quarta-feira, 21 de novembro de 2018

General que comandará Segurança Pública defende uso da força para promover a paz

Escolhido porSergio Moro para comandar a Secretaria de Segurança Pública, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz diz que, para garantir a paz e os direitos humanos, é preciso, se necessário, usar a força. Num relatório feito a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU), para analisar o motivo das mortes e ferimentos dos integrantes das forças de paz que atuam ao redor do mundo, Cruz afirmou que a "manutenção da paz é uma atividade arriscada" e foi taxativo ao afirmar que é preciso usar a força quando necessário.

"Infelizmente, as forças hostis não entendem uma linguagem diferente da força. Para deter e repelir ataques e derrotar os atacantes, as Nações Unidas precisam ser fortes e não ter medo de usar a força quando necessário", escreveu Cruz, que atuou como consultor da ONU e presidiu a investigação, junto com mais dois autores.

Antes de atuar como consultor da ONU, Cruz comandou as forças de paz no Congo. Foi a primeira missão internacional a ter autorização do Conselho das Nações Unidas para tomar a iniciativa de desarmar e desmobilizar grupos rebeldes e milícias que atacavam civis no país africano. Ou seja, com autorização para atacar antes de qualquer ataque.
Quando foi convidado a comandar a missão no Congo, o general já estava na reserva, mas aceitou a missão. Antes do Congo, ele já havia atuado na missão de paz no Haiti, de 2006 a 2009.
O general brasileiro chegou ao Congo em 2013 e encontrou mais de 200 grupos rebeldes armados. As forças de paz da ONU já estavam no país há 14 anos - haviam desembarcado  em 1999 - e recebiam críticas pela falta de resultado.
Cruz foi o personagem central do documentário "O Congo e o general", feito pela TV Al Jazeera, que mostrou a atuação do brasileiro no Congo, então varrido por armas e violência. Com mandato para usar a força contra para conter a violência das milícias locais e impedir que migrassem para países vizinhos, o general conseguiu neutralizar grupos rebeldes importantes, como M-23.  Acabou tendo sua permanência no país prorrogada e ficou até dezembro de 2015.
No documentário da Al Jazeera, o general frisou que era preciso promover os direitos humanos "até por meio da força" e reconheceu que, entre o sucesso e o desastre há uma linha tênue.
— Nós precisamos proteger os direitos humanos, até mesmo por meio da força. Esse é o nosso papel. Trazer a paz, usando a força se necessário - afirmou.
Cruz comandou mais de 20 mil militares de 50 países e chegou ao Congo quando a violência alcançava níveis insuportáveis, com milhares de casos de estupro e violência extrema — civis eram mortos e decapitados e os rebeldes circulavam pelas vilas com as cabeças espetadas em pedaços de pau. 
- Vamos proteger os civis eliminando, neutralizando as ameaças. Nós vamos até as ameaças - disse à Al Jazeera.
Do quartel general em Goma, Cruz tornou as tropas da ONU operacionais e usou setores de inteligência para antecipar ataques a civis e tecnologia, com drones desarmados de observação de áreas de risco. Quando assumiu o posto, as próprias forças militares congolesas eram acusadas de cometer abusos contra os civis. Na linha de frente das tropas, conhecidas como boinas azuis, estava a Brigada de Intervenção, com cerca de três mil homens da África do Sul, Tanzânia e Malaui.
O general é conhecido por não ficar apenas na retaguarda. Ao contrário. Sua fama é de atuar na linha de frente, muitas vezes junto com os soldados. Em 2015, no Norte do Congo, o helicóptero onde estava foi atingido por tiros de grupos rebeldes e o tanque de combustível foi furado. O piloto conseguiu pousar o helicóptero e todos sobreviveram. Num bate-papo com internautas, promovido pelo Ministério da Defesa em 2014, Cruz  afirmou que adota a postura para avaliar o risco efetivo de sua tropa.
— Você não pode ser irresponsável nem inconsequente, mas você tem que, no mínimo, ser capaz de fazer aquilo que você está exigindo que os seus subordinados façam — disse.
No documentário da Al Jazeera, o general brasileiro ressaltou que a liberdade para agir e se antecipar a ação das milícias armadas tinha de ser acompanhada do respeito aos direitos humanos:
— Nossa motivação aqui é psicológica — afirmou. — Fazemos as coisas só pelas pessoas. 

Cleide Carvalho, O Globo