Depois de quatro anos no vermelho, os Correios conseguiram lucrar R$ 667 milhões no ano passado. Mesmo com o resultado, a estatal terá de se desfazer de imóveis espalhados pelo país. A medida faz parte do plano de reestruturação da companhia, que já inclui ações como o fechamento de agências e a demissão de funcionários. Serão postos à venda os prédios da sede da companhia, centros culturais e até o Museu do Selo. A expectativa — considerada otimista até mesmo dentro da empresa — é levantar R$ 2,1 bilhões com as operações.
Serão ofertados 21 imóveis. São 560 mil metros quadrados de prédios vazios ou ocupados, além de terrenos. As ofertas estão localizadas no Rio, em São Paulo, no Paraná, em Minas Gerais, na Bahia e no Distrito Federal. São Paulo concentra a maior parte do patrimônio à venda, com 14 propriedades. A estimativa é que somente a sede dos Correios no Rio renderia mais de R$ 500 milhões. O Centro Cultural no Rio poderia render mais R$ 21,5 milhões. A avaliação é que a estatal tem muitos imóveis em áreas centrais. É o caso do edifício sede em Brasília e do museu, que ficam bem no centro da capital federal.
A mudança de estratégia não significa que os Correios vão fechar centros culturais.
Segundo a assessoria da estatal, não há previsão de acabar com os espaços, mas também não há expectativa de aluguel de novos prédios para essa atividade. Uma das possibilidades é usar estruturas menores que já existem.
— Tem imóvel que não faz mais sentido mantermos, porque não nos atende mais. Ficar com ele, enquanto precisamos de dinheiro, não faz sentido — comenta uma fonte dos Correios.
Ao todo, os Correios têm 2.253 imóveis espalhados por todo o país. A estimativa é que esse patrimônio valha algo em torno de R$ 5,2 bilhões. Por outro lado, a empresa aluga 4.553 imóveis de terceiros. Para isso, gasta R$ 342 milhões por ano.
“A empresa está colocando à venda, por meio de processo licitatório, imóveis que atualmente não podem ser utilizados nas atividades compreendidas em seu objeto social. A alienação, em todo território nacional, faz parte da política imobiliária dos Correios de otimizar a carteira de imóveis e reduzir custos vinculados à conservação e manutenção de prédios, apartamentos e terrenos ociosos”, afirmou os Correios por meio de sua assessoria.
Ainda não há previsão para o início das vendas, pois os editais ainda estão em fase de elaboração.
BUROCRACIA DIMINUI ATRATIVIDADE
Para analistas, a estratégia da estatal faz sentido, principalmente considerando que esse tipo de operação tende a ter como foco grandes investidores. Com a taxa básica de juros na mínima histórica, em 6,5% ao ano, o mercado tem buscado diversificar investimentos.
Mas, como o setor imobiliário ainda está desaquecido, a empresa deve estar preparada para vender barato: os preços devem ser menores do que os praticados antes da crise.
— Pode ser que a empresa não consiga os preços que conseguiria em outro período, mas existe um movimento de interesse dos fundos de investimento em ativos imobiliários — avalia Cláudio Hermolin, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi).
Na avaliação de Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, a velocidade da venda é outro fator a ser considerado. Segundo ele, a tendência é que os negócios sejam fechados mais rapidamente se a empresa decidir vender o imóvel e continuar ocupando o espaço, oferecendo ao comprador um contrato de aluguel de longo prazo.
— Se eles venderem alugando, estão vendendo renda. Aumentam as chances e a velocidade de vendas. Se venderem sem essa garantia, vão para o mercado imobiliário normal, que vive momento muito adverso — afirma o especialista.
Hermolin, da Ademi, observa ainda que a atratividade vai variar de acordo com o custo associado à burocracia — segundo ele, um problema crônico em vendas e leilões de ativos de estatal. Se os Correios conseguirem minimizar esses problemas, ganharão pontos com o mercado na hora de achar compradores:
— Historicamente, o mercado imobiliário sempre se deparou com problemas em imóveis públicos, como dívidas e trocas de titularidade.
Em outras ações para recuperar o equilíbrio financeiro da companhia, a empresa confirmou, no mês passado, a intenção de fechar 513 agências, com a demissão de até 5.300 funcionários. Além disso, a estatal decidiu mudar as regras do plano de saúde oferecido aos funcionários.
EM DOIS ANOS, ROMBO DE R$ 5,5 BILHÕES
São medidas que tentam reverter estragos do passado. Em 2015 e 2016, a estatal acumulou um rombo de R$ 5,5 bilhões. Isso foi resultado de anos marcados por uso político, má gestão, queda na qualidade dos serviços e greves.
Enquanto a empresa perdia espaço no e-commerce, as despesas cresceram. Em 2016, foram mais de R$ 12 bilhões gastos com a folha de pagamento e mais R$ 1,7 bilhão com plano de saúde e benefício pós-emprego.
No governo Lula, indicações políticas levaram a empresa para o centro do escândalo do mensalão. No governo Dilma, a empresa começou a ter problemas de caixa por causa da sua ideia de represar reajuste de tarifas para conter a inflação. Além disso, tirou R$ 3 bilhões em dividendos em três anos, o que deixou a estatal sem condições de investir.
Gabriella Valente e Marcello Corrêa, O Globo