Embora não seja correto tecnicamente comparar as pesquisas do Datafolha e do Ibope, que usam métodos diferentes, e são publicadas em épocas distintas, é possível fazer-se uma análise das tendências apontadas por elas.
A pesquisa do Ibope divulgada ontem mantém as mesmas posições dos candidatos que a do Datafolha, mas tem divergências fundamentais. Bolsonaro conserva a liderança da corrida presidencial, e cresceu fora da margem de erro, embora não de maneira conclusiva como esperavam seus aliados.
Para o Datafolha, o crescimento de Bolsonaro após o ataque foi dentro da margem de erro.
Tudo indica que esse crescimento menor se deveu à exploração política do atentado, tanto que ontem o General Mourão, seu vice, deu uma palavra de ordem: “Esse atentado já deu o que tinha que dar. Vamos continuar a campanha”.
No Datafolha, a rejeição a Bolsonaro até aumentou, e no Ibope houve uma redução, embora continue tendo um índice que é praticamente o dobro, ou mais que isso, dos demais candidatos. Na intenção de voto espontânea, Bolsonaro aparece em primeiro lugar, subindo seis pontos em relação à última pesquisa do Ibope.
Lula tem uma queda semelhante nas duas pesquisas, o que mostra uma tendência de o ex-presidente ser esquecido pelos eleitores. Como Haddad não teve um aumento que equivalesse à lembrança de Lula quando liderava as pesquisas também no quesito espontâneo, é sinal de que o eleitor já se adequou à realidade eleitoral.
Tanto que os votos inválidos (nulos e em branco), que pareciam dominar a disputa, hoje já decresceram muito, entrando quase que no índice das eleições passadas. A disputa pelo segundo lugar continua empatada, embora em condições diferentes das do Datafolha: a ascensão do candidato do PDT Ciro Gomes registrada na pesquisa Datafolha transforma-se em queda na pesquisa do Ibope, embora mínima.
A candidata Marina Silva está mesmo em queda, mas no Ibope esse decréscimo é bem menor que o revelado pela Datafolha. A subida do agora candidato do PT Fernando Haddad foi dentro da margem de erro de dois pontos, e não mais que o dobro constatado pelo Datafolha.
O único que tem a performance semelhante é o candidato tucano Geraldo Alckmin, que ficou estagnado na pesquisa Ibope e subiu um ponto na do Datafolha. No segundo turno, Bolsonaro perde para todo mundo, com exceção de Fernando Haddad na pesquisa do Datafolha, mas na do Ibope tem uma atuação mais consistente, empatando na margem de erro com todos seus adversários.
Contra Ciro, ele perde numericamente, e contra Haddad, vence. Com relação ao segundo turno, houve uma mudança ao longo da campanha. No início, apenas Marina era capaz de vencer Bolsonaro, agora todos o vencem ou empatam. Ciro Gomes, que pelo Datafolha era o que vencia com mais facilidade Bolsonaro no segundo turno, agora no Ibope está praticamente igual a seus adversários.
O voto útil no primeiro turno cada vez mais se confirma como o ponto relevante desta eleição, e dois candidatos despontam como alternativas à polarização PT x PSDB. Marina Silva, que sempre se apresentou como a saída política para o impasse que a seu ver representa essa polarização, e Ciro Gomes.
Ciro terá que fazer malabarismos para atacar o candidato do PT e continuar a opção dos eleitores desse partido caso Haddad não vá para o segundo turno. Marina nesta campanha está demonstrando claramente que se livrou do peso dos seus anos de militância petista, que a impediam de criticar Lula e Dilma abertamente.
Alckmin parece ser o candidato com mais problemas para crescer, pois perde votos para todos os candidatos de centro-direita, a começar por Bolsonaro. Muitos eleitores do PSDB abandonaram o partido em busca das soluções mais radicais defendidas pela extrema-direita.
Se somarmos os índices dos candidatos Álvaro Dias, Meirelles e Amoedo, são 9 pontos que Alckmin perde para os que defendem programas semelhantes. Além disso, o ex-governador de São Paulo carrega o mesmo peso que o candidato do PT: a má-fama de suas legendas.
Com a prisão ontem do ex-governador tucano do Paraná Beto Richa, e as delações de Palocci reveladas, esse desgaste vai ser ainda maior.
O Globo