Acionada pela Procuradoria e pelo Judiciário, a Polícia Federal voltou às ruas nesta sexta-feira para revirar as cinzas do circo no qual o eleitor tocou fogo nas eleições de 2018. Foi em cana novamente Joesley Batista. Junto com o sócio da JBS, foram passados na tranca executivos do grupo, parlamentares e dois ex-ministros da Agricultura —um deles é o atual vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade.
Há nas ruínas revolvidas pelos agentes federais um pouco de tudo o que o eleitorado carbonizou nas urnas de outubro: A JBS de Joesley, “campeã nacional” do BNDES na era Lula, comprou favores na Agricultura da gestão Dilma, pasta controlada pelo MDB de Michel Temer. Tudo isso delatado por Lúcio Funaro, operador financeiro de Eduardo Cunha, cujas digitais estão impressas também neste velho novo esquema.
Suprema ironia: juntaram-se num mesmo escândalo o caixa dois da turma de Cunha, o artífice do impeachment, e as arcas da campanha de Dilma, a defenestrada. Entre as ordens judiciais que a PF executou nesta sexta-feira incluiu-se uma batida de busca e apreensão na casa do petista Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara e ex-gestor da caixa registradora da campanha de Dilma à reeleição, em 2014.
Num atentado contra Machado de Assis, a PF batizou a operação de Capitu. O pedaço do saque que os investigadores conseguiram esquadrinhar foi orçado em R$ 25 milhões. Noutros esquemas, a lavagem da propina envolvia sistemas sofisticados, com escalas no exterior. Neste, parte da verba fez baldeação em supermercados, que acondicionaram as cédulas repassadas aos políticos até em caixas de sabão. Decerto imaginou-se que lavariam mais branco. Engano.
A nova incursão policial ocorre um dia depois da expedição dos mandados de prisão contra dez deputados estaduais do Rio de Janeiro, membros da quadrilha do ex-governador Sergio Cabral. Mais do mesmo: propinas em dinheiro vivo e ocupação predatória de cargos pendurados na folha do Estado —dessa até em cabides de empresas terceirizadas.
As encrencas parecem diferentes —uma federal, outra estadual. Mas ambas são decorrências da Lava Jato, cinzas de um mesmo incêndio. Ao transformar voto em chamas, o eleitor de 2018 quis deixar claro que já não tem vocação para palhaço. As labaredas consumiram justamente parte do elenco que reagia à operação anticorrupção com malabarismo verbal, trapezismo ideológico e ilusionismo.
Será necessário esperar pelo início do governo de Jair Bolsonaro e pela posse do “novo” Congresso para saber como se comportarão sob a lona os sobreviventes e os personagens que foram colocados no lugar dos carbonizados. Mas quem tiver dois neurônios perceberá que as duas grandes novidades do cenário político são as seguintes: 1) Roubar tornou-se um verbo arriscado, pois hoje há delatores que iluminam o caminho da verba; 2) A impunidade eterna deixou de existir, pois o eleitor reaprendeu a utilizar o palito de fósforo.
Com Blog do Josias, UOL