Em 1996, visitei Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais e ouvi a seguinte lição de um cientista: “Ministro (na época era Ministro do Meio Ambiente do governo FHC), no Brasil, especialmente no Nordeste, o vento sopra na direção certa e tem fartura de sol o que, antes de maldição, é uma bênção da natureza”. “Como assim, Professor?” indaguei à cata de uma resposta esclarecedora.
“O mundo do século XXI vai se deparar com três gigantescos problemas. Já estão à vista: a questão demográfica da longevidade, as soluções e os problemas decorrentes da inovação disruptiva e os limites biofísicos da natureza diante dos padrões de produção e consumo insustentáveis. Mantidos os rumos, a catástrofe ambiental é inevitável”, concluiu.
De fato, na questão ambiental, chegamos a uma situação-limite: o que já fora escasso – trabalho, capital financeiro e tecnologia – responde às demandas atuais do setor produtivo; entretanto, aparentemente abundantes, os recursos naturais – água, solo, florestas, ar – tornaram-se assustadoramente degradados, agravando um desequilíbrio que pode ser fatal para a vida no seu sentido amplo. A natureza atende necessidades, mas não resiste à cobiça incontida do homem.
O professor, então, explicou: “Caro ministro, ainda há tempo de tomar decisões com os olhos em novas oportunidades. O vento do litoral e do semiárido nordestino é constante, tem a velocidade adequada (10 a 12ms) e é unidirecional. É um recurso inesgotável na produção de energia eólica; por sua vez, o sol responde pela maior taxa de irradiação do mundo que, no seu limite mínimo, está acima do insolação da Alemanha, referência mundial no uso dos sistemas solares fotovoltaicos. Possuir a matriz energética mais renovável do mundo esconde a armadilha da comparação porque o Brasil ainda depende de 56,5% de fontes não renováveis (contra 85,9% da matriz mundial)”.
Ao final, indicou o caminho estratégico para o Brasil: diversificar as fontes renováveis (eólica, solar, biomassa/lixo orgânico, etanol) que estão em acelerada construção: em 2020, os investimentos em energia eólica devem ultrapassar R$ 40 bilhões, as atuais 421 usinas têm capacidade de beneficiar 52 milhões de brasileiros; energia fotovoltaica, 36 usinas instaladas o que significa 1 GW, marca alcançada por apenas 30 países.
O Nordeste oferece ao Brasil a economia de baixo carbono. Um apelo do futuro. Basta que os candidatos à Presidência da República se comprometam a superar o desafio da distribuição associado aos incentivos fiscais e creditícios. A Natureza deu. A humanidade agradece.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco
Com Blog do Noblat, Veja