terça-feira, 4 de setembro de 2018

"Só tem na democracia", por Antônio Penteado Mendonça

É curioso como algumas pessoas mentem descaradamente sobre os mais variados temas, especialmente na política. A quantidade de heróis que lutaram contra a ditadura assombra. Mas poucos contam quais foram seus atos de heroísmo, normalmente substituídos por um levantar de ombros como que dizendo “minha modéstia não me deixa falar sobre isso”.
Eu conheço gente que fez a sua parte com rara coragem, muitas vezes para ajudar quem tinha tentado destruí-los. Estes não falam sobre o assunto não porque não possam ou não tenham provas, como acontece com parte dos heróis que recebem polpudas mesadas do Governo, mas porque acham que não vale a pena. O que fizeram tinha que ser feito e ponto final.
Uma das grandes qualidades, se não a maior de todas, das democracias é que elas garantem o direito de cada um falar o que tiver vontade, até quando a fala propõe a destruição da própria democracia.
Não existe ditadura ou semidemocracia que permita isso ou vagamente se aproxime disso. O Estado corta a fala – ou o mal – pela raiz, num movimento rápido, que pode ir de uma pressão mais forte e evidente até a prisão do falador.
A quantidade de mentiras que têm sido ditas no Brasil de hoje apavora. E como o brasileiro se esquece depressa, a tese de Goebles, o Ministro da Propaganda de Hitler, floresce numa velocidade espantosa. Segundo ele, uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.
No Brasil, isso é duas vezes mais verdade. Quantas vezes já me disseram isso ou aquilo, sem parar para pensar que o que estavam dizendo simplesmente não era possível porque não fazia sentido?
De apartamentos mirabolantes a atos de coragem sob fogo, vale tudo. Por isso, preste muita atenção ao que te dizem ou você lê. Há uma enorme chance de estarem tentando te levar no bico.

O Estado de São Paulo