terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Nos Estados Unidos, economia forte, liderança instável. O que vai prevalecer em 2019?


O presidente americano Donald Trump
Foto: JIM WATSON / Jim Watson/AFP/7-12-2018
O presidente americano Donald Trump Foto: JIM WATSON / Jim Watson/AFP/7-12-2018

NOVA YORK - Em algum momento nos últimos dois meses, previsões de uma forte desaceleração ou recessão em 2019 passaram de uma opinião isolada para algo reconhecido por todos.
É verdade que a economia global está engasgando e que o mercado de ações enfrenta seu pior recuo em uma década, com o S&P 500 registrando queda superior a 19% entre 20 de setembro e até o fim desta segunda-feira. Este sentimento de tristeza e pessimismo, contudo, se antecipou aos acontecimentos na prática, especialmente considerando a economia americana.
O risco real não é de que desafios intransponíveis tirem a economia dos trilhos, mas de que uma liderança fraca transforme choques econômicos moderados em uma crise.
Com a combinação do comportamento errático do presidente Donald Trump e de um governo de poucos funcionários nos Estados Unidos, crises em potencial enfrentadas por outras grandes economias globais e a falta de confiança entre os aliados e principais parceiros comerciais americanos podem transformar desafios econômicos rotineiros em algo pior.
Pesquisas apontam o aumento do pessimismo entre os altos executivos. No fim de semana, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, chamou presidentes dos bancos para obter garantias de que suas instituições têm liquidez o suficiente para continuar a oferecer crédito ao consumidor e às empresas, de acordo uma nota divulgada pelo órgão.
É o tipo de anúncio que arriscava criar mais prejuízo do que pretendia evitar. Se um alto funcionário da área de saúde anunciasse que tinha se reunido com presidentes das principais farmacêuticas e dissesse que estava grato por saber que não há redução no fornecimento de remédios, a primeira reação das pessoas não seria de alívio, mas de questionamento: “Espera aí, temos de nos preocupar com falta de medicamentos?”.
Além disso, existem os repetidos ataques feitos pelo presidente ao Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que é liderado por profissionais nomeados diretamente por ele. Apenas nos últimos três dias, essas críticas incluíram informações de que Donald Trump considerou a legalmente questionável possibilidade de demitir o presidente do Fed, Jerome Powell; esforços de representantes do governo para derrubar essa possibilidade e um novo ataque feito pelo presidente pelo Twitter na manhã desta segunda-feira.
Tudo isso levanta a possibilidade de que, se as coisas piorarem, o governo dos EUA será mais um agente do caos do que a fonte de estabilidade e calma pela qual é marcadamente reconhecido durante as crises.

Indústria e serviços em alta

A falta de confiança na liderança global explica esse paradoxo: uma economia que está indo tão bem e ao mesmo tempo demonstra convicção de que as coisas estão prestes a ficarem ruins.
A taxa de desemprego está perto da maior baixa em cinco décadas, assim como a de pedidos de auxílio-desemprego. O consumidor americano se mostra forte e este parece ter sido um dos períodos de Natal mais fortes em vendas em muitos anos.
Pesquisas com gerentes da área de suprimentos, que funciona como um sistema de alerta antecipado em caso de desaceleração no comércio, mostram que o setor está em patamar fortemente positivo. Na pesquisa do Instituto de Gerenciamento de Suprimentos, o índice acima de 50 pontos indica que a economia está em expansão. Na sondagem mais recente, marcou 62.1 para a indústria e 60.7 para serviços.
O alerta de cautela mais concreto vem do mercado financeiro. Mas o mercado de títulos é mais atrelado aos altos e baixos da economia do que o mercado de ações. E, embora sugira que haverá crescimento mais lento adiante, não está em patamar recessivo.
Neil Irwin, do New York Times