NOVA YORK — A mídia dos tablóides acampou do lado de fora do prédio de cinco andares, no Upper West Side em Manhattan, na esperança de ter um vislumbre da misteriosa mulher que havia roubado o coração de Cynthia Nixon, a estrela de "Sex and the City". De dentro do prédio dela, Christine Marinoni viu os paparazzi, preparou-se — e passou direto.
— Eles estavam procurando uma loira símbolo sexual ou sabe-se lá o quê — diz Marinoni.
Marinoni agora ri ao se lembrar da frenética busca por sua identidade em 2004. Os repórteres desconcertados que não sabiam o que fazer com ela — uma líder comunitária ruiva e low profile, que prefere camisas xadrez a vestidos de gala e que antes de conhecer Cynthia Nixon nunca teve TV por assinatura. Aquele burburinho em torno de Nixon deixando o parceiro e namorando uma mulher agora parece distante, produto de um tempo diferente.
E as revistas de celebridades se acostumaram com o casal, cobrindo de maneira graciosa o noivado, o nascimento e o casamento das crianças.
Mas Marinoni, que costuma usar "tímida" como uma das primeiras palavras para se descrever, nunca ficou totalmente à vontade com as revistas de fofoca. Durante a gravidez, ela escondeu o ventre com um casaco volumoso, surpreendendo não apenas os paparazzi, mas até os vizinhos quando deu à luz.
— Eles ficavam tipo: 'De onde veio o bebê?' — conta.
No entanto, com Nixon concorrendo contra o governador Andrew M. Cuomo na primária democrata da semana que vem, Marinoni voltou a se destacar, embora de um modo diferente.
Se eleita, Nixon seria a primeira governadora do estado a identificar-se abertamente como queer, palavra que ela e sua esposa preferem usar para descrever sua sexualidade. Marinoni seria, assim, a primeira primeira-dama gay do estado.
As vidas pessoais das duas foram intimamente entrelaçadas com o mergulho de Nixon na política. A atriz e política democrata diz que foi motivada a concorrer ao cargo por causa de sua paixão pela defesa da educação, a mesma defesa que a apresentou a Marinoni. O casal anunciou o noivado numa manifestação em defesa do casamento de pessoas do mesmo sexo e então viajou para Albany para pressionar os legisladores sobre o assunto.
Marinoni provou ser tão cautelosa com a imprensa política quanto com as revistas de celebridades, e em uma rara entrevista, ela minimizou seu envolvimento na campanha. Como primeira-dama, disse, ela permaneceria em segundo plano também, ancorando a família enquanto Nixon governar.
— Ela tem sido repetidamente questionada (sobre isso) por pessoas que estão entusiasmadas com as perspectivas, mas não por mim, nunca por mim — afirma Marinoni, que não tem nenhum papel oficial na campanha, nem se envolveu na decisão final de Nixon de entrar na disputa.
Como a esposa de uma celebridade, ela disse que aperfeiçoou a arte de desviar as atenções:
— Agora sei como entrar ou sair dos holofotes. E geralmente escolho ficar de fora.
Mas em destaque ou não, as pessoas que estiveram envolvidas na campanha descreveram Marinoni como uma força essencial: conseguir apoio, moldar estratégias e até mesmo servir como uma espécie de procuração para sua mulher em discussões políticas ou táticas desde que Nixon está na corrida.
— Cynthia é a candidata, e ela é uma espécie de personificação do que todos nós estamos tentando mudar em nível estadual — diz Jonathan Westin, diretor executivo da organização sem fins lucrativos New York Communities for Change, que pediu a Nixon para concorrer ao cargo. — Mas o lance é colocá-las juntas, quero dizer, Christine tem sido insubstituível.
Marinoni é uma presença frequente em eventos de campanha, marchando ao lado de Nixon na Parada do Orgulho Gay de Nova York ou coletando assinaturas para garantir seu lugar na corrida eleitoral. Depois do debate de Nixon com Cuomo, Marinoni percorreu a sala de imprensa para se certificar de que os repórteres acertariam na avaliação dizendo:
— Ela foi muito bem! Claramente ganhou. Claramente ganhou.
Marinoni foi apresentada ao ativismo cedo. Ela cresceu em Bainbridge Island, cerca de 10 quilômetros a oeste de Seattle, onde seu pai era professor e sua mãe, presidente do sindicato de professores.
Depois de se mudar para Nova York no início dos anos 1990, Marinoni passou uma temporada como líder comunitária no Bronx. Depois estudou desenvolvimento econômico na Universidade de Columbia, pensando que poderia trabalhar com assuntos internacionais.
Ela se voltou para a área da educação, liderando uma coalizão de pais que se tornou a Aliança Estadual de Educação de Qualidade. Foi lá que conheceu Nixon, que se tornou porta-voz do grupo depois de se deparar com cortes na escola de seu filho mais velho; seu relacionamento tornou-se público em 2004, e eles se casaram em 2012.
