quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Ruínas do Museu Nacional não estarão completas sem um lote de demissões

Nas horas que se seguiram ao incêndio, as autoridades com algum tipo de responsabilidade sobre os destinos do Museu Nacional revelaram-se capazes de tudo, menos de admitir que talvez tenham sido incapazes de todo. Falta algo ao enredo do historicídio cometido na Quinta da Boa Vista, no Rio.
Ampliar

Incêndio no Museu Nacional52 fotos

50 / 52
04.set.2018 - Militares são chamados para proteger escombros do Museu Nacional do Rio contra possíveis saqueadores.Imagem: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
Trinta e sete dias antes das labaredas, um arquiteto repassou ao Ministério Público Federal fotos que retratavam a degradação do museu mais antigo do país. Os problemas na fiação pareciam fumaça a prenunciar o fogo. Acionada para prestar esclarecimentos, a UFRJ, gestora do museu, pediu prazo. As chamas chegaram primeiro.
Dois dias antes, estiveram no museu ténicos encarregados de elaborar um orçamento para a reforma do teto. Tiraram fotos no depósito de museologia, no terceiro andar. A TV Globo exibiu as imagens. O teto estava forrado com plástico. Havia fios soltos.
No Museu Nacional, o valor atribuído à segurança era inversamente proporcional à relevância imensurável do acervo. Não havia um mísero laudo do Corpo de Bombeiros atestando a (in)segurança do palácio bicentenário.
Um detalhe adiciona ironia à inépcia. Informou-se que o BNDES despejaria R$ 21,7 milhões numa reforma do museu. Coisa a ser liberada em conta-gotas. O projeto consumiu três anos de debate. Uma das razões para a demora foi a necessidade de refazer o projeto. O BNDES diz ter exigido a inclusão de um sistema de combate a incêndios.
Retorne-se, por oportuno, ao primeiro parágrafo. Falta algo ao enredo do historicídiocometido na Quinta da Boa Vista. As ruínas do Museu Nacional não estarão completas enquanto não forem depositadas sobre elas um lote de cartas de demissão. A Polícia Federal começou a investigar as causas do acidente. A apuração será mambembe se não olhar para o alto.
Aos ponquinhos, vai ficando claro que a alegada falta de verba era apenas parte da encrenca. Falta contabilizar o refinamento, o zelo, o acabamento e, obviamente, o custo com que diretores, reitores, ministros e assemelhados exerceram sua incompetência no Museu Nacional. Em outras instituições análogas, os hipotéticos gestores também vêm fazendo o pior o melhor que podem.

Com Blog do Josias, UOL