O candidato do PSL nas eleições 2018, Jair Bolsonaro, deu a primeira entrevista após o atentado que sofreu durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG) no último dia 6. A conversa com o jornalista Augusto Nunes, da Rádio Jovem Pan, foi realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e transmitida pelas redes sociais. O candidato chorou, disse ter convicção de que o agressor Adélio Bispo de Oliveira não agiu sozinho e sugeriu que o delegado da Polícia Federal (PF) que cuida do caso pode estar agindo para abafar o caso.
"Não acredito que ele agiu sozinho, ele não é tão inteligente assim. Ele foi para cumprir a missão", disse. Bolsonaro ainda classificou o episódio como "atentado político".
"Me tirando de combate, os três próximos candidatos são todos parecidos."
Líder nas pesquisas, o capitão reformado do Exército ainda contestou a linha de investigação adotada pela Polícia Federal sobre o caso. "A tendência natural de um ato como aquele é ser linchado, então ele foi para a missão com a certeza que não seria linchado, que teria gente ao lado dele", avaliou.
"Pelo que ouvi dizer, não tenho certeza ainda, a Polícia Civil de Juiz de Fora está bem mais avançada que a PF. O depoimento do delegado que está conduzindo, realmente é para abafar. Eu lamento o que ouvi ele falando. Dá a entender até que age em parte como uma defesa do criminoso. Isso não pode acontecer."
Após ouvir mais de 30 pessoas, quebrar os sigilos financeiro, telefônico e telemático de Adélio, o delegado federal Rodrigo Morais e sua equipe não encontraram nenhum indício de que o autor da facada tenha agido a mando de outra pessoa ou grupo.
O candidato ainda deu detalhes sobre o momento do ataque, quando acreditou que havia levado um soco no estômago. "Só vi um vulto e não teria condições de dizer qual a cara dele. Quando eu caí disse que tinha levado uma porrada, igual bolada que a gente leva no futebol", explicou. Ele disse que já havia alertado sua equipe de segurança que conforme sua popularidade nas pesquisas de intenção de voto crescesse, mais risco ele correria nas ruas.
Bolsonaro ainda defendeu penas mais duras contra criminosos, incluindo a extinção da pena progressiva. "Estou vivo por milagre. Quem comete um crime precisa ser punido conforme a lei e sem dar ouvidos para entidades de direitos humanos. Eles falam que preso vive em más condições, mas em más condições estaria a minha família se eu tivesse morrido."
Ao final da entrevista, o candidato aproveitou para criticar o PT, reforçar que não aceitará indicações de cargos em seu eventual governo e pedir união do País.
Campanha
Na primeira entrevista em vídeo gravada desde o incidente, Bolsonaro admitiu que não deve participar de atos de campanha antes do fim do primeiro turno. "'Receberei alta no dia 31 (sic), antes das eleições. Mas, a recomendação é que eu fique em casa. Na situação em que estou, se eu levar um esbarrão posso botar tudo a perder. Então não posso ir às ruas novamente", comentou.
O candidato também rebateu acusações como as formuladas por Marina Silva (Rede), para quem ele foi vítima da violência que prega. "É exatamente o contrário. Sou vítima daquilo que combato", disse o deputado, que também pregou leis mais duras contra este tipo de crime. "Prefiro a cadeia cheia de vagabundo a cemitério cheio de inocente."
Ana Carolina Neira e Marcelo Osakabe, O Estado de S.Paulo