de tanta tecnologia, as pessoas estão mais desconectadas que nunca. É importante que produtos como os nossos girem em torno das conexões humanas na base individual. As coisas continuarão a acontecer face a face, diante de uma xícara de café, de uma taça de vinho. É bom que aconteçam —as pessoas estão solitárias.
O vídeo terá um papel a desempenhar. Precisamos olhar uns nos olhos dos outros, precisamos compartilhar nossas vidas, seja por cinco minutos, uma hora ou cinco anos.
The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci
Chip Cutter, THE WALL STREET JOURNAL