A equação que soma uma derrota acachapante na eleição presidencial à vitória de João Doria na disputa pelo governo de São Paulo resulta na inevitável conclusão de que o PSDB, tal qual o conhecemos, terá acabado a partir de 2019.
Doria ascenderá ao comando do estado governado pelos tucanos há mais de duas décadas com o desejo de assumir o controle do partido, modificar seu discurso e, com isso, cacifar-se para a disputa pelo Planalto de 2022.
As pretensões de domar o tucanato passam pelo afastamento de seu outrora padrinho político, o ex-governador Geraldo Alckmin, do comando da sigla.
Com a vitória, Doria concluiu a trajetória de criatura que engoliu o criador.
Depois de flertar com a pretensão de ser candidato a presidente já em 2018, ele assumiu a disputa pelo governo de São Paulo com o partido dividido.
Na campanha, quando Alckmin amargava índices pífios de intenção de voto na corrida pelo Planalto, foi o primeiro a dizer em alto e bom som que Jair Bolsonaro (PSL) teria vaga garantida no segundo turno após sofrer um atentado.
Quando a previsão ganhou ares de irreversível, declarou apoio ao hoje presidente eleito numa tentativa de surfar a onda de direita inflada por Bolsonaro.
Deu certo. Doria conseguiu superar a rejeição de eleitores da capital paulista ao seu nome garantindo expressiva votação em cidades do interior.
Ele havia desagradado os que o alçaram à Prefeitura de São Paulo ao deixar o posto em menos de dois anos para concorrer ao governo estadual.
O tucano nunca escondeu que tinha vontade de ir além. Iniciou o mandato de prefeito com aparições midiáticas, transmitindo pela internet ações nas ruas vestido de gari, de pintor e de lixeiro.
A publicidade que fez sua avaliação despontar no início da gestão não foi capaz de suplantar os problemas que o cotidiano da maior cidade do país impõe a todos os que a administram.
O desafio à frente do governo será maior, em todos os sentidos.
Desta vez, Doria não poderá contar com um plano de curto prazo. Para se cacifar à Presidência, terá que cumprir todo o mandato e fazer de sua administração uma vitrine capaz de atrair o país que relegou o PSDB ao quarto lugar da disputa pelo Planalto neste 2018.
Mais: terá que fazer isso encontrando o equilíbrio entre o apoio que já declarou a Bolsonaro e o fato de que os partidários do presidente eleito o veem como potencial adversário daqui a quatro anos.
O tucano, que quer colocar Bruno Araújo (PSDB-PE), seu aliado, no comando do PSDB, precisará ainda conter a possível debandada de quadros que não reconhecem nele um nome identificado com a legenda.
Para chegar ao lugar que almeja, Doria tentará desfigurar e dar novo rosto à sigla. Fará isso buscando o caminho da direita. Resta saber se acertará a dose, dado que a parcela do país que parece se identificar com esse discurso já encontrou no PSL um nome para depositar suas expectativas.
Daniel Lima, Folha de São Paulo