A exatamente três meses do primeiro turno da eleição presidencial, a incerteza quanto ao resultado é a mesma de há seis meses ou de há um ano. Pelas mãos de Lula ou de outro o PT voltará ao poder? A extrema direita e seu saudosismo da ditadura militar triunfará? O centro, que sempre foi competitivo, ficará de fora? Dessa vez Marina Silva vai? E como ficará a tentativa de Ciro Gomes de unir a centro-esquerda à centro-direita? Uma certeza, no entanto, é possível ter desde já: não haverá renovação, seja na Presidência da República, seja no Congresso.
Se houvesse uma casa de apostas no Brasil, e se as apostas fossem sobre o resultado da eleição de 7 de outubro, poderia até haver favoritos. Mas todas as possibilidades deveriam ser levadas em conta a julgar pelo que já fizeram os que melhor pontuam nas pesquisas sobre intenção de votos.
Não dá para dizer que sem Lula o PT perdeu a competitividade. Se o ex-presidente não conseguir o registro de sua candidatura, pois enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o nome que ele indicar tem possibilidades concretas de passar para o segundo turno. O PT foi vitorioso na estratégia política de manter o nome de Lula na disputa, mesmo preso. Tanto é que os institutos de pesquisa continuam oferecendo ao eleitor o nome do ex-presidente. E quando se fala em recursos de Lula ao STF, passa-se à sociedade a ideia de que se trata de algo a respeito das condições de elegibilidade dele, não da ação penal pela qual foi condenado. E o plano B petista, o ex-prefeito Fernando Haddad, pontua bem quando é dito que ele seria apadrinhado por Lula.
O deputado Jair Bolsonaro (PSL) consolidou sua posição e tem condições de chegar ao segundo turno. Se conseguir a aliança com o PR e o senador Magno Malta (ES) de vice, tem condições de crescer. Avançará sobre parte do eleitorado evangélico e terá na chapa o reforço de um aliado que, como ele, se apresenta como a antítese do PT e de Lula. É possível até que nesse papel de inimigo dos petistas Malta consiga ser mais convincente do que o próprio capitão reformado do Exército.
Marina Silva está um pouco diferente das eleições anteriores das quais participou. Procura apresentar-se como uma pessoa de paz, que não está disposta a entrar em briga com quaisquer dos lados da disputa. O problema dela é que seu partido, a Rede, tem uma estrutura partidária insignificante, seu tempo de propaganda na TV é ínfimo e seu quinhão no fundo eleitoral é quase nada. Ela procura se socorrer nas redes sociais. Mas serão suficientes para se contrapor ao poderio e alcance da TV aberta?
Ciro Gomes, do PDT, tem marcado uma posição clara. Aproxima-se ao mesmo do tempo do empresariado nacional, com acenos de redução nos juros e controle do câmbio, e das corporações sindicais de trabalhadores, ao dizer que vai rever parte da reforma trabalhista. Ciro tem um projeto ousado, de aliança com a centro-esquerda, no caso o PSB, e com a centro-direita. Se conseguir esse objetivo, tem condições de passar ao segundo turno.
Geraldo Alckmin, do PSDB, tem alguns problemas sérios pela frente. Ele não consegue passar para o eleitor – e ele mesmo diz isso – que é candidato a presidente. A isso atribui o fato de patinar nas pesquisas sobre a intenção de votos. É preferido do mercado, por defender as reformas e o controle fiscal, e é tido como o nome mais capaz de fazer a transição política do País, tirando-o da divisão em que se encontra, por ter perfil moderado e conciliador. Mas Alckmin não consegue convencer nem mesmo partidos identificados com ele do ponto de vista programático de que dará a volta por cima e melhorará sua situação nas pesquisas eleitorais.
O Estado de São Paulo