Não se pode mesmo perder tempo. Não só pela necessidade urgente de reformas, para que a economia enfim acelere o passo — e o enorme contingente de ainda 12 milhões de desempregados comece a ser reduzido na velocidade necessária —, como também pela imperiosidade do uso do poder político de um presidente recém-empossado, para viabilizar no Congresso mudanças estruturais.
Há projetos desenvolvidos pelas equipes de transição, em que se destaca a econômica, chefiada pelo futuro superministro Paulo Guedes, que tem um diagnóstico conhecido da crise —muito Brasília e pouco Brasil, em sentido amplo. Cabe nesta imagem o excesso de burocracia, de impostos, de intervenção na vida de empresas e de cidadãos etc.
É indiscutível a prioridade à reforma da Previdência, mas há outras também estratégicas. Em entrevista publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico”, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, tratou de uma delas, a da desvinculação do Orçamento.
Ele defende que também seja apresentada a emenda constitucional necessária para retirar os gastos públicos do cartório de distribuição de verbas criado sob pressão de grupos de interesse que operam no Congresso. Os bolsonaristas se incomodam com o protagonismo de Mourão, mas ele está certo neste ponto.
A vinculação constitucional dos gastos em educação e saúde atende ao espírito dirigista que contaminou parte da Constituição de 1988. Há percentuais fixos do dinheiro arrecadado a serem destinados pela União, por estados e municípios, para estes dois setores.
Somados a outros gastos engessados — como salários e previdência —, mais de 90% do Orçamento são imexíveis. Pode haver uma emergência fora da educação e da saúde, e transferir recursos para atendê-la será inconstitucional.
Com isso, a distribuição do Orçamento se tornou ato burocrático, que não depende de qualquer avaliação de resultado. Inexiste, portanto, gestão pública no sentido preciso do termo.
A desvinculação é um dos temas alinhados pela equipe de Guedes, bem como um outro, também relacionado às dificuldades na gestão financeira do Estado, o da indexação de gastos ditos sociais.
Foi isso que levou a enormes déficits, porque enquanto a arrecadação encolhia, por força da recessão, a inflação elevava automaticamente muitas despesas. Receita infalível da quebra de qualquer Estado. Chegou o momento de se reverem erros como este.