O impacto causado por mudança climáticas, de incêndios mortais a furacões e ondas de calor cada vez mais ferozes, já está prejudicando os EUA e fará a economia americana encolher 10% até 2100 – resultando em mais do que o dobro das perdas da grave recessão de 2008.
A previsão foi divulgada nesta sexta-feira, 23, pela Casa Branca e consta de um relatório de especialistas das principais agências ambientais federais americanas. Os dados contradizem o presidente americano, que não acredita na influência humano sobre o aquecimento global.
Donald Trump tem estimulado o uso de combustíveis fósseis, sob argumento de impulsionar a economia. Além de reverter regulações ambientais aprovados durante a presidência de Barack Obama, Trump planeja retirar os EUA do acordo climático de Paris.
Trata-se da quarta análise abrangente do governo americano sobre os impactos da mudança climática desde 2000. Produzido por 13 departamentos e agências federais e supervisionado pelo Programa de Pesquisa de Mudança Global dos EUA, o estudo tem 1.655 páginas.
A porção continental dos EUA está 1,8 grau mais quente do que há cem anos e cercada por mares que são em média 20 centímetros mais elevados. O relatório sugere que, até 2050, o país poderá ver 2,3 graus adicionais e a dizimação de recifes de corais.
As principais plantações, incluindo milho, trigo e soja, se reduziriam com a temperatura mais alta. As exportações e as cadeias de suprimentos americanas poderiam ser interrompidas, a produção agrícola cairia a níveis dos anos 80 ou de meados do século 20 e os focos de incêndios se espalhariam para o sudeste do país.
Os dados são concretos: as cadeias de montanhas no norte do país estão mantendo muito menos neve ao longo do ano, ameaçando o fornecimento de água abaixo delas. Os recifes de corais no Caribe, no Havaí, na Flórida e nos territórios do Pacífico dos EUA estão passando por graves eventos de branqueamento. Incêndios florestais estão devorando áreas cada vez maiores durante longos períodos de incêndios. E o único estado ártico do país, o Alasca, está vendo uma taxa impressionante de aquecimento que derrubou completamente seus ecossistemas, desde os litorais entupidas de gelo até o degelo crescente das tundras.
O relatório calcula ainda o impacto climático para a economia dos EUA: US$ 141 bilhões em custos por mortes relacionadas ao calor, US$ 118 bilhões pelo aumento do nível do mar e US$ 32 bilhões de danos de infraestrutura até o final do século, entre outros.
“O impacto visto nos últimos 15 anos ficará mais forte e isso só se ampliará”, disse Gary Yohe, professor de economia e estudos ambientais da Wesleyan University, que analisou o relatório. “Perdemos 15 anos de tempo de resposta. Se perdermos mais 5 anos, a história piora. Quanto mais você esperar, mais caro será.”
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Trump costuma questionar a ciência por trás das pesquisas sobre da mudança climática. No mês passado, em entrevista a rede CBS, o presidente disse que não tem certeza se as mudanças são causadas pelo homem e afirmou que o aquecimento global é “apenas uma tendência” que “poderia muito bem ser revertida”.
Na quinta-feira, no feriado de Ação de Graças, costumeiramente um dos mais frios do ano na Costa Leste dos EUA, Trump usou o Twitter para questionar as mudanças climáticas. “O que aconteceu com o aquecimento global? Esse é um dos dias de Ação de Graças mais frios de todos os tempos”.
“Isso denota uma incapacidade de entender o que os cientistas do clima repetidamente tentam corrigir - uma confusão entre as flutuações climáticas diárias e as tendências climáticas de longo prazo”, afirmou Gary Yohe.
O relatório pode se tornar uma poderosa ferramenta legal para os oponentes dos esforços de Trump para desmantelar a política de mudança climática, disseram especialistas.
"Este relatório vai enfraquecer as alegações jurídicas do governo Trump para desfazer as regulamentações sobre mudança climática, e fortalece aqueles que vão aos tribunais para combatê-los”, disse Michael Oppenheimer, professor de geociências e assuntos internacionais em Princeton.
O relatório é o segundo volume da Avaliação Nacional do Clima, que o governo federal é obrigado por lei a produzir a cada quatro anos. O primeiro volume foi divulgado pela Casa Branca no ano passado.Na ocasião, Trump respondeu com desdém às análises do relatório. “O clima sempre mudou, e sempre continuará mudando”, escreveu na ocasião em sua conta no Twitter.
O Estado de S.Paulo