A luta pelo financiamento de distritos escolares de baixa renda atraiu Marinoni por uma simples razão: porque o tema "fala fundamentalmente sobre a mudança de poder".
Dos anos 1990 para cá, a carreira de Marinoni pode ser lida como um esforço contínuo para mudar o poder — mesmo quando ela também se aproximou dos centros de poder.
Depois de deixar a Aliança pela Educação de Qualidade, ela organizou agentes de segurança do Sindicato dos Funcionários de Serviços, uma organização peso-pesado com 160 mil membros. Em 2014, Marinoni se juntou ao governo do prefeito Bill de Blasio, cuja campanha de 2013 ela e Nixon haviam endossado.
Dirigir os movimentos era um desejo, ou até mesmo uma urgência, por resultados.
— Eu queria trabalhar dentro de uma infraestrutura onde eles tivessem apenas o poder e a capacidade de financiar totalmente uma campanha, para realizar de fato as coisas — diz Marinoni sobre sua mudança para a organização sindical.
Seu casamento com a Nixon também a levou a se afastar da defesa de direitos. Por sete anos, antes de ingressar na prefeitura, ela ficou em casa cuidando dos dois filhos de Nixon de seu relacionamento anterior e, também, de seu próprio filho.
A experiência foi cansativa. Marinoni abortou várias vezes. Durante uma gravidez, em seu quarto mês, os médicos disseram que a criança não vingaria. Ela escolheu fazer um aborto. Sua sexta gravidez teve sucesso, e seu filho Max nasceu em 2011.
Enquanto falava de sua família, Marinoni se emocionou, até engasgou subitamente. Ela não se assumiu gay até os 26 anos, contou, e nunca imaginou que um dia poderia ser uma mulher casada com filhos.
Talvez em parte por essa razão, as descrições de Marinoni sobre seu papel na campanha centraram-se muito mais em seu papel de mulher e mãe do que de estrategista. Ela insistiu que tem pouco a ver com a decisão da Nixon de concorrer (“Eu tentei interpretar o papel do espectador que apoia aquele que decide”) e enfatizou a diferença entre a sua marca de organização tradicional e o alcance digital que, para a campanha de Nixon, é apontada como chave para a vitória.
Ainda assim, as pessoas envolvidas na campanha disseram que Marinoni era onipresente. Quando o New York Communities for Change estava cortejando Nixon, Westin conversou com Marinoni sobre a urgência de uma oferta progressista durante a presidência de Trump.
Bill Lipton, diretor estadual do Working Families Party, que endossou Nixon, disse que Marinoni era muitas vezes a pessoa de contato que ajudava a reunir o apoio do partido.
O trabalho diário da campanha também se baseia na experiência de Marinoni. A equipe da campanha costuma se reunir na casa do casal, e Marinoni, enquanto cuida do filho Max, frequentemente se debruça sobre as estratégias. Os consultores recorrem à familiaridade dela com as redes de contato do casal para identificar potenciais doadores.
— Ela conhece Cynthia de uma forma que nenhum de nós conhece — diz Elana Leopold, que lidera os esforços de arrecadação de fundos da campanha. — Isso é útil para orientar a captação de recursos e descobrir táticas que possam funcionar.
Pode haver uma razão estratégica para a reticência de Marinoni sobre seu papel. Os primeiros críticos da campanha sugeriram que a decisão de Nixon de entrar na corrida não era dela, ou que ela pessoalmente não tinha conhecimento político suficiente.
Por outro lado, a reserva de Marinoni também se alinha com sua personalidade. As pessoas que trabalharam com ela descreveram-na como uma defensora decidida, porém discreta, que prefere trabalhar nos bastidores e falar apenas no momento certo.
— Ela não é alguém que entra em uma sala e tenta dominar todas as conversas — disse Richard Buery, ex-vice-prefeito que supervisionou Marinoni enquanto trabalhava na prefeitura. — Ela é alguém que fala quando tem algo a dizer.
Marinoni reconhece que a candidatura de sua esposa iria empurrá-la (e já empurrou) para um lugar mais público, fato com o qual ela parece um pouco resignada.
— A imprensa nunca é particularmente agradável para mim — diz ela, rindo.
Quando ela e Nixon confirmaram o relacionamento, um concurso on-line perguntou se ela se parecia mais com o ator Danny Bonaduce ou o príncipe Harry.
— Eu achei tudo muito divertido — comentou.
E admitiu que, se Nixon vencer, talvez precise recuar novamente de seu próprio trabalho. (Ela se demitiu da prefeitura em março, um mês antes de Nixon declarar sua candidatura.) Ainda assim, seu histórico de militância não estaria totalmente ausente da mansão do governador.
— Eu sempre mergulho em alguma organização aqui ou ali. Eu me mantenho ocupada.
por Vivian Wang, do 'The New York Times'