Numa pré-campanha marcada por ataques entre pré-candidatos, o debate desta quinta-feira à noite na TV Bandeirantes deve reforçar o confronto entre Geraldo Alckmin (PSDB), que tem o maior número de partidos aliados, e Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula (PT).
Já prevendo uma polarização, as campanhas do tucano e do ex-capitão avaliam que o confronto direto, no entanto, dependerá da dinâmica do programa, principalmente das perguntas feitas por jornalistas.
Segundo a equipe de Bolsonaro, ele deve contra-atacar as críticas de Alckmin citando escândalos da Dersa, empresa de obras rodoviárias do governo paulista atingida na Lava-Jato. O presidenciável tem se reunido com especialistas de diversas áreas para ter melhor desempenho em temas que não domina. A exemplo do economista Paulo Guedes, seu consultor para assuntos econômicos, ele tem sido orientado, por exemplo, por especialistas em saúde e educação. Durante o debate, contudo, Bolsonaro continuará com perfil “autêntico” e combativo nas respostas aos seus adversários.
Os coordenadores da campanha consideram que Bolsonaro se sai bem no improviso e sua autenticidade nas respostas tem força com o eleitorado. O discurso deve defender seu plano de governo, que, segundo ele, tem de começar com um combate mais severo à corrupção. Segundo o deputado federal e filho do presidenciável, Eduardo Bolsonaro, o seu pai está preparado para rebater de pronto ataques:
— Talvez os opositores dele já tenham se dado conta que não é a melhor ideia atacá-lo, porque as respostas de bate-pronto, respostas inusitadas, elas surtem um efeito contrário ao que os adversários desejam.
MARINA CONTRA O CENTRÃO
Já a equipe de Geraldo Alckmin (PSDB) está entre duas escolhas que deverão ser feitas pelo tucano. A primeira diz respeito ao conteúdo, que passa por eleger o adversário preferencial para um confronto ao vivo. No debate de hoje, não haverá participação de um petista, portanto, a tendência é que Alckmin, se for polarizar com algum adversário, escolha Bolsonaro.
A segunda escolha a ser feita é sobre a forma como ele se apresentará. O trunfo de Alckmin é vender-se como o político mais preparado para governar. O ex-governador não é de rompantes, e aliados dizem que ele se mostrará assertivo, mas sem ser agressivo.
Segunda colocada nas pesquisas sem Lula, Marina Silva (Rede) tem outra perspectiva.
Sua campanha a considera calejada em debates e, portanto, não precisa de uma preparação extra. Professora de História antes de entrar para a política, a ambientalista passou o dia se preparando para o primeiro debate na televisão relendo o esboço de seu programa de governo. Marina estudou a estratégia que adotará com cada um dos adversários, mas não fez um treinamento de mídia formal, como publicitários gostam de fazer, simulando um debate.
A estrutura da campanha da ex-senadora não conta com um marqueteiro, ao contrário de seus adversários. Marina montou sua estratégia acreditando que o debate não deverá ter a polarização entre PT e PSDB.
Em 2010 e 2014, a ex-ministra se apresentou como uma espécie de terceira via. Contudo, em declarações recentes, Marina tem trabalhado para evitar a impressão de que fica “em cima do muro” e vem se contrapondo de forma mais forte ao que chama de “velha política”.
Um dos principais alvos de ataques é a aliança entre Alckmin e o centrão.
Ciro Gomes, do PDT, foi orientado por sua equipe e por aliados a tentar controlar o pavio curto no debate. Os exageros verbais têm sido o calcanhar de aquiles de Ciro na campanha.
— Estamos tentando ver se ele passa uma tranquilidade maior — disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.
O objetivo, segundo auxiliares, será mostrar a diferença de suas ideias e de seu projeto em relação aos demais candidatos, e não partir para o ataque.
O senador Alvaro Dias (Podemos) será o primeiro a fazer pergunta, mas não quis revelar quem será seu alvo. O parlamentar diz que não precisa fazer uma preparação especial porque todo candidato deve estar sempre pronto a debater os principais temas do país.
MAIS BÍBLIA
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) vai passar o dia em reunião com assessores. Ele está preparado para questionamentos sobre os escândalos de corrupção do governo Michel Temer e responderá dizendo que só cuidou da economia, sustentando ser ele o responsável por retirar o país da recessão.
Guilherme Boulos, do Psol, tem três objetivos hoje: não ficar preso às polêmicas da esquerda como a prisão de Lula e as crises na Venezuela e Nicarágua; criticar o governo Temer e mostrar o “mal que o golpe causou”; e contrastar essas críticas com propostas do partido.
Cabo Daciolo, do Patriota, é muito espiritualizado, segundo sua assessoria, e a preparação para o debate está centrada no aumento do número de horas de oração e estudo da Bíblia.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DOS DEBATES:
10/08 - TV Bandeirantes
17/08 - RedeTV
27/08 - Jovem Pan
09/09 - TV Gazeta
19/09 - Veja
20/09 - TV Aparecida
26/09 - SBT
30/09 - Record
04/10 - Globo
Silvia Amorim, Jussara Soares, Dimitrius Dantas, Eduardo Bresciani, Jeferson Ribeiro e Fernanda Krakovics, O Globo