O relatório do Coaf apontou movimentações suspeitas feitas por servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) . Por si só, não configuram um ilícito. Porém, a documentação foi anexada pela força-tarefa da Lava-Jato do Rio na ação da Operação Furna da Onça, que prendeu sete deputados estaduais em novembro.
No documento, o Coaf classifica a movimentação financeira dos assessores listados como “atípica”. O órgão afirma que “foi identificada a realização de operações fracionadas em espécie”. Entre elas, estão 59 repasses em dinheiro vivo a Queiroz, que totalizam R$ 216 mil.
O valor que mais se repete é bastante específico: em sete meses a conta recebeu depósitos de R$ 1.771 feitos na agência 0532 do Banco Itaú, localizada na Rua Jardim Botânico. Os depósitos nesse valor foram feitos sempre no mesmo dia ou poucos dias depois do pagamento de servidores da Alerj.
Na agência 5663, do Itaú, localizada na Rua Aristides Lobo, no Rio Comprido, duas movimentações desse tipo foram registradas. Em setembro, novembro e dezembro foram feitos depósitos em espécie no valor de R$ 4.246. Já em outros seis meses foram feitas transferências entre R$ 4.200 e R$ 4.600. Uma ex-servidora do gabinete do Flávio Bolsonaro que fez repasses a Queiroz é sócia de um restaurante localizado em frente à agência bancária.
Há também quatro depósitos de R$ 1.000 nos meses de março, maio, setembro e outubro. Embora tenham sido feitos em três agências diferentes, os endereços são próximos. As três unidades do Itaú ficam distantes apenas 800 metros entre si, na Taquara: duas ficam na Estrada do Tindiba, enquanto a terceira está localizada na Avenida Nelson Cardoso.
Indícios “muito fortes”
Um dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, ouvido sob condição de anonimato, afirma que as movimentações identificadas pelo GLOBO podem guardar indícios de ocultação da origem dos valores depositados.
— Esse tipo de constância e regularidade de datas e os valores formam um conjunto de dados com indícios muito fortes de lavagem de dinheiro — avalia.
Para o advogado criminalista André Luís Callegari, doutor em Direito Penal e especialista em lavagem de dinheiro, é preciso investigar se a origem dos recursos de Queiroz é lícita. Ele lembra que o fracionamento de valores é uma prática originada na Europa, que busca dificultar a identificação do autor:
— O fracionamento é feito para dissimular a origem delitiva de valores. É uma forma de lavar dinheiro usar o fracionamento e fazer depósitos sem identificar o depositante. A depender da origem desses valores que foram obtidos e depositados em espécie, é possível configurar a dissimulação, principalmente pela ausência da constatação da procedência. Colaboraram Bruno Abbud, Juliana Castro e Juliana Dal Piva.
Igor Mello, O Globo