terça-feira, 18 de setembro de 2018

"Surpresa na prévia do PIB", editorial do Estadão

A boa notícia trazida pelo Banco Central (BC) sobre as condições da economia em julho surpreendeu os mercados, superando a mais otimista das projeções coletadas pelo Broadcast, serviço de informações online da Agência Estado. Em julho, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) foi 0,57% superior ao de junho, segundo a informação divulgada ontem. As avaliações de especialistas haviam ficado entre um resultado negativo de 0,67% e um positivo de 0,50%, com mediana positiva de 0,10%. Os economistas do setor financeiro e das maiores consultorias tinham razões muito fortes para apostar em um número baixo. Os dados sobre indústria, varejo e serviços divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram piores que os de junho.
Publicado mensalmente, o IBC-Br é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), atualizado de três em três meses pelo IBGE. Os dois cenários podem divergir no curto prazo, mas tendem a convergir em períodos mais longos. Por enquanto, o IBC-Br de julho é intrigante. Os números anunciados a cada mês são publicados sem detalhamento setorial, isto é, sem discriminação dos componentes da oferta e da demanda gerais da economia brasileira.
De toda forma, a surpresa, embora positiva, foi insuficiente para mudar as estimativas do mercado para o terceiro trimestre e para o resultado final do ano, segundo economistas ouvidos na manhã de ontem pela reportagem da Agência Estado. Suas projeções de crescimento em 2018 foram mantidas entre 1,10% e 1,30%.
Esses entrevistados mostraram-se ligeiramente mais pessimistas que vários de seus colegas, como indica a última pesquisa Focus, do BC, divulgada também na segunda-feira. A mediana das projeções de aumento do PIB ficou em 1,36%. De toda forma, as estimativas continuaram caindo. Na semana anterior, a mediana havia sido de 1,40%. Quatro semanas antes da pesquisa recém-publicada, foi de 1,49%. Mantida a incerteza política, as expectativas continuarão sombrias, se nenhuma notícia econômica muito animadora surgir nas próximas semanas. Não há sinal, por enquanto, dessa boa novidade.
Mas a novidade positiva do IBC-Br fica um tanto diluída, e até menos conflitante com os dados já conhecidos, quando se examinam alguns detalhes do quadro relativo a julho. Na série com ajuste sazonal, o nível médio de atividade no trimestre móvel encerrado em julho foi 0,76% menor que o dos três meses imediatamente anteriores. A reação ocorrida depois do desastroso mês de maio, quando houve o bloqueio de estradas, foi insuficiente para o retorno ao nível anterior à crise do transporte.
Na série sem ajuste, a média trimestral foi 0,56% superior à de um ano antes. O desempenho acumulado em 2018 foi 1,19% melhor que o de janeiro a julho de 2017. Em 12 meses houve crescimento de 1,46%. Estes últimos números, embora sejam positivos e confirmem a tendência de resultados melhores que os de um ano antes, também apontam a continuação de um quadro de baixo dinamismo.
Esse desempenho medíocre, ou abaixo de medíocre, fica mais evidente quando comparado com os dados de outros países. No segundo trimestre, o PIB brasileiro, segundo o IBGE, foi 1% maior que o de um ano antes. No Grupo dos 20 (G-20), o avanço ficou em média em 3,9%. Na África do Sul o resultado foi pior que o do Brasil, com ganho de 0,5% indicado pela comparação interanual. Os demais países tiveram evolução bem mais favorável que a brasileira. Na Coreia, o confronto mostrou crescimento de 2,8%. Nos Estados Unidos, de 2,9%. Na União Europeia, de 2,15%. Na Indonésia, de 5,2%. Na Turquia, apesar de sua vulnerabilidade externa, de 5,5%. Na China, de 6,7%. Na Índia, de 8%.
O baixo dinamismo brasileiro é em parte explicável pela insegurança diante do quadro eleitoral. Mas o emperramento decorre também de persistentes erros de política econômica. Baixo investimento, prioridades mal escolhidas e muito desperdício diminuíram o potencial de crescimento. Tudo poderá ainda piorar se o populismo vencer em outubro.