Em abril de 2015, a Odebrecht celebrava o título de maior construtora da América Latina. Tinha obras por todos os cantos do continente e acumulava lucros recordes. Com o avanço das investigações contra corrupção iniciadas no Brasil na esteira da Operação Lava-Jato, a empresa escolheu o caminho das colaborações judiciais e causou tremores no mundo político latino-americano ao confessar seus crimes de corrupção em dez países da região.
O número de presidentes e ex-presidentes investigados no continente, três anos e meio depois, dá uma medida do alcance dos esquemas da empresa: ao menos nove ex-mandatários da região estão na mira das autoridades de seus países, e um presidente já perdeu o cargo. O caso Odebrecht ainda levou a uma onda de investigações sobre presidentes que, embora não tivessem relação com a construtora baiana, também se envolveram em esquemas suspeitos.
Para o procurador do Ministério Público Federal Roberson Pozzobon, que integra a força-tarefa da Operação Lava-Jato, em Curitiba, se antigamente as dificuldades burocráticas e as leis diferentes entre os países permitiam que os crimes transnacionais ficassem praticamente impunes, hoje o cenário mudou.
— Hoje é possível trocar informações e provas no âmbito de investigações e processos criminais de forma bastante rápida e eficiente, seja com países mais próximos geograficamente, como na América Latina, ou mesmo na Ásia — diz ele.
Pozzobon diz que antigamente o trunfo das organizações criminosas era a lavagem de dinheiro no exterior, fora do país de origem, justamente para dificultar o rastreamento de valores. Com as novas regras e tratados de cooperação internacional, porém, a modalidade se tornou "um verdadeiro calcanhar de aquiles" para os criminosos.
No Brasil, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o maior símbolo do cerco das investigações. O petista já foi condenado em duas instâncias por ter recebido, segundo a acusação, um apartamento reformado pela OAS como compensação por negócios com a Petrobras. Lula nega ter recebido o apartamento ou atuado a favor da companhia.
* Com informação de membros do GDA e colaboração do La Prensa do Panamá, Prensa Libre da Guatemala e El Día da República Dominicana.
por Cleide Carvalho e Tiago Dantas - O Globo/Brasil com informação do GDA e colaboradores