Garreta é alvo da 56ª fase da Lava-Jato , "Sem Fundo" que investiga a obra da Torre Pituba, com custo final estimado em R$ 1,3 bilhão . Segundo a PF, a Petros contratou OAS e Odebrecht para fazer o empreendimento, alugado para a Petrobras por 30 anos. Os agentes dizem que os contratos foram direcionados e superfaturados. Em troca, houve pagamento de ao menos R$ 68,3 milhões de propina a políticos, funcionários públicos e empresários. Além de Garreta, foram expedidos outros 21 mandados de prisão.
Em seu depoimento, Garreta afirmou que, em 2011, participou de um jantar no hotel Sofitel, no Rio, com Fernandes e o dono da OAS, Leo Pinheiro. No encontro, o empresário prometeu pagar 0,75% para Afonso. Ao final do jantar, segundo o marqueteiro, Pinheiro e Fernandes pediram para que ele "fizesse o contato" para o pagamento da propina.
Inicialmente, ele entregou para integrantes da área de propina da OAS um envelope contendo o número das contas no exterior fornecidos por Fernandes. Meses depois, Léo Pinheiro pediu que Garreta procurasse um de seus executivos para fazer o restante do pagamento do valor combinado. Para cumprir essa tarefa, o marqueteiro pediu a um amigo, William Chaim, que fosse na sede da OAS, pegasse o dinheiro e o entregasse num escritório na Avenida Faria Lima, em São Paulo, conforme combinado com o presidente da Petros.
Além de ter feito a entrega de dinheiro, Chaim era dono de flats na capital paulista que foram transformados em pontos de recebimento de propina. Ele também foi alvo de um mandado de prisão na sexta-feira.
Aos policiais, Garreta afirmou que "nunca intermediou o pagamento de vantagens indevidas ao PT" em relação à Torre Pituba. Uma das suspeitas dos investigadores era de que ele fosse o responsável por repassar propina da Odebrecht para o partido. Ele lembrou aos investigadores que move processo contra o partido, que ficou lhe devendo R$ 28 milhões da campanha de 2014 .
Ainda durante o depoimento, Garreta declarou que, em 2014, houve aditivo no contrato da Torre Pituba e que Afonso teria que receber mais R$ 2 milhões. Dessa vez, porém, a quantia sairia da conta da Odebrecht. Parte do valor foi pago em espécie, em flats de Chaim. Em janeiro de 2015, porém, segundo Garreta, a Odebrecht informou que não pagaria mais o restante.

Na época do acerto no hotel carioca, Garreta prestava serviços para a Invepar, que tinha como sócios a OAS e os fundos de pensão Petros, Funcef e Previ e trabalhava para a área internacional da OAS desde 2010.
O marqueteiro afirmou ter prestado serviços para várias empresas, além da OAS, citando Odebrecht, Rota das Bandeiras e Forjas Taurus. Em 2011, Garreta trabalhou na campanha vitoriosa do ex-presidente peruano Ollanta Humala - que está sendo investigada.
O marqueteiro disse que faliu depois que seu nome passou a ser associado às investigações da Lava-Jato. Disse que teve de vender três imóveis a um sócio para poder se sustentar.
Ao cumprir mandados de busca e apreensão na casa de Garreta, a PF encontrou documentos com dados relacionados a um celular que pertence a um agente federal. Questionado sobre isso, Garreta afirmou que o telefone era de um fornecedor da mulher dele, que revende bijuterias e estava inadimplente. Ele ligou para a mulher durante o depoimento, e ela confirmou a história.
Desde abril de 2017, o marqueteiro tenta fechar acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e com a Procuradoria Geral da República, sem sucesso, mas que está disposto a colaborar.
O GLOBO tenta contato com os advogados de Afonso, Chaim e Leo Pinheiro.
Na sexta-feira, a OAS havia informado que "os atuais gestores da companhia têm prestado às autoridades todos os esclarecimentos a respeito de atividades e contratos sobre os quais haja questionamentos".
Cleide Carvalho, O Globo