WASHINGTON
Lanette Johnson tinha um dia de folga programado, em seu emprego na Best Buy, e planejava passá-lo em companhia de seu filho Logan, de quatro meses de idade.
Mas naquele dia, em outubro de 2017, o chefe de Johnson lhe disse que a loja em que ela trabalha, em Arlington, Virgínia, receberia uma visita importante da sede da companhia, e perguntou se ela não poderia encontrar alguém para tomar conta de Logan, porque ele precisava de sua ajuda na loja.
A creche que em breve começaria a atender o bebê ainda não estava funcionando, o que eliminava essa opção. Os familiares que vinham ajudando Johnson a tomar conta do menino não estavam disponíveis naquele dia. E por isso, Johnson levou Logan ao trabalho, e fez sua apresentação com o bebê dormindo em seu carrinho, a alguns passos de distância.
“Eu teria preferido não levá-lo, mas tinha minhas responsabilidades na loja a cumprir”, disse Johnson.
Agora, Johnson e Logan são a inspiração para o novo benefício de creche alternativa que a Best Buy criou para todos os seus empregados de período integral ou parcial. Os trabalhadores das quase mil lojas, centrais de distribuição e escritórios da empresa terão direito a 10 dias de serviços de creche subsidiados por meio de uma parceria entre a Best Buy e a Care.com.
O benefício cobre até 10 horas diárias de serviços de creche para a criança, em uma creche parceira ou na casa do trabalhador. Para o empregado, o custo é de US$ 10 ao dia.
Johnson não sabia que sua decisão de levar o filho ao trabalho deflagraria uma mudança em toda a empresa. Um gerente de recursos humanos que estava na loja de Arlington no dia em que Johnson levou Logan ao trabalho decidiu propor a criação do benefício, e levou a ideia à chefia da empresa.
O programa da Best Buy atende à forte demanda que existe nos Estados Unidos por opções acessíveis de serviços de creche, para pais e mães que trabalham, especialmente em situações de emergência.
Uma pesquisa realizada pela Care.com revela que 72% dos pais entrevistados passaram por situações em que seus arranjos para tomar conta dos filhos deram errado. Para garantir que as crianças tenham os cuidados necessários, 67% dos pais disseram ter recorrido a uma licença-saúde, 56% chegaram tarde ao trabalho e 39% tiraram um dia de folga (descontado das férias).
As empresas dos Estados Unidos perdem cerca de US$ 4,4 bilhões ao ano por conta de problemas de seus empregados para cuidar dos filhos, que impedem que vão ao trabalho, de acordo com a Child Care Aware, uma ONG que promove a criação de serviços de creche de custo acessível.
Johnson, que vive em Maryland, tem 14 anos de experiência na Best Buy, tendo começado como trabalhadora temporária sazonal e avançado na hierarquia da empresa até chegar ao posto de supervisora de 15 outros trabalhadores. Ela é responsável pela equipe de vendas de celulares e de aparelhos para smart homes, e por conduzir o treinamento e desenvolvimento de sua equipe.
“Porque exerço uma função de gerência na loja, nem sempre posso sair do trabalho quando preciso”, ela disse.
Sheila Lirio Marcelo, fundadora e presidente-executiva e do conselho da Care.com, disse que ter acesso confiável a um serviço de creche alternativo faz mais do que livrar os pais de situações complicadas. Se os trabalhadores não tiverem de se preocupar com situações em que seus filhos precisam de alguém que tome conta deles, a ajuda da companhia aumenta a produtividade dos trabalhadores e sua concentração no trabalho. Os benefícios adicionais de creche são uma maneira de as empresas mostrarem que estão investindo em seu pessoal, disse Marcelo.
“É importante, não só para a paz de espírito dos trabalhadores mas para o bem econômico da empresa”, disse Marcelo.
Logan completará 18 meses esta semana, e agora fica em uma creche em período integral. Mas Johnson sabe que, caso o filho adoeça ou a creche que o atende esteja fechada, ela não precisará abrir mão de um de seus dias de licença-saúde ou de férias.
Ela já recorreu à creche alternativa oferecida pela Best Buy (que está adotando o novo benefício gradualmente). Depois de criar uma conta na Care.com, Johnson fez um pedido de serviços de creche, escolheu a pessoa que queria para tomar conta do filho e, horas mais tarde, a babá estava em sua casa, pronta para estudar o esquema de alimentação e os horários de brincadeira do menino para as próximas oito horas. Johnson disse que um de seus subordinados também usou o serviço alternativo para sua filha, nascida dois dias antes de Logan.
Perguntada sobre qual era a sensação de ter sido a responsável pelo momento que resultou no benefício, Johnson respondeu que encarava o processo com “humildade”.
“Que algo tão pequeno como aquilo viesse a afetar todo mundo, para que ninguém mais tivesse de passar por uma experiência como a minha”, disse Johnson, “foi muito inspirador para mim, uma lição de humildade”.
Tradução de Paulo Migliacci
Rachel Siegel, THE WASHINGTON POST